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Sinopse
The Old Guard 2: Andy e sua equipe de guerreiros imortais enfrentam uma nova ameaça poderosa que põe em risco a missão do grupo de proteger a humanidade. Trata-se da habilidosa Discord, a primeira dos imortais, que possui negócios pendentes com Andy. Ação/Fantasia.
Crítica
Cinco anos se passaram desde a estreia de The Old Guard (2020), intervalo que, por si só, já despertaria atenção. Mas entre esse hiato e a chegada da continuação, o mundo enfrentou uma pandemia, a Netflix passou por reestruturação interna com a troca de CEOs e até um incêndio nos estúdios Cinecittà, em Roma, dificultou as filmagens. Charlize Theron, protagonista e produtora, chegou a comentar publicamente sobre os entraves na pós-produção. Greves de roteiristas e atores também cruzaram o caminho da obra. Tudo isso, claro, permanece invisível para o espectador médio, mas há marcas: a sequência soa deslocada – como se não pertencesse à mesma realidade de seu antecessor – e tudo o que funcionava foi, de alguma forma, deixado para trás.
Na trama, Andy (Charlize Theron) e seu grupo de guerreiros milenares enfrentam a insurgência de Discord (Uma Thurman), figura ameaçadora que surge não do mundo mortal, mas do próprio panteão de imortais. Aqui, os embates não se dão entre eles e os humanos comuns, mas entre si – há deserções, rupturas, traições. O universo externo, que antes oferecia perigo e perspectiva, agora está ausente, restando apenas o confronto interno, o que em tese poderia aprofundar relações e dilemas, mas na prática revela as fragilidades do roteiro.
Há decisão curiosa – e questionável – de tentar explicar o que antes era apenas aceito. A graphic novel criada por Greg Rucka não se preocupava em justificar a imortalidade dos personagens, eles simplesmente eram, até que deixassem de ser. O primeiro longa flertava com essas dúvidas, mas equilibrava a mitologia com boas sequências de ação. Nesta nova empreitada, porém, tudo é esquecido em favor de explicações excessivas e mecanismos inéditos: cria-se até uma suposta transferência de imortalidade entre personagens, ideia que não apenas colide com a lógica anterior, como também transforma a mitologia em tabuleiro de regras em constante mutação. Rucka, que assina novamente o roteiro, parece querer reinventar o próprio material de origem – e nem sempre para melhor.
Um ponto específico, no entanto, escancara as falhas conceituais da obra: a personagem Quynh (Veronica Ngo) e sua prisão no fundo do mar. Imortal, ela é condenada a morrer e renascer eternamente, presa em espécie de tumba aquática. A sequência, uma das mais comentadas da empreitada de 2020, serve como ponto de partida para o novo título. Ainda assim, permanece a dúvida incômoda: Andy teria passado meio milênio tentando reencontrá-la, sem sucesso, mesmo em mundo onde já se explorava as profundezas do oceano com alguma precisão desde meados do século XX. A descoberta dos destroços do Titanic, em 1985, por exemplo, não deixa margem para desculpas. Faltou sensibilidade histórica ao não deslocar a trama para os anos 1970, o que, pelo menos, suavizaria a incongruência e tornaria o drama de Andy mais crível – e não exigência de empatia sem alicerce.
The Old Guard 2 é produção que hesita o tempo todo e falta-lhe a contundência do longa anterior, assim como sua cadência entre emoção e ação. As relações prometidas não se aprofundam, a vilã introduzida não assombra, e os personagens centrais parecem perdidos em meio a mitologia inflada. Resta apenas o prenúncio de um terceiro capítulo, como se tudo o que foi visto servisse apenas de ponte. É aí que o espectador se dá conta de que viu filme que não termina – e, talvez, sequer tenha começado de verdade. Um ciclo de promessas que se quebram, quase como os vínculos entre os imortais que protagonizam esta estranha e turbulenta jornada.
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