Crítica

Trabalho de estreia da diretora Julia De Simone, Romance de Formação é um documentário nacional estruturado nos moldes mais tradicionais do gênero, mas que ainda assim consegue se destacar pelo viés positivo com que encara o seu foco de estudo. O objetivo aqui é acompanhar quatro jovens brasileiros durante seus períodos de estudo, os sacrifícios que foram obrigados a fazer em nome de uma educação melhor e como, sem auxílio do governo, caridade ou sorte, mas sim baseados apenas no talento individual de cada um, conseguiram se destacar em suas áreas. O filme, dessa forma, consegue evidenciar um lado positivo da nossa população, apoiado no cidadão, e não no coletivo. Estaria aí o segredo para o nosso futuro enquanto nação?

A sinopse do longa é bastante direta e objetiva: “quatro estudantes vivem, no dia-a-dia, seus sonhos e anseios de uma vida e profissão de grandes realizações. Neste percurso, eles alcançam muitas conquistas e deixam para trás várias ilusões”. Bom, qualquer um que já passou pelo ensino superior meio que se encaixa nesse perfil. Então, o que faz Romance de Formação uma obra que mereça ser conhecida? A escolha destes jovens. Afinal, por mais amplo e popular que o ensino seja no nosso país, quanto mais alto o nível de educação menor é a quantidade de pessoas que o alcança. E mais rarefeito ainda é o número daqueles que possuem a oportunidade de concluírem sua educação no exterior, caso de três dos adolescentes aqui selecionados. E estas, com trajetórias tão comuns, conseguem se tornar extraordinários graças ao olhar preciso e abrangente da cineasta.

Victoria Saramago foi aos Estados Unidos fazer seu doutorado de literatura e hoje é professora e escritora. William Cortopassi, graduado em química em Minas Gerais, foi morar no Rio de Janeiro para estudar farmacologia. Fábio Martino desde pequeno revelava um talento incomum para a música, e hoje, adulto, após ter passado uma temporada se aperfeiçoando na Alemanha, dá concertos por todo o mundo. E Caetano Altafin estuda em Harvard, EUA, onde está se especializando em direito corporativo. O filme não perde tempo investigando como cada um chegou nesse ponto, as dificuldades que enfrentaram pelo caminho ou os méritos que precisaram atingir para merecerem tal posição. Tudo é mais focado, pois, se ali estão, é porque de fato mereceram. Estamos falando de jovens, mas sem os clichês e ranços mais comuns ao tema, como violência, drogas ou rebeldia. São pessoas que se dedicaram, e por isso realizaram. E assim como elas, outros tantos o mesmo fizeram.

Romance de Formação é uma obra singular dentro do cenário cinematográfico brasileiro. É um trabalho que serve como exemplo, tanto para a juventude nacional, quanto para os demais realizadores. Deixando de lá maiores pretensões, ousadias ou devaneios grandiloquentes, De Simone mostra como é crescer dentro de grandes instituições acadêmicas, como jovens são obrigados a virar adultos em questões de meses e como esse processo, de fato, é importante na vida de cada um. Um filme que não provoca conclusões apressadas nem aponta para um ponto final no assunto. Ao invés disso, abre uma sempre válida discussão. O futuro está nas mãos dos jovens, e o segredo de um povo bem sucedido está na educação. Nem sempre estes dois andam de mãos dadas, mas essa união não só é possível como também necessária quando se quer mudar o mundo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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