Escravas da Vaidade
Crítica
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Sinopse
Toda mulher persegue a juventude eterna e a cozinheira Mei (Ling Ba) sabe disso. Seus famosos bolinhos prometem realizar esse desejo, mas a um preço altíssimo. Para a ex-estrela de televisão Qing (Miriam Yeung Chin Wah), agora casada com um rico empresário, não existe custo alto demais. Aproximando-se da meia-idade e consciente de que tudo o que conquistou depende de sua aparência, Qing está disposta a qualquer coisa para preservar sua beleza, até mesmo depois de descobrir qual o ingrediente secreto dos bolinhos de Mei.
Crítica
Na sociedade obcecada pela imagem em que vivemos, são abundantes os exemplos de pessoas que chegam aos extremos para manter a aparência de outrora, que a inevitável passagem do tempo teimaem modificar. Dequando em quando, aparecem casos de gente que, em busca de uma fonte da juventude particular, apela exageradamente para métodos reconhecidos pela comunidade médica, e outras artimanhas menos lícitas, para driblar rugas e marcas de expressão. É triste a desenfreada procura pela jovialidade eterna, pois expõe as feridas de uma coletividade que confere valor apenas ao que é bonito, presumindo-se aí, com uma boa dose de preconceito, que só há beleza na aurora dos verdes anos.
Escravas da Vaidade (parabéns à distribuidora pelo “belo” título em português), do chinês Fruit Chan, aborda exatamente esta doentia corrida contra o tempo, praticada aqui por uma atriz crente que os problemas afetivos, as puladas de cerca do marido, e a baixa auto-estima, sejam culpa de seu envelhecimento, mesmo que necessitemos apenas de uma olhadela para notá-la como bela mulher, certamente cega ao que o espelho lhe mostra. Os atores, seres muitas vezes egóicos, parecem afetados particularmente por esta síndrome da não aceitação do natural transcorrer temporal. Neste tocante, Fruit Chan não poderia ter escolhido profissão melhor para sua protagonista.
Qing, esta atriz que se contorce de um saudosismo doentio sempre que vê reprises da novela em que trabalhou no início da carreira, busca a ajuda da Tia Mei, exótica mulher, especialista em bolinhos ainda mais excêntricos, que prometem um retrocesso aos primórdios do físico da mocidade. O grande choque é dado pela descoberta dos ingredientes com que Tia Mei prepara a iguaria milagrosa, uma pancada para os mais sensíveis ou para as gestantes (?), como previne a capa do DVD nacional. Não convém ir além, para que não se estrague a experiência dos que ainda não viram.
Título certamente condenado às prateleiras mais escuras das locadoras, ou ao limbo dos lugares menos privilegiados dos sebos, Escravas da Vaidade é um filme que ilumina, de forma bastante singular, os limites que as pessoas estão dispostas ultrapassar pelo retorno da efêmera juventude. Originalmente parte do coletivo de médias Três Extremos, que propunha filmes de horror (ótimos por sinal) vistos através de lentes orientais, Escravas da Vaidade funciona ainda mais na versão estendida. Fruit Chan exibe, com elegância parcimoniosa, tanto seus movimentos de câmera, quanto uma doce inclinação pela exposição do sangue e da crueza de nosso comportamento selvagem em busca de aceitação. Ou alguém ainda duvida que tenha gente (homens e mulheres) disposta a tudo, a literalmente tudo, para rejuvenescer uns bons anos?
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