Terror em Shelby Oaks

Crítica


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Sinopse

Em Terror em Shelby Oaks, Mia recebe uma fita misteriosa com indícios de que sua irmã desaparecida há anos pode estar viva. A partir daí, mergulha em uma investigação intensa e sufocante, que a coloca no centro de uma espiral de horror repleta de revelações perturbadoras. Horror.

Crítica

A premissa se anuncia interessante. Logo no começo, reportagens em um estilo documental falam sobre uma garota que estaria desaparecida. Mas não seria uma moça qualquer. Trata-se de uma webcelebridade, uma jovem que teria se tornado famosa em alguns círculos apresentando um programa de terror paranormal na internet. E, supostamente, teria sido justamente durante uma dessas reportagens para o seu canal no YouTube que ela teria sumido, sem deixar vestígios. E o pior: não estaria sozinha. A equipe era formada por mais três colegas, todos encontrados já sem vida. Apenas a respeito dela não sem tem nenhuma informação, nenhum relato, nada por onde se pudesse começar qualquer tipo de investigação, a não ser conhecimento do local do seu último registro. Uma pequena cidade fantasma, abandonada por todos e que hoje teria entrado em um estado avançado de decomposição. Em Terror em Shelby Oaks, qualquer tipo de presunção que se faça sobre o desdobramento dos acontecimentos é tão óbvio quanto o título, que deixa claro ter algo errado no endereço apontado. E se por um lado o início serve para aumentar as expectativas, da metade em diante toda sutileza é deixada de lado em nome de decisões fáceis e apostas rasas, fazendo da presença do espectador nada mais do que mera perda de tempo.

A protagonista do filme escrito e dirigido por Chris Stuckmann não é Riley (Sarah Durn, de Bagagem de Risco, 2024), a moça pelo qual ninguém sabe o paradeiro. Quem assume à frente da história é a irmã dela, Mia (Camille Sullivan, de O Resgate de Ruby, 2022), a única a acreditar que a caçula possa estar viva. Portanto, como é de praxe em situações como essa – ao menos no cinema de gênero norte-americano – ela decide ignorar qualquer aviso de alerta e parte sozinha para conduzir uma busca por conta própria. E não tendo se preparado antes ou esperado pelo despertar de um novo dia, opta por sair de imediato, e no meio da noite. Claro, nada melhor do que ir visitar um monte de casebres vazios e prestes a desmoronar do que em meio a uma escuridão quase absoluta. A série de absurdos se completa não quando percebe uma presença misteriosa nos corredores do presídio sem portas, mas logo em seguida, quando em meio a um bosque descobre estar sendo observada por uma senhora vestida em trapos e de aparência imunda. A velha, ao ser questionada sobre o que estaria fazendo ali, reage com calma e a convida a acompanhá-la até sua casa, que fica ali perto. Mia aceita, contrariando qualquer bom senso. Uma vez lá dentro, não apenas irá encontrar o que tanto procurava, como se deixará ser levada por um perigo ainda maior.

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Chris Stuckmann escreveu e dirigiu por quinze anos (num total de 13 temporadas, e contando) uma série de vídeos chamada Chris Stuckmann Movie Reviews, ou seja, no qual ele aparecia como crítico de cinema esmiuçando as obras de terceiros. Após alguns curtas sem muita expressão e outros programas para a internet (Quick Movie Reviews, 2018-2022; Hilariocity Reviews, 2014-2020) ele sai da teoria e parte para a prática com Terror em Shelby Oaks, deixando claro não ter aprendido muito com tudo que supostamente teria estudado em sua formação jornalística ou com as centenas de filmes a que assistiu no decorrer das últimas décadas. A ética duvidosa envolvida nessa produção se confirma também em uma estratégia de marketing que deve funcionar apenas entre os iniciados mais apressados, mas que não resiste a qualquer pesquisa imediata. Divulgado como se fosse um longa assinado pelo produtor Mike Flanagan, o que de fato aconteceu é que tal projeto só se tornou possível por meio de um crowdfunding, pelo meio do qual dezenas – para ser mais exato, 236 – de cidadãos comuns doaram fundos, tendo em troca recebido o crédito de “produtor associado”. O diretor de A Vida de Chuck (2024) e Doutor Sono (2019) foi apenas mais um dentre essas mais de duas centenas de indivíduos. Bem diferente do que se poderia imaginar, como se ele tivesse investido pessoalmente nessa aposta, quando na verdade tudo que fez foi uma doação a algo que, na ideia, talvez tenha lhe agradado. E nada mais.

Apesar destes deslizes na comunicação, nada soa pior para a experiência do espectador do que a indefinição do cineasta de primeira viagem em identificar qual caminho seguir com sua narrativa. Se no começo aposta num visual que remete ao amadorismo de A Bruxa de Blair (1999), logo abandona essa escolha para perseguir um modelo mais tradicional. Jumpscares e uma trilha sonora intrusiva fazem parte do menu, deixando pouco para a imaginação da audiência. Mas, conforme a trama avança, tudo aquilo que havia sido sabiamente sugerido passa a ser ignorado por meio de uma repetição excessiva dos mesmos dizeres, subestimando qualquer perspicácia do público para que nenhuma dúvida permaneça, deixando claro toda decisão, não apenas por meio de diálogos expositivos, mas também por fazer uso da imagem para corroborar aquilo que poderia ter permanecido enquanto sugestão. Assim, Terror em Shelby Oaks perde a chance de assustar por meio de um viés minimamente enigmático, investindo num modelo que mais se aproxima da paródia, na mesma velocidade em que se afasta do medo psicológico que nem mesmo na superfície chega a arranhar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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