Crítica

Representante oficial da Tailândia no Oscar, o primeiro longa-metragem de Josh Kim tem uma grande qualidade ao se inserir numa produção de gênero. No caso, filmes com temática LGBT. Para o cineasta, o que menos importa é a sexualidade de seus personagens, tanto que estes são apresentados como amplamente aceitos por aquela sociedade, que desde 1956 descriminalizou a homossexualidade no país. O fato dos protagonistas não pertencerem à classe heterossexual cisnormativa é um grande avanço nas narrativas que apresentem o tema, já que a maioria delas (ao menos, as ocidentais) ainda lida com a luta contra o preconceito como arma primordial em suas sinopses. Ao tentar focar a história nas diferenças de classes do país, porém, o diretor apresenta os temas, mas não os desenvolve. Ao menos, não de uma forma inteiramente satisfatória.

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O ponto de partida é o jovem Oat, que de criança feliz começa a ter pensamentos mais sérios ao ver que o irmão mais velho, Ek, é convocado para a seleção do exército tailandês, que está lutando contra insurgentes separatistas ao sul da Tailândia. A única forma de escapar deste concurso é, literalmente, pagando por fora, num caso explícito de corrupção dentro da corporação. Ao mesmo tempo que o Oat se insere num submundo para garantir a vida do irmão, ele precisa lidar com a traição do namorado de Ek, o afortunado Jai.

Com uma câmera que desfila entre o realismo documental das ruas e sociedade tailandesas e o simbolismo visual que representam as esperanças daqueles jovens, Kim apresenta um grande e renovado talento na decupagem de seu material, causando frescor em uma história que poderia cair no mais do mesmo se fosse um diretor com maiores vícios usuais de linguagem audiovisual. A qualidade técnica de sua obra, ao lado das grandes atuações de seu elenco, chamam mais a atenção que seu discurso. Por horas, o debate parece mais vazio do que o mostrado, tornando o show de imagens quase que um verniz para um conteúdo que parece ficar no meio do caminho.

A trajetória de Oat no submundo tailandês e seu envolvimento com um gangster de Bangkok são um choque de realidade para a perda total da inocência e um olhar desiludido do diretor com a sociedade apresentada. Afinal, vale tudo para crescer na vida? São os velhos valores do capitalismo colocados em xeque, onde numa selva de pedra, quem tem mais ouro é que ganha o andar mais elevado – literal e figurativamente falando. O que é representado de forma explícita ao fim do filme pelo olhar de um personagem, já anos depois do ocorrido, do alto de um rico prédio.

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Ao mesmo tempo, este mesmo discurso parece tratar tudo de forma superficial, entrando em choque com o tom naturalista que a fita se propõe no início. O preenchimento da narrativa com subtramas como um amigo transgênero parece esvaziar ainda mais o que está sendo debatido pela falta de foco apresentada. Ainda com estas falhas, o longa de Josh Kim apresenta um cineasta com grande domínio sobre as imagens e que tem um futuro ascendente pela frente, devendo apenas cuidar para que o ego não tome conta das histórias a serem contadas. Afinal, este é o grande erro de uma nova geração que pode estar mais preocupada com o parecer e não o fazer. Grupo ao qual, aparentemente, Kim parece não pertencer. Afinal, como o próprio título de sua obra já afirma, esta é uma das formas de vencer no jogo. Só que, na realidade, nem sempre.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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