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Sinopse

Harriet Vanger desapareceu há 36 anos, sem deixar pistas, na ilha de Hedeby. O local é de propriedade quase exclusiva da família da vítima, que o torna inacessível para a grande maioria das pessoas. A polícia jamais conseguiu descobrir o que aconteceu com a jovem, que tinha 16 anos na época. Mesmo após tanto tempo, seu tio ainda está à procura dela. Por isso resolve contratar Mikael Bomkvist, um jornalista investigativo que trabalha na revista Millennium. O repórter não está em um bom momento, pois enfrenta um processo por calúnia e difamação. Ele aceita o trabalho, recebendo a ajuda de Lisbeth Salander, uma investigadora particular incontrolável e anti social.

Crítica

Quando tinha apenas 15 anos, Stieg Larsson presenciou uma garota ser estuprada por um homem mais velho e foi incapaz de tomar qualquer atitude para ajudá-la. O nome dela era Lisbeth, e essa trágica lembrança ficou marcada em sua memória até o dia de uma morte, em 2004. Quando faleceu, sua esposa encontrou no escritório do marido três manuscritos completos e mais um em andamento. Na verdade, Larsson planejava escrever uma série de dez volumes que tinham como protagonista Lisbeth, uma mulher de passado conturbado mas que não temia o futuro. Não se sabe se a Lisbeth real era a mesma da ficção. O que se tem como certo é que uma serviu de inspiração para a outra e, com isso, para o surgimento da trilogia Millennium, que foi levada pela primeira vez às telas em 2009, no longa sueco Os Homens que não Amavam as Mulheres. Somente o título já é suficiente para apontar para a evidente afinidade entre elas.

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Stieg Larsson não viveu para presenciar o sucesso de sua criação, infelizmente. Hoje, os três livros publicados postumamente já venderam mais de 50 milhões de cópias em todo o mundo. Foram adaptados para o cinema (duplamente!) e para a televisão. Mais popular do que nunca, tem como principal mérito se tratar de uma história absolutamente madura e adulta, que não teme adentrar em temáticas bastante problemáticas, como violência contra a mulher, serial killers e corrupção industrial, sempre com uma ótica corajosa e ousada. Os três livros – o já citado e os posteriores A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar – serviram de base para uma trilogia homônima produzida na Suécia em 2009, além de uma minissérie para a televisão europeia. Em 2011 o primeiro livro/filme ganhou um remake americano, o que comprova o sucesso da empreitada.

A trama é intrincada e corre em três frentes, que com o andar dos acontecimentos inevitavelmente terminam se cruzando. De início temos a família Vanger, poderosa e industrial, que mora quase que por inteiro numa ilha no norte da Suécia. Em 1964 a sobrinha do atual presidente das empresas foi assassinada, mas ninguém sabe como, quando e por quem. O único fato que é de conhecimento de todos é o seu desaparecimento numa situação que limita os suspeitos aos próprios primos, tios e demais familiares. E agora, quarenta anos depois, esse mesmo tio está disposto a um último esforço para solucionar esse mistério. Em outra frente temos Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist, de Missão: Impossível – Protocolo Fantasma, 2011), um conceituado jornalista, um dos donos da revista Millennium, que acabou de ser processado por infâmia por um outro importante empresário, por sinal inimigo da família Vanger. E por fim há a esquisita e exótica Lisbeth Salander (Noomi Rapace), uma hacker que trabalha numa empresa de investigação. Para ela não existem segredos, e tudo o que deseja descobrir é uma questão de horas para que consiga. Os dois, Lisbeth e Blomkvist, irão se unir para desvendar o caso Vanger, mas somente quando tomarem conhecimento de todos os detalhes do episódio é que terão uma boa noção do perigo que correm.

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Não cabe aqui comparar as duas versões cinematográficas dessa história, mas é importante reafirmar as qualidades e os méritos dessa versão sueca. Os Homens que não Amavam as Mulheres é um filme intenso e envolvente, que literalmente tira a respiração do espectador. Apesar de promover diversas mudanças em relação ao livro – principalmente em sua conclusão – nenhuma delas chega a deturpar o sentido original proposto pelo autor. Os atores estão em plena forma, tanto que ambos, após esse trabalho, despontaram para Hollywood. O longa foi premiado com o BAFTA (o Oscar inglês), o Critics Choice Awards (EUA) e o Satellite Awards (EUA) de Melhor Filme Estrangeiro, além de ter recebido mais de uma dezena de prêmios internacionais e outras tantas indicações. Bastante elogiado também pelo público, é um trabalho que permanece mesmo após o término de sua projeção, seja pela resolução inesperada, pelo clima de alarme constante ou pelo enredo intrincado que respeita a inteligência do público. Uma obra competente e bem realizada, e que se sustenta a despeito de todo o circo que existe ao seu redor. Um verdadeiro achado, em todos os sentidos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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