De voz marcante e talento para o macabro, Vincent Price foi um dos principais nomes do cinema de horror das décadas de 1950 e 1960. Nascido Vincent Leonard Price Jr., em 27 de maio de 1911, em St. Louis, no estado norte-americano do Missouri, o futuro intérprete de diversas adaptações de obras de Edgar Allan Poe não sonhava com artes cênicas na tenra idade. Primeiramente estudou História da Arte, foi professor e chegou a entrar na Universidade de Londres buscando mestrado. Foi só neste ponto de sua vida, aos 24 anos, que os palcos lhe chamaram a atenção. Estreou em 1935 no teatro e fez seu debut nos cinemas três anos depois, na comédia Serviço de Luxo. Além disso, participou de programas de rádio na década de 1940 com sua inesquecível voz encorpada.

Depois de Serviço de Luxo, Price dividiria a tela com os grandes Errol Flynn, Bette Davis e Olivia de Havilland em uma produção comandada por Michael Curtis, Meu Reino por um Amor (1939), indicada a cinco Oscars. Posteriormente, estrearia no gênero que fez sua fama, o terror. Ao lado de Boris Karloff, Basil Rathbone e Barbara O’Neill, estrelou A Torre de Londres (1939) e emendou com o papel título em A Volta do Homem Invisível (1940), ao lado de Sir Cedric Hardwicke. Este namoro com os longas de horror se intensificaria nas décadas seguintes. Mas antes, o ator passearia por outros gêneros como dramas, comédias, westerns e os inconfundíveis filmes noir.

Deste último gênero, Price conseguiu bons papéis na década de 1940, dividindo os créditos com nomes como Robert Taylor, Ava Gardner, Henry Fonda, Ethel Barrymore e Charles Laughton em filmes como Noite Eterna (1947), Rosas Trágicas (1947) e Lábios que Escravizam (1949). Depois de ter passeado por algumas produções de televisão, finalmente encontrou personagens pelos quais seria eternamente lembrado – em produções, lógico, de terror.

Em Museu de Cera (1953), o ator vivia o dono do estabelecimento do título que, depois de ter sofrido queimaduras severas após um incêndio no trabalho, decide remontar seu museu com vítimas de seus crimes. Primeiro filme em 3D colorido de um grande estúdio, Museu de Cera foi uma das maiores bilheterias daquele ano e, com isso, Price seria escalado para outros filmes aterrorizantes como A Mosca da Cabeça Branca (1958) e sua continuação, O Monstro de Mil Olhos (1959), A Casa dos Maus Espíritos (1959) e Força Diabólica (1959). Fugindo um pouco do gênero, Price foi coadjuvante em Os Dez Mandamentos (1956), dirigido por Cecil B. DeMille.


Na década de 1960, Price começou a trabalhar com o mestre dos filmes de terror Roger Corman e emendou diversas produções baseadas nas obras de Edgar Allan Poe: O Solar Maldito (1960), A Mansão do Terror (1961), Muralhas do Terror (1962), O Corvo (1963), A Orgia da Morte (1964) e Túmulo Sinistro (1965). Boa parte dos roteiros era assinada pelo escritor Richard Matheson, responsável pelo romance Eu sou a Lenda, que foi adaptado recentemente para os cinemas com Will Smith como protagonista. Mas muito antes disso, Vincent Price já havia estrelado a primeira versão da obra para os cinemas, intitulada Mortos que Matam (1964).


Outros filmes importantes da carreira de Vincent Price vieram na década de 1970. É o caso de O Abominável Dr. Phibes (1971) e sua continuação, A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes (1972). Nesta época, e por boa parte da década anterior, o ator dividiria seu tempo entre filmes de baixo orçamento e aparições na televisão. Dentre suas participações marcantes, o vilão do seriado camp Batman se destaca.


Tim Burton e Michael Jackson colocariam o nome de Price novamente no imaginário popular com duas participações que se escoravam basicamente na voz singular do ator. O cineasta escreveu um roteiro de um curta chamado Vincent (1982), no qual uma criança tem sonhos macabros enquanto almeja ser o grande Price. Quando perguntado o que achava da história, o ator respondia que era a maior homenagem que poderia receber, “maior do que uma estrela na calçada da fama”. Já o astro pop, também em 1982, imortalizou Price no super hit Thriller, no qual ouvimos o ator declamar rimas horripilantes ao som da batida dançante de Jackson. “For no mere mortal can resist the evil of the Thriller!”, falava o ator, soltando logo após sua gargalhada maligna.


Na segunda metade da década de 1980, o ator dublou o desenho animado da Disney As Peripécias do Ratinho Detetive (1986) e foi indicado pela primeira vez a um importante prêmio, o Independent Spirit Awards, por conta de sua atuação em Baleias de Agosto (1987), longa-metragem em que dividia a cena com Bette Davis. Sua participação em outra produção de Tim BurtonEdward Mãos de Tesoura (1990) teve de ser abreviada por causa do mal de Parkinson, cujos sintomas estavam cada vez mais agudos. Price trabalhou até o fim da vida, aos 82 anos, vítima de câncer de pulmão. Ele deixou dois filhos (Vincent Barrett Price e Mary Victoria Price), tendo sido casado por três vezes.

Filme imprescindívelMuseu de Cera (1953); 

Filme esquecívelBonecas Explosivas (1966), continuação desnecessária da comédia A Máquina de Fazer Biquinis (1965);

Seu filme favorito:  Adorou ter dublado o desenho da Disney O Ratinho Detetive (1986) e afirmou ter sido homenageado de forma ímpar pelo curta Vincent (1982);

Primeiro filmeServiço de Luxo (1938); 

Último filme: Fez a voz da animação The Princess and the Cobbler (1993);  

Guilty pleasureA Mansão da Meia-Noite (1983), por reunir quatro grandes nomes do cinema de horror em uma comédia: Price, Christopher Lee, Peter Cushing e John Carradine;

Papel perdido: Seu primeiro personagem no cinema seria em 1937, no filme Receita de Amor, mas a Universal Studios acabou o preterindo pelo ator Kent Taylor;

Prêmios: Indicado ao Independent Spirit Awards pela atuação em Baleias de Agosto (1987);

Frase inesquecível: “Um homem que limita seus interesses limita sua vida”

 

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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