Crítica

O filme escolhido para o lançamento do Fantaspoa 2013, em sessão especial para a imprensa em Porto Alegre, foi o romance de ficção científica com toques de thriller Aurora (2012), de Kristina Buožytė, ainda inédito na América Latina. A co-produção de Lituânia, França e Bélgica é uma viagem contemplativa pelo universo surreal do inconsciente humano. Lento, denso, cheio de silêncios e de informações subentendidas, o longa tem como ponto alto a delicada fotografia e a belíssima direção de arte.

Em uma experiência de ponta, uma equipe de especialistas procura desvendar os mistérios da mente de uma paciente em coma ao conectá-la a um homem saudável. Lukas (Marius Jampolskis), o voluntário, é também cientista integrante da mesma equipe que está tratando Aurora (Jurga Jutaite).

A meta do projeto é proporcionar a transferência neural entre ambos. Assim, Lukas é inserido na mente da garota para fazer o reconhecimento do campo neurológico e gerar dados para a pesquisa. Mas ele passa a relacionar-se com Aurora de uma forma tão intensa quanto surreal.

A forte paixão que surge entre os dois provoca a deterioração de seu casamento e coloca em risco a própria experiência, já que o cientista decide omitir as vivências virtuais que tem com a paciente durante o estado de suspensão. Além de estar obcecado por Aurora, Lukas quer descobrir o real motivo para ela ter entrado em coma, bem como quem é o misterioso homem que também frequenta a mente dela.

As opções visuais propostas por Kristina Buožytė são geniais, da cenografia do mundo real às várias concepções da dimensão mental de Aurora, passando pelos grafismos computadorizados e pelo apurado tratamento de cor e luz. Ao mesmo tempo, o hermético roteiro assinado por Bruno Samper e pela cineasta tem inegáveis traços de cinema de arte.

Aurora foi o vencedor do Meliès de Ouro, o prêmio máximo do cinema fantástico, e de mais oito distinções pelo mundo. Porém, a ultradensidade e a profunda reticência das personagens, que demoram a dar sinais mais concretos de suas personalidades, assim como o enigmático enredo e sua longa duração, tornam a fruição do filme um verdadeiro desafio.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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