Crítica

Com uma premissa que carrega certo potencial – ainda que não seja das mais originais – Paternity Leave faz um bom trabalho ao retratar a dinâmica do relacionamento do casal principal. No entanto, ao preferir se assumir como um filme cômico, percebe-se que apresenta mais erros do que acertos.

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A comédia indie do diretor Matt Riddlehoover acompanha Greg (Jacob York), um homem que descobre estar esperando um filho de seu namorado Ken (Charlie David). A notícia absurda da gravidez faz com que os dois homens caiam na gargalhada, acreditando que tudo se trata de uma brincadeira dos médicos. Passado o choque, entretanto, a história se transforma essencialmente num drama focado no casal e nas mudanças que um filho inesperado pode trazer ao relacionamento dos dois. É uma pena, porém, que o filme continue esperando arrancar risos da audiência simplesmente apresentando o absurdo da gravidez de várias maneiras diferentes. O espectador se acostuma à ideia quase tão rapidamente quanto os próprios personagens, que inclusive descobrem vários casos similares nos noticiários.

Parece faltar ao diretor e roteirista um senso de orientação para a narrativa. Se em alguns momentos transparece uma tentativa de criar uma comédia inteligente nos moldes de Woody Allen (com direito a diálogos rápidos e até jazz na trilha sonora), em outros o humor parece caminhar para o outro lado do espectro, como no caso de uma gag escatológica ou nos momentos em que toda a graça se deve ao fato de estarmos diante de um homem agindo como uma mulher. Se há algum senso de humor em cena, é graças à performance competente de Jacob York, que faz do protagonista um tipo sarcástico, que vez ou outra conclui diálogos com uma boa tirada.

Visualmente tedioso, Paternity Leave parece se concentrar apenas nos longos takes de diálogos semi-improvisados, algo que não seria necessariamente um problema se as performances fossem mais fortes. York é carismático e tem uma boa dinâmica com seu parceiro, mas as atuações do elenco de apoio deixam muito a desejar, à exceção Chris Salvatore, que aparece como Thomas, o rapaz que auxiliará Greg no parto. Ainda que seja importante levar em consideração o fato de se tratar de um filme independente e de baixo orçamento, é difícil não fazer comparações com trabalhos como Tangerine (2015), de Sean Baker, que surpreendeu positivamente a crítica mesmo tendo sido filmado inteiramente num celular, com pouquíssimo dinheiro e atrizes iniciantes.

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Paternity Leave, porém, não é de todo ruim. É difícil não criar certa simpatia pelo casal principal, e o filme oferece uma perspectiva interessante a respeito de amadurecimento, família e relacionamentos amorosos em geral, não apenas os homossexuais. O humor não funciona na maior parte do tempo, mas o carisma do casal acaba convencendo o espectador a torcer por Greg e Ken na jornada que enfrentam juntos, cada um à sua maneira, rumo à paternidade.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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