O diretor e roteirista Damjan Kozole é um dos principais nomes do cinema no Leste Europeu. Nascido em 1964 na cidade de Brezice, na então Iugoslávia (hoje pertencente ao território esloveno), ele estreou como realizador cinematográfico aos 22 anos com uma produção de baixo orçamento chamada Usodni Telefon, um dos primeiros filmes independentes da antiga Iugoslávia. Desde então já realizou mais de 15 trabalhos, entre longas, documentários e curtas. Rezervni Deli foi selecionado para o Festival de Berlim e é até hoje o seu título mais reconhecido internacionalmente. Já ganhou mais de 10 prêmios ao redor do mundo, e em 2005 foi tema de uma retrospectiva promovida nos Estados Unidos pelo American Film Institute, com a exibição dos seus longas em diversas cidades por todo o país, como Nova York, Chicago, Washington e Boston. Slovenian Girl, de 2009, é o seu último trabalho de ficção (desde então realizou dois documentários e um curta), e foi sobre ele que conversamos nessa entrevista realizada por e-mail.

 

Quando você teve a ideia para o filme?

No meu país, as pessoas estão convencidas de que as prostituas são garotas que vieram de outros lugares, e que as garotas eslovenas bonitas são trabalhadoras e honestas demais para escolher a prostituição como um meio de vida. No entanto, há um tempo atrás, enquanto folheava uma revista de anúncios, encontrei um de uma garota com o apelido “A Slovenian Girl” (Um Garota Eslovena). Foi quando pensei que deveria fazer um filme sobre uma jovem assim, que é bonita, mas certamente não “boa” no sentido de ser esforçada e decente, apesar dela vender essa imagem. De qualquer forma, sua verdadeira natureza seria exatamente oposta: sua ganância a levaria a adotar uma estilo de vida questionável numa sociedade em transição, e ela estaria convencida de que os fins justificam os meios. Mesmo que, no fundo, ela seja apenas uma frágil e inocente menina buscando afeto.

 

Quais foram as reações ao filme na Eslovênia?

Você pode imaginar que as pessoas não ficaram exatamente entusiasmadas a respeito de um filme que acabava com essa percepção pré-concebida a respeito das garotas eslovenas. Slovenian Girl dividiu a todos, crítica e público. Alguns críticos ficaram horrorizados e o atacaram com vigor, enquanto que a imprensa em geral o defendeu, apontando-o como a melhor produção cinematográfica eslovena em muitos anos. Independente destas opiniões contrárias, o longa teve ótimos resultados nas bilheterias aqui na Eslovênia, além de ter sido vendido a mais de 30 países. Então, é claro, estou muito feliz!

 

Slovenian Girl foi muito premiado em festivais na Europa e ao redor do mundo. Você já esperava por isso? O que pensa sobre prêmios e vitórias no cinema?

Slovenian Girl participou de diversos festivais, creio que mais de 70 até o momento, e recebeu um número considerável de troféus. É claro que estes prêmios não dizem tudo sobre o filme. Eu já vi grandes obras que não ganharam nenhum prêmio ou reconhecimento especial, e também já assisti um sem número de trabalhos desinteressantes bastante premiados. De qualquer forma, se você vem de um país tão pequeno como a Eslovênia, que tem uma população menor do que a de qualquer bairro de São Paulo (nós somos, ao todo, em menos de 2 milhões de pessoas), festivais e prêmios são muito importantes para a promoção do filme. Uma longa lista de prêmios e seleções em renomados festivais é que permitiu, sem sombra de dúvidas, que o filme viajasse tanto, inclusive até o Brasil!

CONFIRA A CONVERSA ORIGINAL (EM INGLÊS)

When did you had the idea for the movie?

In my country, people are convinced that prostitutes are girls who have come from some other country, and that Slovenians though good looking are too hardworking and honest to choose prostitution for a living.  However, a while ago, when skimming through pages of an Ads Magazine, I came across an ad under a code name “A Slovenian Girl”, and it occurred to me that I should make a film about a girl, who is good looking, but who is certainly not a good girl in the sense of being hardworking and candid, although on the outside she gives the impression of an honest girl. However, her true nature is just the opposite: her greed has led her to adopt a questionable philosophy of a society in transition and she is convinced that the end justifies all means. Even though, deep inside, she is still just a fragile and naïve girl longing for warmth.

 

What were the reactions about the picture in your country?

You can imagine that people were not over enthusiastic about a film, which busted their perception of Slovene girls. The film divided both, critics and viewers. Some critics were appalled and attacked it vigorously, while the main Slovenian paper defended it, saying that it was the best Slovenian film in recent years. Regardless of such divided opinions the film had very good box office results in Slovenia, and it sold to over 30 countries, so we are quite happy.

 

“Slovenka” was very rewarded in festivals in Europe and other places. Did you expected for that? What do you think about awards and prizes in cinema?

The Slovenian Girl has been shown at numerous festivals, over 70 by now, and it has received a decent number of awards. Of course, the awards do not tell you much about the film. I’ve seen many great movies that have not won any awards or recognition, and I’ve seen also utterly uninteresting films that have received many awards. However, if you come from such a miniature country like Slovenia, which has less population than any suburb in Sao Paulo (less than 2 millions), festivals and awards are very important for the film’s promotion. A long list of awards and admissions to renowned international film festivals no doubt helped to sell the film to so many countries, including Brazil.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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