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Sinopse

Adonis Johnson, filho do campeão de boxe Apollo Creed, pede a Rocky Balboa, que está aposentado, para ser seu treinador. Rocky aceita, mas tem dúvidas se Adonis tem o coração de um verdadeiro lutador.

Crítica

Segredos não foram feitos para durar em Creed: Nascido para Lutar. Pra começar, temos o próprio título do filme, que dá a impressão de ser um longa completamente original, mas na verdade trata-se do sétimo capítulo de uma saga muito anterior: Rocky! Sim, estamos falando da história iniciada por Rocky: Um Lutador (1976), longa vencedor de 3 Oscars (Melhor Filme, Direção e Montagem) e que consagrou o nome de Sylvester Stallone como astro. Depois temos o protagonista Donnie Johnson, que não é ninguém menos do que Adonis, filho de Apollo Creed, rival (nos ringues) e amigo (na vida) de Rocky Balboa. E por fim o próprio dilema que envolve Balboa, aqui se contentando com uma posição coadjuvante, porém não menos especial. A conjunção desses fatores resulta em um filme que envolve sem exageros, ainda que longe de ser revolucionário (algo que, felizmente, nem tenta ser).

Qualquer dúvida sobre o que está por vir nas próximas duas horas é esclarecida logo nas primeiras cenas. Donnie é um garoto-problema que passou a infância indo de um orfanato a outro. Filho ilegítimo do campeão Apollo Creed – que morreu antes dele nascer – perdeu a mãe logo cedo e foi criado por instituições do governo até ser adotado por ninguém menos do que Mary Anne Creed (Phylicia Rashad, de seriados como Cosby, 1996, e Psych, 2007), que supera qualquer sentimento de ultraje e leva o menino para casa. Já adulto (e agora na pele do ótimo Michael B. Jordan), ele não consegue se contentar com uma vida de escritório, e decide largar tudo, sair do conforto familiar e abandonar Los Angeles para ir até Filadélfia encontrar Rocky Balboa (Stallone), o único homem que pode ajudá-lo a conquistar seu sonho: ser um campeão nos ringues, tal qual seu pai um dia foi. Mas essa jornada, obviamente, será mais longa e menos tranquila do que o novato poderia imaginar.

O diretor Ryan Coogler mostra que não está para brincadeiras logo de partida. Em uma das primeiras – e mais impressionantes – sequências, acompanhamos o protagonista em uma de suas lutas iniciais, em Tijuana, México. O ambiente é sujo, a legitimidade do combate é zero, mas o cineasta oferece ao espectador um eletrizante plano sequência pelos dois rounds do confronto, revelando sem meandros o virtuosismo de sua câmera e o comprometimento de seu astro principal. Coogler e Jordan estiveram juntos antes no ótimo Fruitvale Station: A Última Parada (2013), e agora retomam essa parceria aumentando suas ambições. E o esforço de ambos está explícito na tela. Eles não apenas são respeitosos com tudo que os seis capítulos anteriores fizeram pela saga, como também estão à altura para carregar o taco adiante. E deste ponto até o emocionante desfecho, cada momento se apresenta como uma peça de uma engrenagem que termina por funcionar com inusitada precisão.

Creed recorre à Balboa para que este seja o seu treinador. O garoto quer vencer pelos próprios méritos, mas também não é bobo a ponto de não reconhecer o talento que fez a fama de seu pai – e que pode ser, também, a origem do seu próprio. O encontro dos dois se dá não sem surpresas, mas logo estão inseparáveis. Rocky, no entanto, não é apenas um adereço de luxo. Ele possui uma história pessoal, reverente ao seu passado – a esposa que morreu, o antigo treinador que se foi, o filho que o deixou, o restaurante que administra, as lutas que ganhou e que perdeu – e em dúvida quanto ao futuro: seguir lutando ou simplesmente deixar para trás? Com essa artimanha, Coogler – também autor do roteiro, ao lado de Aaron Covington (aliás, este é o primeiro filme da série que não foi escrito por Stallone) – faz a união dos dois ser benéfica para ambos, estabelecendo uma relação de dependência, amizade e quase de pai e filho. A emoção, como não poderia ser diferente, acaba dando as cartas por último.

Creed: Nascido para Lutar é comovente sem ser piegas, eletrizante sem ser ousado e moderno sem esquecer tudo que foi feito antes. É um filme redondo, feito com carinho e muita vontade de entreter e agradar com o básico, porém sem se render ao óbvio. Stallone, aparecendo de forma corajosa e sabiamente abrindo caminho para talentos mais jovens, tem sua melhor atuação em décadas (talvez desde... Rocky: Um Lutador?) e Michael B. Jordan é um astro nato, pronto para voos cada vez maiores (afinal, quem ainda lembra de Quarteto Fantástico, 2015?). Uma combinação que tinha tudo para dar errado, mas que surpreende justamente pelo contrário, com simplicidade, competência e segurança. Fórmula essa que nunca será ultrapassada.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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