A noite do último domingo, 24, no Festival For Rainbow foi marcada por filmes que falaram de inclusão, acessibilidade e diversidade. Foram quatro curtas e um longa na mostra competitiva, além de oito curtas exibidos na Mostra Feminino Plural. O longa-metragem exibido foi Nem Toda História de Amor Termina em Morte, de Bruno Costa.
O filme trouxe a história de um casal recém-separado que ainda divide apartamento. A protagonista, Sol, está em busca de autoconhecimento e se entendendo dentro de suas relações. Ela se envolve com Lola, uma jovem atriz surda. A trama abordou temas como etarismo, não-monogamia, bissexualidade, acessibilidade e machismo. Bruno Costa, diretor, roteirista e produtor curitibano, conversou com o Papo de Cinema sobre o projeto. Siga o fio e saiba mais!
BRUNO COSTA
PROCESSO DE CRIAÇÃO
Bruno adiantou que o filme levou oito anos para ser desenvolvido, desde a concepção da ideia até a versão final apresentada ao público. A personagem Lola, interpretada por Gabi, não era surda no roteiro original. A mudança foi sugerida por Cris, que integrou o elenco ao lado de Otávio, com quem também formava um casal fora das telas. A principal locação foi a própria casa dos atores, e a produção incorporou diversos elementos da realidade dos envolvidos, o que contribuiu para a complexidade e o tempo de finalização do projeto.
“Essa era justamente a força do filme: não apenas uma história de um casal que se separa e continua morando junto, mas uma trama sob o ponto de vista de uma mulher surda, mãe solo, bissexual, de 50 anos, recém-saída de um casamento longo e descobrindo novas facetas da sexualidade. Isso me interessava muito: falar de uma mulher dessa faixa etária, trazendo também temas como etarismo, relações de trabalho e outras camadas sociais. O filme é um romance, uma dramédia (uma mistura de drama e comédia), mas toca em temas espinhosos como machismo, questões raciais e acessibilidade, sempre buscando leveza e evitando panfletarismo”, disse Costa.
INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE
O diretor também destacou a importância da experiência vivida durante o processo de produção. “Foi muito rico, principalmente para mim como diretor, mas também para toda a equipe”, disse. Ele comentou que a presença de Jônatas, intérprete de Libras, como terceiro assistente de direção foi fundamental “Desde a primeira leitura de roteiro com a equipe, já tínhamos Libras integrada. Todos se empenharam para aprender sinais básicos”.

O próprio diretor também buscou se aprofundar. “Eu mesmo estudei para poder me comunicar diretamente com os atores, sem depender 100% do intérprete”, ressaltou. Bruno ressaltou o aprendizado adquirido ao longo do processo: “aprendemos muito com a comunidade surda nesse processo. Uma das coisas que mais me marcou foi ouvir deles: ‘o mais importante é vocês tentarem se comunicar com a gente. Não sabe sinalizar? Faz mímica, desenha, escreve no celular. O pior é quando as pessoas têm medo de tentar’. Essa mensagem permeia tanto o filme quanto nossa experiência durante a preparação”, acrescentou.
Ele também comentou a participação da atriz Gabi, que interpretou Lola. “Ela esteve ativamente envolvida no desenvolvimento do roteiro. Fizemos várias reuniões com o apoio do Jônatas para garantir que não cairíamos em clichês”. Segundo o diretor, a proposta foi retratar Lola em sua rotina comum: “queríamos mostrar uma mulher surda vivendo sua vida como qualquer outra: levando a filha na escola, se apaixonando, lidando com questões profissionais. A diferença era apenas o ponto de vista”.
UMA NOVA ESTÉTICA
Bruno frisou que outro objetivo central da obra foi popularizar a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e por isso considera o filme como uma obra bilíngue, contendo português e libras. Bruno explicou que a proposta do filme buscou romper com padrões já consolidados: “desde o início, pensamos em fugir do modelo tradicional, em que a tradução é uma pessoa no canto da tela. Nossa proposta foi criar uma tradução artística: todos os intérpretes são surdos, não ouvintes interpretando”, disse.
Ele detalhou como essa escolha foi incorporada à narrativa. “Eles usam figurinos iguais aos dos personagens e receberam o mesmo tratamento de cor do filme, o que faz com que a tradução seja parte da narrativa, e não um recurso externo”. Segundo o diretor, essa decisão também teve impacto social e gera representatividade e oportunidades de trabalho para os atores e atrizes surdos. Os intérpretes do filme são pessoas surdas, não apenas intérpretes falantes, o que enriqueceu o elenco surdo do longa. Ele ainda destacou a relevância dessa inclusão. “O Brasil tem cerca de 10 milhões de pessoas surdas que querem se ver nas telas”.
O FUTURO
Bruno também falou sobre os próximos passos: “os surdos não querem apenas se ver representados, mas também escrever e dirigir seus próprios filmes. Nossa função, como aliados, é apoiar esse crescimento. O Nem Toda História de Amor Acaba em Morte é apenas uma parte desse movimento, que vem ampliando o espaço da comunidade surda no cinema e nas artes”.
Vale lembrar que o Papo de Cinema está presente no For Rainbow 2025, que segue até o próximo dia 29 de agosto e oferece programação gratuita para todos os públicos, incluindo oficinas e shows. É uma oportunidade única de celebrar a diversidade e a arte LGBTQIAPN+, promovendo inclusão e visibilidade em cada atividade. Confira a programação completa aqui.
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