
Síndrome da Apatia
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Alexandros Avranas
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Quiet Life
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2024
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França / Suécia / Alemanha / Estônia / Grécia / Finlândia
Crítica
Leitores
Sinopse
Em Síndrome da Apatia, Sergei e Natalia são refugiados políticos que imigraram para a Suécia com suas duas filhas, Katja e Alina, em busca de uma nova vida. Suas esperanças são destruídas quando o pedido de asilo deles é rejeitado. Sua filha Katja, traumatizada por esse episódio, desmaia e subitamente entra em um "coma". Drama.
Crítica
Já faz algum tempo que Alexandros Avranas despontou no meio cinematográfico com Miss Violence (2013), obra que integra a chamada Greek Weird Wave. Embora menos popular que seu conterrâneo Yorgos Lanthimos – cinco vezes indicado ao Oscar – Avranas também possui seus predicados. É realizador que transforma o espaço cênico em laboratório social, seja ele pátio escolar, paisagem aberta ou cômodo apertado. Mas seu maior trunfo talvez esteja na capacidade de tratar as variáveis emocionais em constante amadurecimento. Para Síndrome da Apatia, ninguém melhor que o premiado diretor grego para assumir a condução de empreitada tão incômoda quanto necessária.
Livremente inspirada em diversos casos documentados na Suécia, a trama acompanha Natalia (Chulpan Khamatova) e Sergei (Grigory Dobrygin), casal russo que busca refúgio após perseguições políticas. Quando o pedido de asilo é negado, a filha mais nova, Alina (Naomi Lamp), entra em coma, como resposta ao trauma e ao medo de retornar ao país natal. A irmã mais velha, Katja (Miroslava Pashutina), acaba cedendo à pressão dos pais e se junta a eles num plano arriscado: forjar situação ainda mais desesperadora na tentativa de obter novo parecer das autoridades suecas. Para os três, a recuperação de Alina está diretamente vinculada à sensação de segurança – e essa só será possível caso consigam permanecer.
A força da proposta está justamente no desvio de expectativas, pois, apesar do título, esta não é uma produção médica ou psicológica, tampouco se presta a explicar sintomas ou delimitar causas. Trata-se, antes, de retrato íntimo das tensões familiares em circunstâncias-limite. Como em Miss Violence (2013), o cineasta não se interessa tanto pelo ambiente em si, mas pelo que pode extrair dele, convertendo cada espaço em veículo de significados ocultos. Longos planos, frases econômicas e silêncios quase agressivos compõem a moldura de uma história em que a beleza, frequentemente, funciona como armadilha. A Suécia retratada não corresponde ao imaginário idealizado do bem-estar escandinavo, sendo fria e asséptica. Aqui, o verniz de civilidade se rompe diante da dureza dos trâmites.
Outro aspecto instigante é a inversão das prioridades, pois, em vez de tratar a crise migratória como epicentro da obra, ele a transforma em pano de fundo atmosférico, ruído constante que pressiona, mas não domina. O centro gravitacional reside nas relações íntimas, nos laços frágeis que se formam ou se desfazem sob tensão, nas pequenas violências cotidianas, nos pactos silenciosos firmados entre quem já não sabe o que é viver sem medo. Não se trata de ignorar o cenário político, mas de mergulhar nas consequências humanas que dele emergem, deslocando o foco do discurso para o campo emocional.
Ao retornar ao universo de relações disfuncionais que já havia explorado anteriormente, Avranas reitera inquietação constante: mesmo quando tudo parece calmo e controlado, há sempre algo em ebulição sob a superfície. Em Síndrome da Apatia, esse algo se manifesta de forma sutil, mas impactante. Um trabalho que não entrega respostas prontas, mas, com a performance intensa do quarteto Dobrygin, Khamatova, Pashutina e Lamp, provoca incômodos duradouros.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Victor Hugo Furtado | 9 |
Celso Sabadin | 7 |
MÉDIA | 8 |
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