Crítica

Um casal que se conhece em uma festa e passa a noite juntos. Quantos filmes já não foram realizados tendo isso como premissa? Mas quantos desses contavam a história de um casal gay que mais do que passar uma noite juntos, constroem, em um final de semana, um relacionamento que reflete tanto o que é ser gay atualmente como também todo um cinema que existe para esse segmento? Weekend é um desses achados que aparecem uma vez ou outra e redefinem um pouco o cinema de temática lgbt.

Realizado por Andrew Haigh, que anteriormente só havia dirigido alguns curtas e o longa-metragem Greek Pete (2009), a produção inglesa é um filme que bebe de diferentes fontes para construir algo original e pouco visto no chamado cinema queer, que engloba filmes que buscam expressar uma diversidade sexual que não se encaixam no conceito heterossexual. É uma história basicamente sobre a construção da intimidade e se assemelha muito superficialmente aos filmes de Richard Linklater: Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr-do-Sol (2004). Porém, mais do que sobre um casal que se conhece, é sobre o que se passa no dia-a-dia desses personagens que representam parte de uma comunidade. Como bônus, Weekend ainda consegue agradar seja qual for sua plateia – gay ou não – narrando uma trama universal.

A história é de Russell (Tom Cullen) e Glen (Chris New), o primeiro um salva-vidas e o segundo um artista visual. Haigh nos apresenta sem grandes pudores a relação de ambos e sem parecer apenas uma ligação sexual, é o processo de se apaixonar e de conhecer o outro, mesmo que em pouco tempo, em um final de semana. A direção e atores apresentam uma naturalidade e o diretor nos coloca em diversos momentos como voyeurs nesse relacionamento que inicia. É importante notar os diferentes pontos trabalhados por Haigh. Como exemplo, a maneira que utiliza o personagem de Glen como um tipo de fonte de toda a problemática em como a sociedade vê os homossexuais. Como o personagem mesmo coloca dizendo que as pessoas preferem ir a uma exposição que mostre cenas de violência extrema do que a uma que mostre casais homossexuais fazendo sexo. Ainda é interessante notar a maneira como o diretor coloca o interior e o exterior através das locações, o filme inicia com uma visão geral da cidade e finaliza da mesma forma. Mas também, boa parte do enredo repleto de confidências se passa dentro do apartamento de Russel.

Sendo a Europa uma região com um cinema gay forte e muito representativo, não é de se surpreender ao notar que Weekend venha do Reino Unido e seja um dos melhores filmes atuais a tratar do tema ao apresentar questões que surgem na comunidade gay e como ela é vista pelos olhos dos outros. É uma belíssima realização sobre o crescer da intimidade e como os encontros e desencontros levam à efemeridade dos relacionamentos.

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é graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (RS) e mestrando em Estudos de Arte pela Universidade do Porto, em Portugal.
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