Por Amor
Crítica
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Sinopse
Andrew Wakefield (Ashton Kutcher) está em busca de vingança pelo assassinato de sua irmã, mas tem sua atenção desviada ao conhecer Linda (Michelle Pfeiffer), uma mulher mais velha que perdeu o marido. Juntos eles tentam superar a dor. Andrew logo se torna o mentor do filho de Linda, tornando-se para ela algo mais do que uma simples companhia.
Crítica
Alguns atores deveriam saber escolher melhor os seus papéis, principalmente em Hollywood, em que as opções são tantas e variadas. Ashton Kutcher e Michelle Pfeiffer, por exemplo, nunca deveriam ter aceitado participar de Por Amor, longa que passou em branco nos Estados Unidos e chega agora discretamente ao Brasil. Os personagens que interpretam aqui são completamente distantes do potencial de cada um: enquanto ele tenta explorar um potencial dramático inexistente, ela se perde em mais uma tentativa de parecer comum e desglamourizada – ambos sem muito sucesso, é claro. Como resultado, o que temos são intérpretes equivocados, se esforçando além da conta dentro de um universo que exige mais do que eles podem oferecer.
Linda (Pfeiffer) é mãe de um garoto adolescente surdo-mudo. Os dois sofrem a perda recente do marido/pai, assassinado por um conhecido após uma noite de bebedeiras. Numa ida a um grupo de apoio à familiares de vítimas, ela conhece Walter (Kutcher), rapaz que teve a irmã morta após ser estuprada. Ele está com a mãe (Kathy Bates, dos recentes O Dia Em Que A Terra Parou e Foi Apenas um Sonho), e os dois precisam cuidar também da neta/sobrinha, uma menina de cinco anos. Linda e Walter vêem um no outro uma possibilidade de conforto, amparo e redenção. Ela sabe quem matou o esposo, ele não tem ideia da identidade de quem violentou a irmã. Ela tem a quem culpar, ele precisa desesperadamente extravasar sua raiva. E, no meio disso tudo, há o menino deficiente, igualmente raivoso e inconformado, porém sem conseguir – literalmente – dar voz ao seu sofrimento.
A entrada de Walter, um jovem lutador de 24 anos à procura de uma ocupação, na vida desta família em busca de união, terá um significado inédito para todos os envolvidos. Ele será, pela primeira vez, importante, assumindo responsabilidades consigo e com os outros. Ela terá um objetivo, um apoio e um suporte. E o rapaz encontrará, pela primeira vez, uma figura paterna que estará ao seu lado, oferecendo orientação e companheirismo. Na verdade, todos estarão sendo movidos muito mais pela solidariedade e no sentido de fugirem de seus próprios lugares escuros. Desta forma, a tragédia que se anuncia ao final é tão óbvia quanto inevitável. Afinal, a solidão pode ser mais assustadora do que o esperado. E no momento de desespero, decisões impensadas poderão ecoar por toda uma vida, provocando conseqüências irremediáveis.
Por Amor tem muito mais sentido de acordo com o título original, Personal Effects – efeitos pessoais, ou seja, cada um por si, buscando no próximo um meio de se livrar da própria dor, e não em aliviar a do outro. Na direção está David Hollander, estreando no cinema após breves trabalhos na televisão. Ele imprime uma sensibilidade similar à de produções independentes norte-americanas, tão acostumadas com temas experimentais sobre famílias disfuncionais. Mas quando à frente do elenco temos nomes tão populares quanto Kutcher e Pfeiffer, esse diferencial acaba soando mais como estranheza do que como elemento atraente – ainda mais quando é perceptível o desconforto deles. A fotografia morna, a trilha sonora discreta e a exagerada narração que acompanha o desenrolar dos acontecimentos enterram de vez as possibilidades de um filme que merecia um cuidado maior. E a nós, espectadores, resta apenas testemunhar o desperdício de boas oportunidades.
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