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Os últimos cinco curtas-metragens na 19ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas foram exibidos no quinto dia do Festival, terça-feira, 15 de setembro. Depois de termos conferido 15 trabalhos bastante diversos de várias partes do país, era chegada a hora de ver os selecionados finais. Lembrando que foram quatro programas com cinco filmes cada. O Papo de Cinema acompanhou as sessões e dá um panorama do que foi visto no quarto programa de curtas.

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Planície, de Gabriel Perrone (ES)

Rodado em Portugal, mas com assinatura capixaba, Planície conta a história de dois amigos e um segredo. Aqui não cabe explicitar o que se trata, mas a relação destes comparsas pode ruir caso um saiba da verdade do outro. Sabemos disso através da construção dos conflitos, bem concebidos por Gabriel Perrone. A cena da briga é intensa e o terceiro ato, envolvendo uma prostituta, fecha bem a trama. O curta perde pontos por tratar de um assunto um tanto batido, mas consegue – aqui e ali – encontrar meios diferentes para contar esta história, com alguma introspecção e muito de negação por parte do protagonista.

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Antes dessa Guerra, de Lucas Camargo de Barros e Nicolas Thomé (SP)

Se o espectador não entrar na onda de Antes dessa Guerra, talvez consiga absorver pouco do que os cineastas tentavam dizer com esta obra. Acompanhamos Bruno, rapaz que passeia por uma São Paulo ruidosa enquanto suas memórias, seus encontros e cicatrizes nos são apresentados. Talvez um dos curtas mais herméticos desta seleção, Antes dessa Guerra evita os caminhos fáceis e deixa nas mãos dos espectadores diversas reflexões. A estética é um tanto suja e a utilização de créditos que lembram muito as antigas proteções de tela de computador causam estranhamento e certa frustração.

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Eu Queria Ser Arrebatada, Amordaçada e, Nas Minhas Costas, Tatuada, de Andy Malafaia (RJ)

Fabiola Buzim tem performance hipnotizante neste curta de título extenso do diretor Andy Malafaia. Atriz capixaba, de beleza estonteante e de indiscutível atitude e talento, Fabiola se despe (literal e figurativamente) ao interpretar Silvana, uma mulher que deseja fugir. Esta fuga pode ser tanto para fora do lugar onde vive, ou do espaço onde trabalha, talvez do homem que ela ama, ou pensa amar. Vamos acompanhando o desenrolar da história, de uma mulher que parece ter chegado a um ponto sem retorno. O diretor Andy Malafaia aposta nas cores fortes para conceber sua história, desde as luzes da boate onde Silvana trabalha, passando pelo vermelho de suas unhas, fazendo um contraste às tonalidades pálidas e descascadas da casa onde mora. Com cenas corajosas e um assunto espinhoso, dado o seu desfecho, o curta-metragem de Malafaia foi uma das boas surpresas do Festival de Vitória. Financiado via crowdfunding, a produção foi exibida fora do país, em festivais nos Estados Unidos, Itália, Sérvia, México, Canadá e Índia, e estreou nacionalmente na capital capixaba.

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Virgindade, de Chico Lacerda (PE)

Exibido em diversos festivais, dentre eles o de Gramado e o CineCeará, Virgindade é um tour de force do seu realizador, Chico Lacerda. O diretor é o faz-tudo desta produção, assinando também a montagem, o roteiro, a direção de fotografia e a narração. Na história, um homem remonta seu passado e relembra como, desde criança pequena, já sentia impulsos sexuais fortes por pessoas do mesmo sexo. A narração é bastante honesta e cativa exatamente por este fato. Na tela, imagens que vagamente ligam a fala do diretor ao seu passado. E diversos pênis, dos mais variados tamanhos e formatos. Uma verdadeira ode ao corpo masculino, algo raro de se ver no cinema. O curta é muito bem amarrado, com histórias muito curiosas a respeito da descoberta da sexualidade. A trilha sonora é interessante, contando com os galeses do Gorky’s Zygotic Mynci embalando a montagem dos membros masculinos à mostra.

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Sem Coração, de Nara Normande e Tião (PE)

Exibido durante a Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes, Sem Coração é um trabalho pungente de Nara Normande e Tião. Na trama, conhecemos Léo, menino que vai passar férias na casa do primo, situada em uma região de pesca. Típico menino de apartamento, ele demora a se enturmar com os garotos locais, mas acaba se encantando por uma menina apelidada de “Sem Coração”. A relação entre ela e seus comparsas de turma pode chocar, existindo ali algo de muito melancólico, uma realidade que parece ser imutável, mesmo com a chegada de uma nova figura ao grupo. O amor pode surgir dos locais menos prováveis e uma troca de beijo pode parecer uma barreira intransponível. O elenco mirim é um destaque, preparado pela atriz Maeve Jinkings, que faz uma pequena ponta no curta. Eduarda Samara, quem vive a “sem coração” do título, é uma feliz surpresa, mostrando segurança e tristeza na medida certa. Exibido no Festival de Roterdã, na Holanda.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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