Plano em Família 2

Crítica


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Sinopse

Em Plano em Família 2, é temporada de festas e Dan (Mark Wahlberg) planejou as férias perfeitas para sua esposa Jessica e seus filhos comemorarem no exterior até que uma figura misteriosa do passado dele aparece com assuntos inacabados. O que se segue é um jogo internacional de gato e rato.

Crítica

O ponto de virada (para baixo) de Mark Wahlberg talvez tenha sido Uncharted: Fora do Mapa (2022), filme que, segundo fofocas dos bastidores, ele teria recebido o convite para estrelar com entusiasmo apenas para ver essa empolgação diminuir ao se dar conta de que o verdadeiro protagonista seria o muito mais jovem Tom Holland, enquanto a ele caberia o papel do mentor, aquele que teria que ensinar seus passos a um novato aprendiz. Desde então, o galã que se recusou a participar de O Segredo de Brokeback Mountain (2005) por temer que sua imagem máscula fosse afetada (“não consegui passar da página 14 do roteiro”, teria supostamente alegado na época) tem feito basicamente o mesmo personagem uma vez após a outra, seja em projetos para o cinema, em presepadas ao lado ou sob o comando de Mel Gibson (alguém em quem parece se espelhar na escolha de ideais) ou em produtos descartáveis feitos sob encomenda para o streaming. Nesse último caso, apenas desde a pandemia do Covid-19 já foram oito títulos distintos (uma média de dois por ano). E eis que agora estamos no nono passo do lema pessoal que afirma que “time que está ganhando, não se mexe”: Plano em Família 2, que praticamente repete os mesmos passos do anterior Plano em Família (2023), acrescentando pouco para ser possível diferenciar um do outro, tanto em resultado na tela, como em avaliação crítica.

Esta sequência novamente comandada por Simon Cellan Jones (terceiro longa seguido que entrega tendo Wahlberg à frente do elenco, pois entre esses dois lançou o drama canino-esportivo Uma Prova de Coragem, 2024) consegue o feito – não que precisasse muito – de se sair ligeiramente melhor do que o seu antecessor pelo simples fato de deixar de lado o já batido argumento do “homem de família que precisa esconder daqueles ao seu redor o seu passado violento”. Agora, todo mundo já sabe que Dan Morgan foi anos atrás o assassino sob encomenda Sean McCaffrey, e que sua vida como pai de família e vendedor de carros usados teve início a partir do instante em que decidiu deixar para trás essa violenta realidade. O problema é que há situações que não podem ser simplesmente enterradas. E assim como antes fora o pai (Ciarán Hinds) que ressurgiu no seu encalço com ameaças e provocações, dessa vez o mesmo recurso se mantém, substituindo apenas o laço familiar: a surpresa agora é um irmão bastardo que o protagonista nem sabia existir, Finn (Kit Harington, que já teve experiências melhores no currículo, e aqui parece resignado em apenas fazer caras e bocas até levar a inevitável surra final do seu oponente). Se o sucesso se repetir – surpreendentemente, Plano em Família é o filme mais acessado de toda a história da plataforma AppleTV+ – é de se esperar que no futuro seja uma mãe desaparecida a próxima a assombrar este homem tão devotado, mas que do ontem não consegue se ver livre.

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Se Cellan Jones e o roteirista David Coggeshall (o mesmo dos descartáveis Órfã 2: A Origem, 2022, e A Libertação, 2024) começam sua trama deixando claro estarem dispostos a se divertir – Dan (Wahlberg) e a esposa, Jessica (Michelle Monaghan, que ao menos deixa de ser apenas a mocinha em perigo, como na saga Missão: Impossível, para se revelar disposta a alguns chutes e socos) surgem em um hotel elegante como se estivessem em alguma espionagem secreta, apenas para em seguida se mostrarem envoltos em uma comemoração pessoal de aniversário de casamento. O tom leve se manterá presente, mesmo diante dos desdobramentos rocambolescos impostos pela chegada do caçula endiabrado: serão acusados de assaltar um banco, terão que invadir uma fortaleza, presenciarão a casa de uma senhora e seus muitos gatos ser colocada abaixo e ainda terão que arrumar desculpas para agentes da Interpol, tudo isso em meio a perseguições pelas ruas de Londres ou pelos telhados de Paris. Sim, deixa-se de lado a Las Vegas pré-fabricada do primeiro longa para uma mudança de ambientação rumo aos cenários originais que apenas o continente europeu poderia proporcionar. O objetivo é manter-se em constante movimento, afinal, quanto menos se pensar a respeito, maior a chance de aproveitar a viagem. Uma vez encerrado o passeio, que se passe para o próximo play, relegando a distração anterior a um irrevogável esquecimento.

Em notável crise etária, Mark Wahlberg até tenta se mostrar bem-humorado frente às diferenças de idade entre ele e seus colegas de elenco, mas por vezes lhe sobra pouco a fazer além de ceder seu lugar a outros. Harington tem charme suficiente para lhe fazer oposição, da mesma forma que Van Crosby (o filho Kyle) ou Reda Elazouar (o namorado Omar) se confirmam mais versáteis frente aos desafios impostos a seus personagens. Enquanto isso, brincadeiras já empregadas também se repetem, como o karaokê automotivo com um sucesso de décadas atrás (após “Ice Ice Baby”, de Vanilla Ice, é chegada a vez de “Unbelievable”, do EMF… será que podemos esperar um terceiro episódio com a indefectível “Good Vibrations”, do próprio ator?) ou a onisciência do bebê Max (agora já com quatro anos e interpretado pelos gêmeos Peter e Theodore Lindsey. É mais do mesmo, até naquilo que parecia ser seu escasso diferencial. E é dessa forma de Plano em Família 2 se confirma disposto a reciclar aquilo que já era genérico, gerando tensão zero em seus supostos perigos e apenas preparando terreno para a continuidade daquilo que poucos anseiam por mais. Triste fim, Marky Mark.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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