Tangerine
Crítica
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Sinopse
Sin-Dee está de volta ao seu bairro depois de passar um tempo na cadeia, quando descobre que se namorado não tem sido fiel. Junto com a amiga Alexandra, ela vai tentar descobrir o que é fato e o que é mentira nessa história toda, entrando em contato no caminho com uma diversidade enorme de culturas em Los Angeles.
Crítica
Existe uma falta de pretensão em Tangerine que faz com que a produção de Sean Baker em muito relembre o cinema, que tanto faz falta, de John Waters. Tudo é muito exagerado na história de Alexandra e Sin-Dee Rella, duas transexuais negras que fazem programa nas ruas de Los Angeles. Quando Sin-Dee sai da prisão temporária que esteve por 28 dias e decide procurar seu namorado Chester, Alexandra deixa escapar que ele a traiu com uma “branquela com vagina de verdade”, a viciada em crack e prostituta Dinah.
Esse pontapé inicial eleva a trama a um road movie por Los Angeles com Sin-Dee decidida a se vingar de Chester e Dinah. A jornada começa nas calçadas, passa pelo metrô e também pelo táxi do armêmio Razmik que, apesar de ter uma família, mantém um caso com Alexandra e está apaixonado por Sin-Dee. Nestes passeios com Razmik, acabamos encontrando personalidades diversas que integram esse universo kitsch da cidade: bêbados, prostitutas, cafetões, traficantes e travestis. Baker brinca e faz piada com todos esses personagens ao som da trilha sonora, que mistura o som eletrônico de djs com a música clássica de Beethoven, além de um belo número musical de Mya Taylor, que interpreta Alexandra.
Brincadeiras à parte com este universo obscuro, Baker traz assuntos pertinentes em seu filme, dando protagonismo, como Waters fazia, a personagens que enfrentam preconceito e categorizações de gênero da sociedade, além de falar sem grandes filtros sobre sexualidade, drogas e prostituição. Há espaço ainda para dramas existenciais, família e a força da amizade. Com diálogos excepcionais e alinhados com a cultura pop, temos aqui um filme digno de culto da primeira à última cena.
Tangerine vem sendo muito comentado por ter sido filmado inteiramente com apenas três iPhones, uma lente e um aplicativo de filtro de imagens para celular. E, realmente, com o uso do suporte, o diretor explora planos e enquadramentos dignos de grandes equipamentos. A produção que leva o aval dos pais do mumblecore, os irmãos Duplass, é certamente elevada a algo muito além da subversão de um equipamento ao abordar temáticas tão universais e, ao mesmo tempo, excêntricas. John Waters deve estar orgulhoso.
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