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Sinopse

Recém-formado em cinema, mas longe de conseguir uma posição no mercado, Diego se vê obrigado a registrar casamentos para sobreviver. Enquanto tenta começar o seu primeiro filme, ele precisa encarar seus medos.

Crítica

Andradina Azevedo e Dida Andrade foram colegas de faculdade, e ainda na condição de estudantes realizaram suas primeiras experiências cinematográficas, como os curtas Para que não me ames (2008), premiado no 16° Mix Brasil, e A Triste História de Kid Punhetinha (2012), premiado no 40° Festival de Gramado, entre outros. Estes trabalhos iniciais demonstravam um senso de humor particular, por vezes aguçado na ironia, em outras tantas disperso em seus interesses, mas ainda assim efetivo. Após estes reconhecimentos, nada mais natural que a dupla decidisse investir num longa-metragem. No entanto, ao invés de servir como atestado de maturidade – pessoal e profissional – A Bruta Flor do Querer beira o constrangimento, principalmente por indicar que os realizadores, ao invés de se arriscarem criativamente ao disporem de mais tempo e espaço para justificar seus discursos, os desperdiçam em brincadeiras misóginas, clichês contemporâneos e recursos ultrapassados.

O protagonista de A Bruta Flor do Querer é Diego, vivido pelo próprio Dida Andrade – seu melhor amigo em cena, obviamente, é interpretado por Azevedo. Os dois assumem, além da direção e elenco, as funções de produtores e roteiristas. A história do cinema, no entanto, nos revela que são poucos os artistas multifacetados, como Clint Eastwood, que conseguem manejar tantas atribuições numa mesma obra. E este, definitivamente, não é o caso. Como resultado, temos dois aventureiros, longe de serem bons atores, carentes de uma maior ousadia narrativa, donos de um texto pobre e sem o menor rebuscamento. Eles apresentam um projeto que, como todo, demonstra evidentes deficiências, sejam nos cenários, figurinos, locações, captação de som, música e fotografia. Enquanto experimento talvez até possua algum valor, até mesmo por indicar os caminhos que essa nova geração de cineastas formados pelas grandes e prestigiosas faculdades – e pouco afeitos ao exercício do fazer reflexivo e selvagem – estão seguindo, mas como obra independente e com algo válido a ser dito está longe.

Diego é um jovem cineasta desiludido com a profissão. Porém, como é a única coisa que sabe fazer, segue trabalhando como cinegrafista em casamentos e aniversários. Ao mesmo tempo em que lamenta suas mágoas e frustrações, nutre uma paixão platônica pela vendedora de um sebo de livros. Dividido em quatro segmentos – O Câmera-Man; Diana; A Vida é um Constante Ato de Sobrevivência; e A Queda – A Bruta Flor do Querer soa previsível desde a escolha destes subtítulos, que servem apenas para antecipar ao público o que será apresentado a seguir. A fórmula não agrega nenhuma surpresa: conhecemos o personagem principal e seu cotidiano cinzento; somos apresentados ao seu objeto de paixão; a busca por motivações para cumprir seus intentos é tão óbvia quanto malsucedida; e, por fim, percebemos que o cortejo dá errado, obrigando-o a encontrar novos motivos para seguir adiante. Se o roteiro é frágil, os atores inexperientes e os realizadores ingênuos, o pior mesmo são escolhas equivocadas que permeiam, praticamente, toda a obra.

A dupla de diretores é pouco ciente do alcance que o filme que assinam poderia ter, e justamente por isso não hesitam em provocar cenas de constrangimento alheio. A nudez – masculina e feminina – é utilizada sem parcimônia, porém nunca justificada. Os embates pseudofilosóficos dos protagonistas beiram o risível, e suas angústias e indecisões parecem mais fruto de uma existência mimada e longe da realidade. Se estes são os jovens de hoje, é de se lamentar o futuro que está sendo construído. Mas o pior é a ausência e elementos que possibilitem um diálogo entre o que está em cena com a vida real – ou seja, com quem está no lado de cá da tela. E uma vez que esta conexão não se estabelece, tudo o que temos é o vazio. Ausente de significados e de ambições, A Bruta Flor do Querer não pode nem mesmo ser considerado mais do mesmo pois, para isso, precisaria melhorar muito.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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