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Sinopse

Depois de 12 anos trabalhando nas ruas como motorista de taxi, Max pega Vincent como passageiro e vê sua vida mudar em segundos. O sujeito desconhecido é um assassino de aluguel que está na cidade para completar o plano de um cartel do narcotráfico, ou seja, Max tem de conduzir pela madrugada numa senda de mortes e medo.

Crítica

Tom Cruise não é um mau ator. Seu problema foi ser alçado à condição de astro ainda muito jovem – talvez o maior que o cinema hollywoodiano já conheceu. Isso o colocou em evidência exageradamente, limitando suas boas atuações e enaltecendo seus mais evidentes maneirismos interpretativos. É fácil percebê-lo explorando ou aquele sorriso cheio de dentes, ou a sobrancelha arqueada, ou os tiques nervosos, além de muita correria e dinamismo. Seu físico sempre foi muito importante, mas não chega a ser tudo. Quando nas mãos de um bom diretor, um cineasta que o segure e consiga explorar o que há de melhor nele, os resultados são invariavelmente positivos. Como Oliver Stone fez em Nascido em 4 de Julho (1989), Neil Jordan em Entrevista com o Vampiro (1994), e Paul Thomas Anderson em Magnólia (1999). E como Michael Mann alcançou no tenso e perturbador Colateral.

Apesar de ter flertado com personagens de moral um tanto dúbia anteriormente, Colateral representou a primeira vez em que Cruise interpretou um vilão em sua carreira. Aqui ele aparece como um assassino de aluguel frio e calculista, contratado para eliminar cinco pessoas envolvidas num julgamento sobre tráfico de drogas. Está na cidade de Los Angeles apenas para cumprir seu serviço, e assim que esse terminar irá sumir novamente. Mas, para tanto, precisará de um transporte que o leve de um lado a outro, e, por um azar do destino, o envolvido será um motorista de táxi. No papel deste está Jamie Foxx, o verdadeiro protagonista da história – ainda que, por este competente desempenho, tenha concorrido ao Oscar como Coadjuvante. A história começa e termina acompanhando Max, o profissional que tudo que quer é terminar seu dia com uns trocados a mais no bolso, cumprindo suas atividades à contento. Porém tudo irá mudar a partir do instante em que os destinos destes dois homens se cruzam.

Max (Foxx) é, na verdade, o notório efeito colateral que dá título ao filme. É ele quem mais sofre os efeitos da vinda de Vincent (Cruise) para a Cidade dos Anjos. A partir do momento que a ameaça do banco de trás de seu carro se instaura, numa mistura de sequestro e chantagem, é que a história passará a ser construída, com as tentativas desse de se livrar do perigo e, ao mesmo tempo, procurar salvar a vida da última das prováveis vítimas do matador. Em desempenhos impressionantes, Foxx e Cruise promovem um jogo de gato-e-rato angustiante e claustrofóbico, que combina perfeitamente com o ritmo imposto pelo diretor em sua narrativa. O público se identifica com o desespero de um, ao mesmo tempo que fica estarrecido com o distanciamento e a razão impregnados no jeito de ser do outro.

Com uma produção técnica esmerada, em que se destacam uma fotografia bela e deprimente, repleta de planos contemplativos e inebriantes, e uma trilha sonora dolorida e emocionante, reflexiva ao extremo, Colateral é composto por vários achados. Entre os quais, se inclui os acertos verificados na escolha do elenco, em que se destacam ainda várias participações especiais, como a de Jada Pinkett Smith e a do espanhol Javier Bardem. Elementos diversos que colaboraram para o sucesso de público e de crítica que o filme obteve, tendo sido indicado ao Oscar também na categoria de Melhor Edição, premiado no Bafta como Melhor Fotografia e no National Board of Review como Melhor Direção, além de um faturamento superior aos US$ 200 milhões nas bilheterias de todo o mundo.

Mas o melhor dessa obra singular é o esmero do realizador, que volta ao ambiente urbano característico na sua primeira produção a obter maior destaque, a série de tv Miami Vice (1984-1990). Michael Mann realiza com eficiência seu melhor trabalho. Cenas como o tiroteio na boate ou a sequência final de perseguição dentro do prédio são não menos que perfeitas, combinando com destreza elementos caros ao entretenimento e à arte. Com personagens bem desenvolvidos, uma câmera que coloca o espectador dentro da ação e um senso raro que une qualidade com diversão, Colateral merece não apenas ser descoberto, mas também valorizado e aplaudido.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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