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Sinopse

Por acidente, Dave Skylark, um famoso apresentador de um programa de televisão, e seu produtor, Aaron Rapaport, são envolvidos nos planos para assassinar o presidente da Coreia do Norte.

Crítica

Até pouco tempo atrás, A Entrevista era apenas mais uma comédia que reunia novamente James Franco, Seth Rogen e Evan Goldberg, cuja parceria já rendeu longas divertidos como Segurando as Pontas (2008) e É o Fim (2013). Mas nas últimas semanas o filme virou o centro das atenções quando um grupo de hackers que vêm infernizando a vida da Sony, estúdio responsável pelo projeto, ameaçou realizar ataques terroristas nos cinemas que o exibissem, o que chegou a fazer com que sua estreia nos cinemas, ao menos num primeiro momento, fosse cancelada por completo. Tudo porque a história traz um retrato satírico do ditador norte-coreano Kim Jong-un. Mas depois de toda a confusão, a produção foi lançada em algumas salas e em plataformas na internet, numa jogada um tanto frouxa por parte de seus envolvidos, mas que ao menos venceu uma das maiores inimigas da arte (a censura) e fez a obra chegar ao alcance do público. De qualquer forma, teria tudo isso sido em volta de um bom filme ou de uma bobagem que esqueceríamos assim que chegássemos aos créditos finais?

Escrito por Dan Sterling a partir do argumento concebido por ele em parceria com Rogen e Goldberg (que ficaram a cargo da direção), A Entrevista acompanha o apresentador Dave Skylark (Franco) e seu produtor Aaron Rapaport (Rogen), responsáveis pelo famoso talk show Skylark Tonight, no qual segredos obscuros das celebridades são revelados. Ao decidirem trazer um conteúdo relevante para seus telespectadores, a dupla descobre que Kim Jong-un (Randall Park) é um grande fã de seu trabalho, conseguindo uma entrevista exclusiva com o sujeito. No entanto, as pretensões dos dois mudam um pouco quando a CIA, liderada pela agente Lacey (Lizzy Caplan), resolve usá-los em seu plano para matar o ditador, que aparentemente pode ser uma figura mais sensível do que o imaginado.

Ao longo da história, A Entrevista se revela uma comédia que usa um humor estúpido e infantil, aspecto que poderia ser um grande demérito à primeira vista. Mas, na verdade, isso é uma das principais qualidades do projeto nas mãos de Evan Goldberg e Seth Rogen, sendo utilizado com inteligência para provocar riso a partir dos atos dos personagens. Assim, vale dizer que os diretores são muito bem sucedidos na maior parte do tempo, desde situações inocentes (como quando Dave chega na Coreia do Norte e termina seu discurso com um “Konichiwa”) até àquelas que ultrapassam limites do absurdo (como a junção de um tanque de guerra com uma música de Katy Perry), sabendo aproveitar ainda a ótima dinâmica entre o próprio Rogen e James Franco, o que é comum em se tratando deles.

Enquanto isso, o retrato que o roteiro produz de Kim Jong-un e seu regime totalitário não poderia ser mais curioso, já que de modo geral ele os encara da maneira como são, mas conseguindo fazer graça pelo jeito que opta para cutucá-los. Aqui, Jong-un é alguém que busca passar uma imagem hagiográfica de si mesmo para a população (a ideia envolvendo seus sistemas excretor e urinário é inspirada nesse sentido) e cujos atos desprezíveis vêm de um sério problema emocional, consequência de como ele era tratado pelo pai, sendo mais delicado do que qualquer um poderia esperar. E mesmo que a maioria das críticas ao filme se direcione ao ditador, é uma grata surpresa constatar que o roteiro também não se esquiva de fazer comentários internos, mencionando, por exemplo, o modo como os Estados Unidos geralmente gostam de resolver seus problemas.

A Entrevista é um filme cuja coragem surpreendente é utilizada a serviço de um trabalho divertido em seus excessos e relevante em seus comentários. E se é lamentável o fato de sua distribuição ter encontrado problemas pelo caminho, ao menos isso foi compensado pela curiosidade das pessoas quanto a assisti-lo.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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