Quatro. Com esse número simpático e nem um pouco ameaçador, Katharine Hepburn se tornou a maior vencedora de todos os tempos na história do Oscar. Claro, estamos falando de atores, pois ela ainda está atrás de Dennis Muren (técnico de efeitos especiais, 6 estatuetas), Alan Menken (músico, 8 estatuetas), Edith Head (figurinista, 8 estatuetas), Cedric Gibbons (diretor de arte, 11 estatuetas) e, como não poderia deixar de ser, Walt Disney (produtor, 22 estatuetas!). Mas, dentre os intérpretes, ela é, ainda hoje, imbatível. Meryl Streep, Daniel Day-Lewis e Jack Nicholson, cada um com três vitórias, talvez a alcancem no futuro, mas até lá a poderosa e determinada Katharine Houghton Hepburn segue na liderança absoluta. Acostumada a quebrar regras, foi namorada do milionário Howard Hughes (como visto em O Aviador, 2004, em que foi interpretada por Cate Blanchett) e amante durante décadas de Spencer Tracy (todos sabiam do relacionamento dos dois, porém ele, por questões religiosas, se recusava a se separar da primeira mulher). Hepburn chegou, em determinado momento de sua carreira, a ser considerada “veneno de bilheteria”, e entre a primeira e a segunda vitória se passaram mais de trinta anos – e outras 8 indicações! – mas, depois, foi uma atrás da outra! Ganhou, de forma consecutiva, em 1968 e em 1969, e, contra todas as expectativas, quando já tinha 75 anos, levou a quarta (e cobiçada) estatueta. Premiada nos festivais de Cannes e de Veneza, no Bafta e no Emmy, é até hoje, mais de uma década após a sua morte, em 29 de junho de 2003, aos 96 anos, uma das grandes rainhas de Hollywood. Por isso, neste 12 maio, data em que nasceu em 1907, nós do Papo de Cinema prestamos essa justa homenagem, com alguns dos seus melhores trabalhos comentados, além de mais uma incrível performance que merece ser (re)descoberta. Confira!

 

Núpcias de Escândalo (The Philadelphia Story, 1940)
Nesta comédia romântica dirigida por George Cukor, Katharine Hepburn é Tracy Lord, uma obstinada garota que está prestes a se casar pela segunda vez. Ela ainda é assediada pelo ex-marido (Cary Grant) e vira alvo de interesse de um jornalista (James Stewart), que comparece à cerimônia para cobrir o evento em troca de não divulgar um escândalo que envolve o pai da noiva. Um triângulo (ou seria quadrilátero?) amoroso que até soa bobo hoje em dia, mas aqui se estabeleceu como a grande fórmula para todos os filmes do gênero feitos até agora. É uma legítima comédia de erros e costumes, em que o humor físico entra em compasso com os diálogos sutis e certeiros, especialmente nas falas proferidas pela nossa homenageada. Este foi um dos seus primeiros papéis de destaque, e acabou lhe rendendo uma das tantas indicações ao Oscar. Hepburn mostra toda sua presença de tela num papel que refletiria muito do que viria a encarar na carreira: uma mulher à frente de seu tempo que pensava mais do que na “sorte” de encontrar um marido perfeito. É por causa dela que a história gira, os atores se ajoelham e este longa não é esquecido após tanto tempo. – por Matheus Bonez

 

De Repente, no Último Verão (Suddenly, Last Summer, 1959)
Catherine (Elizabeth Taylor) sofre após a morte do primo, Sebastian. Teria ela enlouquecido ou estaria apenas bloqueando o que de fato aconteceu com o rapaz, por quem era apaixonada e que a tia, e mãe do falecido (Katharine Hepburn), diz ter sofrido um ataque cardíaco? Baseado na peça de Tennessee Williams, o longa foi podado por tratar de temas como homossexualidade e canibalismo, entre outros tabus. Enquanto isso, a história de concentra no duelo entre tia e sobrinha, atuações impecáveis de Hepburn e Taylor. Se a mais nova dá um show como uma garota perdida nos próprios pensamentos e sentimentos, a nossa homenageada confere um ar de crueldade que desfila entre o pragmatismo e a insanidade de uma mãe que não quer aceitar o que, de fato, ocorreu com o filho. Sua personagem é um poço de enigmas, o que confere ainda mais peso ao que Hepburn faz com ela. Até pode parecer acima do tom algumas vezes, mas é tudo parte de uma mente fragilizada que tenta se conter a todo instante. Porém, quando explode, aí vemos o monstro que realmente estava adormecido. Algo que a diva recordista do Oscar captou com exatidão e perfeccionismo. – por Matheus Bonez

 

Adivinhe quem vem para Jantar (Guess Who’s Coming to Dinner, 1967)
Katharine Hepburn teve diversos papéis memoráveis em uma carreira que durou impressionantes 60 anos. Após um hiato que durou décadas, no entanto, foi por este título que ela quebrou um longo jejum e conquistou sua segunda e merecida estatueta dourada. Na trama deste longa-metragem dirigido por Stanley Kramer, a estrela vivia a sofisticada esposa de um turrão jornalista (Spencer Tracy, em seu último papel no cinema). Em plena década de 1960, em um período em que as discussões sobre questões raciais estavam em ebulição nos Estados Unidos, os Drayton recebem em casa o noivo da filha, Joey (Katherine Houghton), um médico viúvo e negro (Sidney Poitier). Embora os pais aparentassem ter uma cabeça mais liberal, o choque da presença do rapaz causa desconforto. Mesmo que o elenco esteja cativante, Hepburn rouba todas as cenas que tem chance. Ela vive uma mãe balançada, mas que acorda para a realidade quando observa um caso flagrante de racismo vindo de uma de suas funcionárias da galeria de arte que comanda. Ao enxergar em outro um sentimento que talvez existisse dentro dela, resolve seus conflitos internos e parte em defesa do amor de sua filha pelo namorado. Inesquecível performance. – por Rodrigo de Oliveira

 

O Leão no Inverno (The Lion in Winter, 1968)
Mesmo avessa a premiações – nunca tendo comparecido à cerimônia do Oscar como indicada – Katharine Hepburn permanece como recordista da Academia. Sua primeira marca histórica veio ao representar a Rainha Eleanor de Aquitânia nesta adaptação da peça de James Goldman, tornando-se a primeira intérprete a vencer três vezes na categoria principal – dividindo este terceiro prêmio com Barbra Streisand, por Funny Girl (1968). O filme, de Anthony Harvey, se passa no Natal de 1183, quando o Rei Henrique II da Inglaterra (Peter O’Toole) promove uma reunião familiar, que inclui seus três filhos e a Rainha (Hepburn), de quem está separado há anos, mantendo-a isolada num castelo. O encontro visa decidir o herdeiro do trono, com o filho mais novo, John (Nigel Terry), tendo preferência do pai, e o mais velho, Richard (Anthony Hopkins), a da mãe. Numa trama repleta de intrigas palacianas, o grande embate acaba sendo mesmo entre Eleanor e Henrique, colocando Hepburn e O’Toole em evidência. Articulando os brilhantes diálogos sempre com uma dose de malícia, a atriz compõe uma figura determinada, forte e eloquente, capaz de exercer sua influência sobre todos, e brilhando em momentos de grande carga emocional, como no monólogo sobre civilização e barbárie. Um desempenho grandioso. por Leonardo Ribeiro

 

Num Lago Dourado (On Golden Pond, 1981)
Após quase uma década sem um papel de destaque, Katharine Hepburn foi convidada por Jane Fonda para estrelar, ao lado do pai dela, o incrível Henry Fonda, essa comédia dramática sobre dois octogenários que precisam cuidar do enteado da filha durante as férias. Se a sinopse não é muito estimulante, o que faz diferença aqui é não apenas o texto bem apurado de Ernest Thompson (baseado em sua própria peça) e a direção certeira de Mark Rydell, mas as inestimáveis performances de dois monstros como Katharine e Henry, no primeiro encontro dos dois na tela grande. Enquanto ele é o ranzinza que aos poucos vai sendo vencido pelo menino, ela é a voz da razão, que ouve os dois lados e busca o melhor em cada um deles. Vencedor de três Oscars – Ator, Atriz e Roteiro – concorreu ainda a Melhor Filme e elevou Hepburn a um patamar (esta foi sua quarta vitória) até hoje não alcançado. Talvez suas concorrentes – entre elas estavam Meryl Streep, Diane Keaton e Susan Sarandon – entregassem desempenhos mais contundentes, mas o fato é que foi Hepburn que acabou fazendo história de modo discreto e independente, da mesma maneira como trilhou toda a sua carreira por quase um século. – por Robledo Milani

 

+1

 

Levada da Breca (Bringing up Baby, 1938)
As chamadas screwball comedy, ou comédias malucas, exigiam fôlego e timming cômico dos atores. Howard Hawks dirigiu alguns exemplares do gênero, mas foi comandando Katharine Hepburn e Cary Grant que ele conseguiu seu melhor resultado. O casal protagonista vive um jogo de gato e rato que é pura sedução, pelo menos da parte de Vivian, personagem de Hepburn, que inventa as maiores loucuras para estar sempre perto do atrapalhado zoólogo Huxley. Apesar de darem vida a personagens que caem, perdem sapatos e rasgam as próprias roupas de maneiras insólitas, ambos continuam esbanjando charme e elegância, em especial ela, sempre associada a mulheres de personalidade forte e que batem de frente com seus antagonistas masculinos. Vê-la suspirando de amor ou mesmo caindo dentro de lagos em nome de mais alguns minutos perto de sua paixão é um extra divertido do filme que, por si só, já garante boas risadas do público, graças ao roteiro bem estruturado de Hagar Wilde e Dudley Nichols. – por Bianca Zasso

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar

avatar

Últimos artigos de (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *