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Sinopse

Hugo tem 12 anos e passa a viver numa estação de trem em Paris no início do século 20 depois que seu pai, um relojoeiro, morre, mas não sem antes apresenta-lo a um androide. Começa uma aventura para entender o artefato.

Crítica

Uma aula de História. Uma declaração de amor ao cinema. O mestre dos filmes violentos estreando na ficção infantil. Um dos gênios da cultura audiovisual atual em sua primeira aventura na tecnologia 3D. Várias são as formas de se apresentar A Invenção de Hugo Cabret, longa de Martin Scorsese campeão de indicações ao Oscar 2012, mas nenhuma delas dará conta de todos os méritos desse filme inacreditável. Simples e impressionante, moderno e reverente ao passado, maduro e pueril, esta é uma obra que vale mais por tudo que representa do que pelo que apresenta em si. Enquanto história, é bonita e competente, mas também convencional e previsível. Já como experiência fílmica é daquelas que permanecerá com o espectador por muito tempo após o término da projeção, tamanho será o impacto das imagens apresentadas e das qualidades reunidas.

Dono de 10 indicações ao Oscar em toda a sua carreira, Scorsese poderá levar mais duas estatuetas esse ano, nas categorias de Melhor Filme e Direção. E se por um lado esse não seria o resultado mais justo (A Árvore da Vida ou O Artista são mais merecedores), por outro é certo que ninguém ficará contrariado com essas escolhas, pois o trabalho aqui apresentado é exemplar. Baseado no livro homônimo de Brian Selznick – que, aliás, é um sobrinho distante de David O. Selznick, um dos pioneiros de Hollywood, produtor de clássicos como ...E O Vento Levou (1939) e King Kong (1933) – A Invenção de Hugo Cabret até pode ser apresentado como uma fábula indicada para as crianças, mas isso é, acima de tudo, um reducionismo, pois trata-se de um enredo absolutamente sem contraindicações, recomendado para públicos de todas as idades.

Hugo Cabret (Asa Butterfield) é um órfão que mora nas engrenagens dos relógios da estação central de trens de Paris, na virada do século XX. A mãe morreu quando ele era muito pequeno, o pai (Jude Law, em participação afetiva) faleceu em um incêndio e o tio (Ray Winstone, também aparecendo rapidamente), que ficou como seu responsável, foi encontrado bêbado no fundo do Sena. Tudo o que o garoto precisa para não ser descoberto e enviado a um orfanato é manter os relógios funcionando, permanecer invisível aos olhos do guarda (Sacha Baron Cohen) e conseguir as peças que lhe faltam para consertar a última descoberta deixada pelo pai, um autômato (robô) que pode conter um importante segredo. Nessa missão ele tem como mira a loja de brinquedos do Sr. Georges (Ben Kingsley, como sempre impecável), mas ao tentar um novo furto é pego e seu plano desfeito. Em desespero, acaba contando com a ajuda da sobrinha do seu algoz, Isabelle (Chloë Grace Moretz). Juntos, os dois irão descobrir uma magia inesperada: a do próprio cinema!

Afinal, o Sr. Georges é ninguém menos do que o célebre Georges Méliès, um dos principais promotores do início da sétima arte. Um dos primeiros homens a apostar no cinema como cultura e de explorar ao máximo o seu potencial – ao menos para a época – com a chegada da Primeira Guerra Mundial foi relegado ao esquecimento e teve seus sonhos transformados em pó. Mas não para todo o sempre, e esse é um dos principais feitos de A Invenção de Hugo Cabret: recuperar não só o talento de Scorsese como um cineasta capaz de se comunicar com os mais amplos públicos, como também resgatar a própria magia do cinema. Sua longa duração (são 126 minutos) pode parecer excessiva em alguns momentos (e, de fato, o é), mas no balanço final esses pequenos deslizes são recompensados por um dos visuais mais fantásticos dos últimos tempos, com um uso aprimorado dos efeitos 3D (desde Avatar, 2009, não se vê um produto com igual primor) e, principalmente, por uma história que sabe combinar com habilidade todos os elementos de um bom programa, do início ao fim, sem escorregar no melodrama e ainda assim emocionar como poucos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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