Crítica

O tênue limite entre a genialidade e a loucura é o foco de Excision, ótimo filme de Richard Bates Jr. exibido no IX Fantaspoa. Inquietante, o longa baseado no curta de mesmo nome lançado em 2008 retrata a vida de Pauline, uma adolescente de 18 anos com personalidade forte, filha de mãe controladora e de pai ausente que tem basicamente uma única amiga: sua irmã mais nova, Grace, que sofre de uma grave doença nos pulmões.

Pauline (AnnaLynne McCord, excelente) é uma típica garota independente, que transita entre os mundos nerd e alternativo de uma high school norte-americana não se encaixando direito em nenhum deles – e  pouco se importando com isso. Inteligente, sarcástica, autêntica e direta no trato com os outros, tem uma visão pragmática da vida por um lado, mas por outro delira em sonhos eróticos de sadomasoquismo e necrofilia em ambientes hospitalares assépticos.

Pauline quer ser médica. Seu objetivo é nobre. Pretende tornar-se cirurgiã para um dia ajudar Grace (Ariel Winter). O problema é que a protagonista não respeita quase ninguém. Apesar de seu polimento intelectual, sua crueza, acidez e inaptidão social são desconcertantes. Bate de frente com todos, doa a quem doer. Tem um péssimo relacionamento com a mãe, Phyllis (Traci Lords), a quem desafia constantemente, e não é muito ligada no pai, Bob (Roger Bart), mesmo gostando (um pouco) dele.

Pauline ridiculariza autoridades escolares, simbolizadas pelo professor Cooper, vivido pelo grande Malcolm McDowell, e pelo diretor Campbell, interpretado pelo onipresente Ray Wise (ator de Família Nuclear, exibido no Fantaspoa em 2011, do aviltante Wrong Cops, que estreia em breve, e de Big Ass Spider, que encerra o festival deste ano no domingo, dia 19/05).

Além disso, a menina não acredita em religiões, apesar de rezar todos os dias. Sozinha em seu quarto, tem conversas muito francas e divertidas com Deus. Não acredita muito Nele, mas aos poucos vai se convencendo de sua existência. De qualquer forma, deplora o fato de ser obrigada pela mãe a ter conversas com o reverendo William, personagem a cargo do cineasta cult John Waters em uma participação especialíssima.

Pauline despreza seus colegas de escola, enfrentando patricinhas de peito aberto e não se importando com sua própria imagem ao dizer a um garoto, na frente de vários amigos, que quer perder a virgindade com ele o mais rápido possível. A história, claro, vaza para toda comunidade. Sua fama de devassa toma conta do colégio, provocando uma briga barra pesada com estudantes e uma crise familiar gigantesca. Seus pais ficam totalmente desacreditados com relação ao futuro da filha.

Na cabeça genial, complexa e desequilibrada de Pauline, o único jeito de reparar seus estragos junto à família seria realizar uma cirurgia em Grace, ajudando a irmã a recuperar a saúde e aliviando um pouco sua situação frente aos pais. Mas ela teria coragem para isso? Bom, já diz o ditado que de médico e louco todo mundo tem um pouco... Filme imperdível!

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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