Segue até o próximo dia 12 de outubro um dos maiores festivais de cinema do Brasil, o Festival do Rio, que em 2025 chega a sua 27ª edição. E a grande convidada internacional desse ano é ninguém menos do que estrela francesa Juliette Binoche, que veio até à Cidade Maravilhosa apresentar em primeira mão o longa In-I in Motion (2025), que marca sua estreia na direção e participa do evento carioca como parte da mostra Panorama Mundial, após ter tido sua première mundial no Festival de San Sebastian, na Espanha. Na França permanece inédito, já tendo sido confirmada uma exibição apenas em 16 de outubro, como parte do Grand Lyon Film Festival.

CONVIDADOS INTERNACIONAIS
Além dos mais de 300 filmes, entre longas e curtas, selecionados para a edição desse ano do Festival do Rio, o que tem movimentado jornalistas e cinéfilos apaixonados também são as presenças internacionais, convidados oficiais do evento que estão desembarcando no Brasil para apresentar suas obras. São diretores, atores, atrizes e técnicos. O Papo de Cinema está presente no Rio de Janeiro desde o começo da programação, e apenas nos primeiros dias já conversou com a diretora e atriz argentina Dolores Fonzi (que veio acompanhar as exibições de Belen, 2025) e a cineasta portuguesa Teresa Villaverde (que dirigiu a brasileira Betty Faria no drama Justa, 2025). Quem está acompanhando nossa cobertura pelas redes sociais já ficou a par de um pouquinho dessas conversas pelo que compartilhamos por lá.
A grande atração do Festival do Rio, no entanto, não poderia ser outra: Juliette Binoche! A vencedora do Oscar por O Paciente Inglês (1996) já foi reconhecida também em todos os principais festivais de cinema do mundo: Berlim (O Paciente Inglês, em 1997), Cannes (Cópia Fiel, em 2010) e Veneza (A Liberdade é Azul, em 1993). Para se ter uma ideia, a única outra atriz viva a também ter sido reconhecida no mesmo trio de eventos é Julianne Moore! Mas Binoche vai além, tendo recebido ainda o César, o Bafta e o Goya, entre outros tantos reconhecimentos.
ENTREVISTA COM JULIETTE BINOCHE
O Papo de Cinema foi um dos poucos veículos nacionais convidados para um bate-papo presencial com Juliette Binoche. Nosso editor Robledo Milani esteve sentado ao lado da atriz e diretora num círculo de conversa em conjunto com o UOL, Metrópole, Omelete e Canal Like. E fomos nós que demos início ao diálogo, disparando de partida: “de onde surgiu essa vontade de se tornar diretora?”
“Isso foi algo que me foi imposto. O que aconteceu é que, enquanto estava apresentando o espetáculo In-I nos palcos, foi uma experiência tão maluca, que seria maravilhoso ter algum tipo de registro, de memória disso que vivi. Esse ‘pulo no desconhecido’ foi tão intenso que me transformou. Mas não sabia o que fazer com essa vontade”
Ou seja, Binoche tinha uma dúvida. Mas foi um veterano de Hollywood que lhe deu o empurrão que faltava.
“Quando fui a Nova York com o espetáculo, Robert Redford foi nos assistir. Quando a apresentação chegou ao fim, ao me dirigir até meu camarim, ele já estava nas coxias, esperando por mim. Ele me pegou pelos braços, me levou até o camarim, fechou a porta por trás dele e ficamos só nós dois. Foi quando disse para mim: ‘Você precisa fazer um filme dessa peça!’ E repetiu várias vezes, como se quisesse me convencer. Só que já sabia disso. Só não havia entendido ainda como seria feito”.

PROJETO FAMILIAR
“Minha irmã foi fundamental. Ela estava me acompanhando, e enquanto decidia o que fazer, virei e perguntei a ela: ‘você poderia filmar nossas apresentações?’. Ou seja, ao menos as imagens estariam garantidas. Dois anos depois, durante um Festival de Cannes, um investidor chegou pra mim e perguntou se tinha algum projeto em mãos, pois queria investir. Foi quando lembrei dessas fitas e começamos a trabalhar nelas”.
“Não saberia dizer se realmente escolhi me tornar diretora. Mas sabia que queria dividir com o mundo isso que havia vivido nos palcos. E o resultado é o In-I in Motion. Mas não bastava o empurrão de Redford, ou o apoio da minha irmã. Era preciso ter essa vontade que vinha de dentro. E foi o que descobri em mim”.
ROBERT REDFORD
“Se ele chegou a assistir ao filme pronto? Infelizmente, não. Redford morreu antes de termos nossa primeira exibição, não sabia se estava doente ou não, ou seja, não havia um senso de urgência em nós. Foi uma tristeza muito grande quando recebi a notícia, queria compartilhar desse momento com ele. Mas, não foi possível. E é claro que gostaria de ir ao Festival de Sundance, mas isso ainda não é uma certeza. Sinto que devemos a ele prestar essa homenagem, quase como um tributo. Há uma conexão muito forte em In-I in Motion e Robert Redford, nada disso teria acontecido sem a influência dele”.
UM FILME VIVO
“Sim, um filme nunca fica pronto. Já foi dito antes: a gente abandona, pois se nos deixássemos, passaríamos o resto dos nossos dias mexendo nele. In-I In Motion passou primeiro no Festival de San Sebastian, e será essa mesma versão a exibida aqui no Rio. Mas depois que o assisti na Espanha, não fiquei feliz. Me pareceu longo demais. Então já fiz novos cortes, e a versão oficial está uns 30 min mais curta. Essa será a que irá para os cinemas quando estrear. E o distribuidor gostou da minha ideia, então agora, sim, estamos satisfeitos”.
EXPERIÊNCIAS ANTERIORES
“Sou resultado de todos os filmes que já fiz. Por exemplo, em O Sabor da Vida (2023), entrei tantas vezes naquela cozinha, que só pela repetição a gente é levado a um outro nível. Era quase uma dança, uma coreografia. Depois de participar de um filme, você pode tranquilamente dizer que nada mais irá lhe amedrontar. Talvez morrer, apenas (risos)”.
NOVOS PASSOS COMO DIRETORA
“Se penso em dirigir uma obra de ficção? Então, não penso nisso. Prefiro fazer a ficar planejando. Talvez um dia você veja um filme que ficção que dirigi. Mas não desejo criar expectativa quanto a isso. Pode acontecer, e pode não acontecer. Não quero atrair essa pressão para mim”.

O AGENTE SECRETO
“Vocês, brasileiros, podem me dizer se nossas decisões como jurados do Festival de Cannes desse ano foram acertadas ou não. Vocês possuem essa permissão (risos). Afinal, estava na presidência do júri, ok, mas cada decisão envolve uma discussão, é um processo coletivo. Ninguém decide nada sozinho. Então, se O Agente Secreto saiu de Cannes com dois prêmios – direção e ator – foi porque mereceu de fato. Não era só a minha vontade, foi o que todos julgaram ser justo. É importante que todos no júri fiquem satisfeitos com o resultado da premiação. São muitos interesses envolvidos. E posso dizer, no final, que fiquei muito feliz com os resultados aos quais chegamos”.
Uma ausência, no entanto, foi sentida. Wagner Moura ganhou como Melhor Ator, porém não estava mais na França. O prêmio lhe foi entregue semanas depois, em Paris, pelas mãos de… Juliette Binoche. Como se deu esse encontro?
“Eu estava em Paris na ocasião. Entraram em contato comigo e perguntaram: “você gostaria de participar e entregar o troféu a ele?” É claro que disse que SIM! Foi simples assim. O Agente Secreto é maravilhoso. Fiquei envolvida por ele do início ao fim. Adoro o modo como foi filmado, a imaginação que exala da tela. Se percebe um prazer nítido em todo o processo. E fiquei apaixonada pela senhora mais velha (N.E.: está falando da atriz Tania Maria, que interpreta a personagem Dona Sebastiana), ela é maravilhosa. Wagner oferece uma presença magnética, vibrante, que combina intimidade com distância. Parece perdido, mas ao mesmo tempo, muito focado. Tudo nesse filme funciona. A ambientação nos anos 1970 é muito envolvente, criativa. Falei para o Kleber Mendonça Filho: “adoraria trabalhar com você um dia”. Vamos ver se ele vai me chamar”.
“O que os brasileiros fizeram pela indicação de Fernanda Torres ao Oscar, na última temporada, foi insano. Algo maravilhoso, que nunca havia acontecido. Se pode acontecer de novo com Wagner Moura? Bom, não vou entrar nessa discussão (risos). Mas é claro que torço por isso. Nós fomos os primeiros a premiá-lo. Tudo começou em Cannes. Daqui pra frente é com ele, a nossa parte já fizemos”.
BRASIL
Essa paixão pelo Brasil não deve acabar por aqui. Juliette Binoche revela outros planos no seu futuro envolvendo o nosso país, já no final da nossa conversa.
“A vida no cinema é feita de encontros. E estou satisfeita com todos os encontros que tenho tido ao longo dos anos. A vida é feita de surpresas. Não adianta planejar muito. Às vezes pensamos que será de um jeito, e acaba acontecendo de outro. Não sabia que faria um filme chamado In-I In Motion. E agora estamos aqui com ele. Já estive no Brasil antes, e agora voltei com essa pequena obra, que é quase como um filho. É algo pequeno, um documentário. Ainda estamos trabalhando nele. Então, é parte do processo segui-lo. Por isso estou aqui. E tenho um segredo: um pequeno projeto que vou filmar no Brasil. Mas não posso falar mais do que isso. Como disse, surpresas. Aguardem que em breve irei surpreendê-los de novo (risos)”.
O Papo de Cinema é convidado oficial do 27º Festival do Rio, que acontece de 02 a 12 de outubro no Rio de Janeiro. Fiquem ligados aqui no site e em nossas redes para conferir nossa cobertura especial!
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