Sinopse
Presos num sábado à tarde na detenção escolar, cinco estudantes são obrigados a escrever uma dissertação sobre si próprios. Mesmo que as diferenças sobressaiam num primeiro momento, aos poucos eles percebem ter mais em comum do que imaginavam.
Crítica
A classificação taxativa sempre foi, ao mesmo tempo, perseguida e utópica por natureza. Perseguida, pois tendemos a enquadrar pessoas dentro de padrões pré-definidos que, em tese, as tornam previsíveis e, portanto, mais fáceis de entender. Utópica, porque não há maneira infalível de ordenar a complexidade inerente à nossa raça sem incorrer em reduções graves. Claro, além disso, de tal tentativa surgem os pré-conceitos. Se alguém pertence à determinada tribo, dele se espera comportamentos específicos e condizentes com seus “semelhantes”. Muitos filmes passado em ambientes escolares deixam essa situação evidente, uma vez que escancaram justamente a construção dos arquétipos diluídos levemente no protagonismo adulto.
Em Clube dos Cinco, o cineasta John Hughes não evita a existência dos estereótipos, ao contrário, os expõe da maneira mais ordinária possível para, depois e aos poucos, desconstruí-los. Sábado pela manhã, cinco jovens se encontram na sala de detenção a fim de cumprir quase nove horas de penalização por algo cometido. Claire, a princesinha (Molly Ringwald), Andrew, o atleta (Emilio Estevez), Allison, a estranha (Ally Sheedy), Brian, o nerd (Anthony Michael Hall) e Bender, o marginal (Judd Nelson), são incumbidos de escrever redação sobre eles mesmos, isso vigiados de perto pelo professor Vernon (Paul Gleason). O começo é intimidador, não há qualquer ligação entre os presentes e, deste modo,surgem animosidades na ordem pretensamente regida pelo poder da escola, aliás, instituição propensa à disciplina robótica acima da educação e do desenvolvimento de potencialidades individuais.
Longe do maniqueísmo, Hughes aproxima os adolescentes em meio a discussões sobre virgindade, mentira, drogas, família, pressões e expectativas. Não à toa, apenas sob o efeito da maconha (então ato subversivo), eles abrirão a guarda para ouvir, compreender e aceitar o outro. Constata-se que não há medida de sofrimento, todos são afetados em graus particulares quando deparados com a violenta influência dos pais. Pensar em suicídio por tirar nota baixa, ou mesmo torturar um colega fraco para exibir-se, são faces de uma moeda cunhada de valores e preocupações exacerbados, oriundos de progenitores relapsos ou super protetores. Difícil também ser pai.
A lamentar, apenas o fato de hoje em dia haver poucos filmes ideologicamente próximos a Clube dos Cinco, ou seja, dispostos a refletir sobre os jovens e suas problemáticas, levando-os a sério. John Hughes talvez seja um dos cineastas norte-americanos melhor sucedidos na improvável (e difícil) combinação entre diversão de massa e conteúdo relevante no que tange à adolescência. Esse marcante sábado no qual Claire, Andrew, Allison, Brian, e Bender deveriam apenas cumprir castigo, voltando, logo após, à solidão das pressões diárias, dos preconceitos e das categorizações redutoras, inadvertidamente os muda. Juntos, assinam um manifesto que aponta à maturidade recém-adquirida por cidadãos agora cientes das proximidades insuspeitas que residem nas evidentes diferenças. Tal consciência os torna, no mínimo, mais preparados para crescer sadios (até onde é possível) nesse mundo doente.