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Sinopse

Um artista pobre e uma jovem rica se conhecem e se apaixonam na fatídica jornada do Titanic, em 1912. Embora esteja noiva do arrogante herdeiro de uma siderúrgica, a jovem desafia sua família e amigos em busca do verdadeiro amor.

Crítica

Assisti a Titanic apenas uma vez, quando estreou, em 1997. Nunca voltei ao cinema para revê-lo, apesar de ter gostado muito do que havia visto. Uma vez tentei dar outra chance em casa, na televisão, e lembro de ter desistido antes da metade. E assim foi, durante 15 anos. A obra de James Cameron estava lá, apenas como uma lembrança: feliz, porém ultrapassada. Até agora. Motivado pelo relançamento do filme em 3D e em homenagem ao centenário do acidente, decidi enfrentar o épico de quase 3h30min de duração mais uma vez. Mas não no cinema. Fiz isso com Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma, igualmente relançado neste ano em 3D, e me arrependi à morte! Que sacrifício! Não, desta vez veria em casa, em DVD, no meu home theater, muito bem acomodado e com todas as pausas que achasse de direito. Resultado? Maldito George Lucas! Por causa do pai de Luke Skywalker e Darth Vader perdi a chance de reencontrar Jack, Rose e o majestoso navio mais uma vez na tela grande! E com toda a pompa que o longa, de fato, merece. Este é um trabalho que enche os olhos, o coração, a mente. É cinema em todo o seu esplendor.

Na festa do Oscar daquele ano, Titanic chegou com pinta de favorito, tendo somado 14 indicações – um recorde até hoje, só igualado por A Malvada (1950). Destas, ganhou em 11 categorias – o filme mais premiado da história, ao lado de Ben-Hur (1959) e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003). Foram um total de 81 vitórias, em premiações nos Estados Unidos, Japão, Noruega, Alemanha, Inglaterra, México e República Tcheca, entre tantas outras. Foi, naquele momento, o filme mais visto de todos os tempos, com quase 2 bilhões de dólares arrecadados ao redor do globo – só superado, doze anos depois, por Avatar, do mesmo Cameron. Tudo nele era superlativo: o filme mais caro jamais feito (estimados US$ 200 milhões), com cenários gigantescos, com dois protagonistas alçados ao posto de ídolos pop – principalmente Leonardo DiCaprio, que virou febre entre as adolescentes nos cinco continentes – e um diretor tirânico, que exigia perfeição até nos mínimos detalhes, arrumou inimigos por todos os lados, abriu mão de seu cachê em troca de um percentual dos lucros (bela jogada!) para garantir o financiamento total e que chegou ao exagero de se declarar “rei do mundo” diante uma audiência de mais de um bilhão de pessoas. E isso se justifica? Absolutamente, do início ao fim!

Titanic não é desprovido de falhas – muito pelo contrário. Em diversos momentos temos certeza de estarmos diante de uma animação com limitações óbvias, e não de uma obra séria e realista. Das 14 indicações ao Oscar, chama atenção, por exemplo, o fato de não constar a categoria Roteiro entre elas. Ou seja, isso evidencia que a força do filme está em diversos aspectos – a maioria, técnicos – e não em sua trama. O enredo, por sua vez, é bastante simples e esquemático. A primeira metade exata ocupa-se em apresentar os personagens, envolver-nos com seus dramas, paixões e inseguranças e estimular no público reações de torcida, simpatia, raiva e contrariedade com o que é visto na tela. A metade final, no entanto, resume-se ao desastre em si. Esta é uma história que começamos já sabendo o final. É de conhecimento público e notório que o navio irá afundar a certo ponto, e que a maioria das pessoas à bordo irá morrer. Não há como evitar. Resta a questão: quem sobrevive e quem irá perecer? Os bons? Ou os maus?

Rose DeWitt Bukater (Kate Winslet) é uma jovem de casamento marcado com um rico empresário. A união foi arranjada e representa o futuro financeiro da própria família. Ela está no maior navio, com os melhores vestidos e cercada de todas as mordomias possíveis, e mesmo assim se sente infeliz. Angustiada com o que o futuro lhe reserva, com um marido que não lhe dá a devida atenção e um mundo de frivolidades e preocupações artificiais, ela decide se atirar em pleno oceano. Quem lhe salva é um jovem da terceira classe, Jack Dawson (DiCaprio), um artista que ganhou sua passagem num jogo de cartas e não tem a menor ideia do que fará no dia seguinte. O espírito libertário dele a conquista, e os dois se apaixonam. Enquanto esta indecisão – de um lado a família, o conforto, a segurança, e do outro o amor, a curiosidade, a descoberta – a consome, a tragédia acontece: o navio colide com um iceberg gigante, e o que era sonho e deleite se transforma, em questão de minutos, em pânico e desespero. Ali lhe vem a certeza: Jack é o seu homem, é com quem deve ficar. E juntos lutarão contra o inevitável: o fim de tudo o que conhecem até então.

Titanic é quase uma ópera. É um testemunho contra a ganância, contra o despreparo e a falta de solidariedade entre os homens. É também o registro de um dos maiores acidentes da humanidade, algo tão memorável que nunca deverá ser repetido. A genialidade de James Cameron, o maestro desta magnitude, foi em ser hábil com todos os clichês possíveis e fazê-los funcionar a seu favor. Os personagens, por exemplos, são completamente maniqueístas, sem meio termos. O mar é sempre calmo, o céu é constantemente azul. Tudo é belo, lindo, deslumbrante. E mesmo assim perigoso, assustador, mortal. Ficamos tão envolvidos com a dimensão dos feitos e fatos que ignoramos cada deslize. E mesmo o final, açucarado ao extremo, nos remete ao choro inevitável. Impossível ficar impassível, por mais improvável que seja.

Este é um filme sobre um episódio histórico que acabou fazendo História. Há muitos longas-metragens melhores do que Titanic. Porém são poucos os que conseguem utilizar os elementos da linguagem cinematográfica com tanto domínio, não a serviço de um ou outro ego mais inflamado, mas sim de olho no espectador. Fez-se magia em estado puro, com bons atores, uma equipe técnica no auge de sua forma e um realizador em estado de graça, que sabe exatamente o que quer e, principalmente, como conseguir. E o 3D que chega agora como uma cereja nesse bolo até pode representar um diferencial para essa nova geração que irá descobri-lo agora, pela primeira vez. Mas independente disso temos uma obra ainda impecável, que não envelheceu e continua encantando como poucas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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