Crítica

A dupla responsável por um dos maiores sucessos do cinema argentino recente está reunida mais uma vez, e novamente numa empreitada bem sucedida: Quem disse que é fácil? é dirigido e estrelado por Juan Taratuto e Diego Peretti, que se encontraram pela primeira vez em Não é você, sou eu, de 2004. E assim como no trabalho anterior, eles se aventuram pelo terreno da comédia romântica dramática, se é que esse gênero existe. Há bom humor, piadas ótimas e situações hilárias, mas há também paixão e sexo, além, claro, daquele toque de realidade típico dos nossos hermanos, mostrando que na grande maioria das vezes nem tudo ocorre conforme o esperado.

Quem disse que é fácil? tem como protagonista Aldo (Peretti), um solteirão cheio de manias que até já esqueceu como é dividir a vida com outra pessoa. As coisas mudam, no entanto, quando uma nova inquilina se muda para o apartamento ao lado: Andrea (Carolina Pelleritti, do elogiado XXY, 2007) é fotógrafa e tem um estilo bem mais leve e descontraído. Nos últimos 15 anos ela morou em diversos países, teve mais de duas dezenas de namorados e está grávida de um homem que não conhece. As visões de mundo dos dois irão inevitavelmente se chocar, mas provocando muito mais atração do que repulsa. Porém o ‘final feliz’ custará a chegar, e durante este caminho dos dois terão muitas provações a enfrentar e lições a aprender.

Diego Peretti é um dos grandes astros atuais da Argentina. Apesar de volta e meia se aventurar em obras mais sérias, como o suspense O Sinal (2007), exibido recentemente no Brasil, ele se sai muito melhor em comédias, como estes dois filmes feitos sob a condução de Taratuto ou no hilário Tempo de Valentes (2005), disponível em DVD – se você não viu, não sabe o que está perdendo! E ele é o fio condutor de Quem disse que é fácil?, um filme que vai se desdobrando aos poucos, num roteiro aparentemente superficial e óbvio, mas que ganha por outros méritos, como o direção segura do realizador, o roteiro bem amarrado de Pablo Solarz (Histórias Mínimas, 2002), e o ótimo elenco, que conta ainda com participações de Andrés Pazos (Whisky, 2004), Lídia Catalano (Por Um Mundo Menos Pior, 2004) e Guillermo Toledo (Crime Ferpeito, 2004).

Sucesso de público e de crítica, Quem disse que é fácil? recebeu quatro indicações ao Condor de Prata, o Oscar argentino, nas seguintes categorias: Melhor Ator (Peretti), Atriz (Pelleritti), Atriz Coadjuvante (Catalano) e Roteiro Original. E o melhor de tudo é nós, brasileiros, já termos ao nosso alcance a possibilidade de conferirmos um belo trabalho como este e com tanta rapidez, uma vez que ele foi exibido no país vizinho há menos de um ano. O formato é um tanto convencional, a conclusão é previsível e o resultado final não é dos mais marcantes – mas, por outro lado, é divertido e entretém com muita competência, proporcionando duas horas de leveza e descontração, sem que para isso precise ser tolo ou superficial. Um ótimo exemplo para os realizadores brasileiros, que acreditam só existir o cinema hollywoodiano como amostra nestes casos. Não é preciso ser idiota para ser popular. E os argentinos já sabem disso, ao menos no cinema!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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