A mostra competitiva de curtas-metragens de animação do 46° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi bastante diversificada, e, talvez por isso mesmo, a mais estimulante das três seleções de curtas – ao lado dos documentários e ficções neste formato – apresentadas neste ano. Cada obra era de um estado diferente – Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal – oferecendo um painel bem amplo do atual cenário nacional da produção do gênero.

O primeiro curta de animação apresentado no Cine Brasília foi Deixem Diana em Paz, de Julio Cavani. A produção pernambucana de 10 minutos conta com locução de Irandhir Santos, que narra a história da protagonista, uma mulher viciada em trabalho que certo dia larga tudo para fazer duas coisas: ir à praia e dormir um pouco mais. Os bonitos traços, feitos à mão pelo artista Cavani Rosas (pai do diretor), são mais interessantes do que a história em si, que termina abruptamente. O prazer, aqui, é mais estético do que de conteúdo.

Deixem Diana em paz, de Julio Cavani

RYB, de Deco Filho e Felipe Benévolo, foi o representante local na disputa nacional. Com apenas quatro minutos, impressiona pela técnica em 3D com a qual foi realizado – ainda que não tenha sido exibido neste formato. O título é uma brincadeira com as cores primárias – Red (vermelho), Yellow (amarelo) e Blue (azul) – e revela o que acontece com uma experiência mal sucedida em um laboratório genético, quando uma perereca verde se multiplica em irmãos gêmeos coloridos e muito arteiros. A jogada é rápida, e válida pelo bom argumento.

RYB, de Deco Filho e Felipe Benevolo

O viajado Faroeste: Um Autêntico Western, do goiano Wesley Rodrigues, foi exibido há menos de um mês no 41° Festival de Gramado – de onde saiu de mãos abanando. A trama se perde pela extensa duração (quase 19 minutos) e pelo roteiro que começa com uma ideia, mas logo se desvia por diversos atalhos, sem nunca assumir um objetivo. Com uma forte pegada de cangaço, o início mostra um urubu que, ainda pequeno, vê os pais esquartejados e, por isso, pega gosto pela violência. Até que uma família de coelhos contrata um matador profissional para dar cabo dele. O que soava como ousado e original termina caricatural e americanóide. Um desperdício.

Faroeste: Um Autêntico Western, de Wesley Rodrigues

Altos e baixos apresenta também Engole ou Cospervilha?, projeto coletivo produzido pela Marão Filmes. Marão, inclusive, é um dos oito diretores que assinam essa série de vinhetas unidas quase que aleatoriamente, carentes de uma unidade maior que as compreendesse. Em comum, um humor irônico e sarcástico, por vezes exageradamente escatológico, mas nunca menos crítico. Tem seus bons momentos – como a menina que insiste em vestir uma calça absurdamente justa e a trajetória de uma ervilha até seu destino final. Mas são poucos diante o que prometia.

Engole ou Cospervilha?, da Marão Filmes

Talvez o projeto mais bem acabado da mostra seja a animação Ed., de Gabriel Garcia. Exibido na Mostra Gaúcha do 41° Festival de Gramado – quando foi premiado como Melhor Produção Executiva – chega ao evento brasiliense com melhores possibilidades de premiação, seja pela técnica e roteiro como também pela fraca concorrência. Ed, o protagonista, é um astro de cinema, e nos minutos finais de sua vida se misturam os muitos personagens que já interpretou com as tantas vidas que precisou levar diante de todos ao seu redor. É um desenho animado adulto, curioso por todos os personagens serem coelhos, com um visual muito bem acabado, que surpreende a olhos vistos.

Ed., de Gabriel Garcia

O protagonista da animação Quinto Andar, de Marco Nick, é um estranho rapaz que se transformava em lobisomem toda noite de lua cheia. A produção mineira carece de um enredo amarrado de uma melhor qualidade técnica, e seu final, que surge de modo abrupto, não colabora no sentido de convencer o espectador a favor do que foi presenciado.

Quinto Andar, de Marco Nick

Entre exemplares que se destacam pelo primor técnico, com um visual esteticamente agradável que indica um forte cuidado pelos detalhes e pela finalização, e outros que parecem mais rascunhos, arremedos de algo que poderia ter sido mas que parece ter sido deixado pelo caminho, esta seleção de curtas animados é variada, porém insuficiente para oferecer uma totalidade em relação aos quatro cantos do país. Em comum, a ausência de melhores roteiros, que combinem técnica com criatividade narrativa. Soam, em última instância, como indícios de algo que ainda pode ser genial, mas que no momento segue enfrentando duras pedras.

Premiados 2013

Melhor Filme: Faroeste: Um Autêntico Western, de Wesley Rodrigues
Melhor Curta-metragem – Júri Popular: Faroeste: Um Autêntico Western, de Wesley Rodrigues

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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