Crítica

Premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2008, Os Falsários chegou aos cinemas brasileiros com mais de dois anos de atraso em relação ao seu lançamento no país de origem, a Áustria. E se é raro para os brasileiros a oportunidade de conferir na tela grande uma produção austríaca, mais surpreendente é perceber a enorme qualidade que esta possui. A despeito da repetição do tema abordado – a perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial – o longa consegue envolver como elementos de suspense e mistério, principalmente devido ao inusitado ponto de vista adotado.

Com direção e roteiro de Stefan Ruzowitzky e baseado no livro autobiográfico de Adolf Burger, Os Falsários surpreende pelo fato histórico que revela. O protagonista é Sally Sorowitsch (Karl Markovics, em ótima atuação), um conhecido falsificador que, após muito aprontar, é finalmente pego pelo polícia. Estamos em meados dos anos 30, antes do início da guerra. Porém, quando essa começa, ele deixa de ser um criminoso qualquer para se tornar uma pária judia. Mas não por muito tempo. O mesmo homem que o capturou agora está cuidando de uma divisão do comando nazista responsável por uma estratégia arriscada e muito ousada para desestabilizar o conflito: reproduzir em grandes quantidades dinheiro falso do inimigo (dólares e libras). A intenção é, com essa grana, não só adquirir mais armamentos, como também invadir os mercados destes países, provocando um aumento da inflação e desestabilizando a economia. E, para isso, ele precisa da ajuda e do talento de Sally e seus amigos.

O centro da ação de Os Falsários é o embate que se dá entre Sally e Burger (o próprio autor do livro). Enquanto um quer mais fazer o que lhe pedem e, assim, garantir uma certa mordomia dentro da prisão e, acima de tudo, continuar se mantendo vivo, o outro deseja sabotar qualquer iniciativa que colabore com as metas nazistas, pois percebe com muita sabedoria que qualquer sucesso neste sentido significa a continuidade da guerra e, consequentemente, a permanência deles como prisioneiros. Mais do que isso, Burger pensa também nos seus familiares e amigos, que desprovidos de uma condição um pouco mais favorável como a que eles estão, naquele momento, desfrutando, podem ser assassinados a qualquer instante. Ou seja, estabelece-se um embate entre o individual e o coletivo, uma batalha que é travada muito mais internamente e em acaloradas discussões do que com bombas e metralhadoras. E é justamente neste ponto que o filme consegue se diferenciar de um mar de produções recentes que partem do mesmo cenário, pois aposta na originalidade deste retrato de um insólito episódio verídico.

Apesar do Oscar, Os Falsários não teve tanta repercussão junto à crítica – participou do Festival de Berlim, sem grande destaque – o que tornou sua vitória ainda mais surpreendente. Mas de forma alguma desmerecida. É um trabalho sério e contundente, que levanta importantes questões morais e éticas, ao mesmo tempo em que se utiliza de uma estrutura já familiar dos cinéfilos de plantão – afinal, a Segunda Guerra Mundial é um dos temas mais recorrentes do cinema moderno. Dotado de um elenco acima da média, uma reconstituição histórica competente e uma direção segura, esta é uma opção que combina entretenimento, curiosidade, relevância e novas luzes a um assunto que até pode ser considerado repetitivo, mas que serve como alerta para algo que nunca pode ser esquecido.

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