Otro Sol

Crítica


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Sinopse

A busca por um ladrão chileno que roubou a Catedral de Cádiz, na região espanhola da Andaluzia, no século passado.

Crítica

A proposta é ousada. A partir da trajetória atribulada do chileno Alberto Cándia, que teria roubado tesouros da Catedral de Cádiz, na Espanha, em 1978, Francisco Rodríguez Teare alterna entre a ficção e a realidade para desenvolver origens desse mítico trapaceiro. Acontece que, ao entrevistar personagens aleatórios no Deserto do Atacama, o diretor conta com o voo cego do espectador menos familiarizado, que precisará de algumas pesquisas pregressas antes de concentrar-se em Otro Sol. Qual seria o objetivo de realçar tal figura?

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Ignorando o hermetismo particular à obra, o realizador se baseia numa popular ideia que começou a ser construída na década de 1970, quando o ditador Augusto Pinochet passou a estabelecer conexão íntima com o narcotráfico. Entretanto, não para combatê-lo. O autocrata pretendia controlar as transações de pasta base e cocaína em todo o território nacional. Assim, qualquer contraventor que estivesse em seu caminho, era exilado. Ou seja, uma geração de larápios chilenos se espalhou pelo globo, criando a ideia de que o Chile criava tantos ladrões competentes que era capaz de “exportá-los”.

O contexto em si já é capaz de carregar muitas nuances. E é nele em que a trama seria capaz de se concentrar. Alberto Cándia é apenas norte motivador e longínquo, pois sua aura é evocada em poucas narrações em off e em uma ou duas referências. Sendo assim, é justo comunicar que pouquíssimo se retratará sobre alguém e o cineasta, no final das contas, ficará no meio do caminho. Há apenas variadas interlocuções com moradores de local remoto cujos problemas moldam suas personalidades. As paisagens são instigantes e a captura delas é esmerada, mas o espectador não terá mais do que a contemplação como mão amiga. Os protagonistas, aliás, não chegam a ser cativantes, mas podem iludir entre cada contação de bravatas, gerando sensações variadas.

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Palco de expurgos da Ditadura de Pinochet, esse hostil pedaço do sul da América do Sul abriga passados conturbados, recheados de dúvidas e resignações. Tais recursos, principalmente para responsáveis tão aclimatados com o assunto, poderiam ser propulsores de mais do que apenas composições vagas em Otro Sol. Isso, é claro, se Rodríguez Teare priorizasse “sol” específico, subtraindo suposto “outro”.

Filme visto durante a 17ª CineBH: Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte (2023).

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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