
Crítica
Leitores
Sinopse
Em Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda, anos após Tess e Anna passarem por uma crise de identidade, agora, a mais nova tem sua própria filha e uma futura enteada. Enquanto lidam com os desafios que surgem da união de duas famílias, as duas descobrem que um raio cai, sim, duas vezes no mesmo lugar. Fantasia.
Crítica
Sequência do inesperado sucesso Sexta-Feira Muito Louca (2003), essa tardia continuação não é a segunda, nem terceira – e, sim, a quinta – incursão de Hollywood sobre o mesmo tema. O longa original, Se Eu Fosse Minha Mãe (1976), foi lançado há quase cinco décadas e contava com Barbara Harris e uma Jodie Foster ainda criança como protagonistas. Desde então já houve uma versão masculina – Tal Pai, Tal Filho (1987) – e uma feita diretamente para a televisão e mercado de home vídeo – Tal Mãe, Tal Filha (1995). Por qual motivo, portanto, se insiste nessa tecla? Bom, no início dos anos 2000, a razão era uma só: Lindsay Lohan. No auge da fama, a estrelinha-mirim justificou uma revisita a um velho clássico infantil, feito sob encomenda para capitalizar em cima do seu sucesso. O resultado foi imediato: um faturamento nas bilheterias mais de oito vezes superior ao seu orçamento, indicações ao Globo de Ouro e premiações na MTV Movie Awards. Parecia ter dado certo. Por quê, então, essa demora em investir numa sequência? A resposta é a mesma: Lohan se perdeu entre drogas e ataques de estrelismo, foi parar em clínicas de reabilitação e nunca mais voltou a desfrutar do status de antes. O motivo, portanto, agora é outro: Jamie Lee Curtis, recém-saída de uma vitória no Oscar e tentando ao máximo capitalizar em cima desse momento. Triste, no entanto, é assistir a esse Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda e perceber que nem uma, muito menos a outra, está no centro das atenções.
Pois o novo filme até pode ter recebido sinal verde para sua produção por causa de Lee Curtis, combinada com uma Lohan que aparenta ter vencido seus traumas e fantasmas e estar disposta a se mostrar mais uma vez uma aposta viável. O que não soa compreensível é a inclusão de duas novatas – Julia Butters e Sophia Hammons – e colocá-las como as verdadeiras protagonistas, deixando as antigas donas e proprietárias do campinho relegadas a uma posição de coadjuvantes. Eis que Tess (Lee Curtis) e Anna (Lohan) seguem suas vidas de modo intenso. Mas o peso dos anos faz diferença, e mesmo morando separadas, mãe e filha se mostram próximas. A ponto da neta buscar na avó a compreensão que por vezes parece faltar na relação com a mãe. Harper (Butters, vista em Era uma vez em… Hollywood, 2019, e em Os Fabelmans, 2022) teme perder o posto de filha única quando Anna começa a namorar com Eric (Manny Jacinto, de The Good Place, 2016-2020) e a entrada desse na família significa que sua filha, Lily (Hammons, de Amor nas Alturas, 2023) também passará a integrar esse contexto. As duas, até então mimadas por todos – cada uma no seu núcleo – passarão a ter que lidar com uma “meia-irmã” improvisada.
Eis, portanto, o terreno perfeito para uma nova “troca de corpos”. Porém, dessa vez a confusão se dá na potência ao quadrado. Pois a mistura será entre as quatro: avó e neta de última hora, mãe e filha. As mais novas se veem tendo que lidar nos papeis das mais velhas. Assim, as garotas é que estarão inseridas no corpo daquelas que muito viram e pouco parecem dispostas a ceder. Hammons, como Lee Curtis, em nenhum instante consegue ir além do clichê de “olha minha pele como está ótima”, enquanto que a veterana segue pelo mesmo caminho, com sustos do tipo “estou toda enrugada” e mais do gênero, investindo em uma demonstração exacerbada de etarismo que não condiz com o que se vive e proclama em pleno ano de 2025. Entre as duas não há conexão, e espera-se até o final da trama para que a troca entre elas se justifique – o que não acontece. As atenções estão mesmo entre a substituição de Butters e Lohan, que além de não ser bem desenvolvida por ter que dividir as atenções com a outra dupla, também não se confirma relevante por investir em estereótipos básicos das diferenças entre gerações (uns estão sempre cansados, outros são modernos e antenados, e por aí em diante). Não há um problema a ser superado. É só mais uma birra entre meninas mimadas e insatisfeitas com suas próprias vidas que, basta um dia sob uma alternância de perspectiva, para se convencer de “nossa, como sou feliz desse jeito mesmo”.
Outro problema é o desperdício do elenco masculino. O o recém-chegado Jacinto não recebe uma única passagem para exibir seu já comprovado talento, e mesmo a separação momentânea mais ao final dos acontecimentos – que acontece apenas para que ele seja convencido a voltar numa reunião do casal feliz, como todos já esperam – apesar de decidida por ele, é vista sob a ótica dela. Já Mark Harmon e Chad Michael Murray, que retornam aos seus papeis do longa original, se mostram quase desconfortáveis, deixando claro não terem muito o que fazer. A cineasta Nisha Ganatra se revela incapaz de alcançar qualquer uma das notas altas atingidas por Mark Waters em Sexta-Feira Muito Louca, entregando apenas um produto para consumo rápido, que talvez tivesse melhor proveito se fosse encaminhado direto para o streaming. Na tela grande, com toda a expectativa e responsabilidade que um lançamento desse porte naturalmente gera, a frustração é praticamente garantida. Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda não tem loucura, não se passa em uma única sexta-feira e é bem mais contida do que qualquer um dos seus pares anteriores. Ou seja, descartável e esquecível.
PAPO DE CINEMA NO YOUTUBE
E que tal dar uma conferida no nosso canal? Assim, você não perde nenhuma discussão sobre novos filmes, clássicos, séries e festivais!


Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)
- A Natureza das Coisas Invisíveis - 2 de setembro de 2025
- Anônimo 2 - 28 de agosto de 2025
- C.I.C.: Central de Inteligência Cearense - 28 de agosto de 2025
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Ticiano Osorio | 6 |
Maria Caú | 4 |
Francisco Carbone | 6 |
MÉDIA | 5 |
Deixe um comentário