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Sinopse

Enquanto tenta conquistar seu espaço como atriz, Bianca Ventura se dedica à imitação de personagens do cinema em eventos diversos. Quando um diretor francês se interessa por sua história, a grande chance finalmente aparece.

Crítica

Provocou questionamentos a seleção de Riscado para a mostra competitiva oficial de longas-metragens nacionais do 39º Festival de Cinema de Gramado. Como os organizadores do festival anunciaram que mais de 100 produções se inscreveram buscando uma das sete vagas, ficou difícil justificar a opção por um trabalho antigo e não-inédito (quesito que, até pouco tempo, era questão de honra no evento)? Além de ter participado do Festival do Rio, competição que o premiou como Melhor Atriz, para Karine Teles, este filme já havia sido exibido também no Festival de Verão do RS, que acontece em Porto Alegre no início do ano. Isso tudo, é claro, independente da qualidade (ou não) do material. Enquanto uns enalteceram o naturalismo da proposta e a entrega dos envolvidos na realização, outros viram aqui uma obra aquém da média e que não merecia tamanho destaque. Quem estava certo? Difícil afirmar, uma vez que o resultado é curioso, mas não muito mais do que isso!

Trabalho de estreia em ficção do diretor Gustavo PizziRiscado provavelmente teria sido mais bem-sucedido caso tivesse sido realizado como numa peça teatral, um conto ou até mesmo no formato de curta-metragem, por exemplo. Como longa, no entanto, incorre por momentos de pretensão, através de um discurso reiterativo e por demais específico, fazendo com que seus 85 minutos de duração se alonguem além do esperado. Exibido na noite de abertura de Gramado, foi responsável por uma cena constrangedora quando cerca de metade das pessoas presentes deixaram a sala de exibição durante a projeção. Ao término da sessão, o Palácio dos Festivais estava praticamente vazio, somente com os mais curiosos e interessados resistindo até o final.

Riscado trata da história de uma atriz lutando para exercer a própria profissão. Enquanto não consegue um trabalho decente, vai equilibrando o orçamento com bicos como entrega de telegramas, distribuições de flyers nas ruas e outras situações que beiram a humilhação. Sua vida, no entanto, parece estar prestes a sofrer uma grande – e positiva – mudança quando duas oportunidades lhe aparecem: atuar em um espetáculo de teatro e participar como protagonista de um filme co-produzido entre Brasil e França. Ela se dedica de corpo e alma aos dois projetos, se entregando por inteiro como se ambas fossem suas últimas chances de sucesso e glória. Mas é óbvio que as coisas nem sempre acontecem como imaginamos.

Com sete filmes na competição e levando-se em conta que três deles são documentários, Riscado parece ter sido selecionado em Gramado apenas por contar com um bom trabalho de interpretação – afinal, é preciso entregar prêmios também nessas categorias. Karine Teles, que também é roteirista do projeto, demonstra uma total submissão à personagem que defende, apontando como uma das grandes revelações desta temporada. É por ela, e por mais ninguém, que o filme se justifica, tamanho é seu comprometimento com essa personagem que vai do céu ao inferno em questão de minutos, apenas para logo em seguida ver suas esperanças se esvaziarem mais uma vez. No mais, o que se tem é um trabalho simpático e repleto de boas intenções, mas que não atinge tais propósitos por completo em muitos destes esforços. É bom assistir a um filme que tenha como foco o trabalho de atores. Mas é preciso mais do que isso para se fazer cinema, um espírito que Pizzi parece compreender, ainda que exija maiores ajustes.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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