Os Bad Boas

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Sinopse

Os Bad Boas: Um investigador dedicado e um ex-policial imprudente são obrigados a trabalhar juntos. Mas esse encontro vai acabar causando um verdadeiro caos nas ruas de Roterdã, nos Países Baixos, mudando todo o curso da missão inicial. Ação/Comédia/Crime.

Crítica

É curioso observar como ainda hoje há quem mergulhe de cabeça em certos gêneros cinematográficos, com a confiança de quem acredita estar pisando em terreno fértil. O universo das duplas policiais, ou buddy cops, já viu de tudo: de clássicos empolgantes a sátiras autorreferenciais. Viveu sua era de ouro entre os anos 1980 e 1990, encontrou ecos pós-modernos nos anos 2010, e hoje pede algo além, talvez reinvenção ou olhar mais agudo sobre seus próprios clichês. O título Os Bad Boas já entrega a piscadinha: há reverência cômica à saga Bad Boys, o que sinaliza que a proposta passa longe da inocência. Mas só a intenção não basta.

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A trama segue Jack (Werner Kolf), investigador convencido, típico representante do arquétipo durão com alguma ternura escondida. Após erro que culmina na morte de seu parceiro Kevin (Yannick Jozefzoon), Jack é punido: deixa a elite da polícia e passa a atuar como BOA, espécie de agente de trânsito de Roterdã. O cargo, além de simbólico, o obriga a lidar com Ramon (Jandino Asporaat), irmão do policial falecido, parceiro novo e figura antagônica em todos os sentidos. Entre traumas mal resolvidos e novas dinâmicas, surge chance de redenção.

Dado o histórico do gênero, não é preciso esforço para antecipar os movimentos do enredo. A investigação paralela de Jack continuará, mesmo sob restrições. As rusgas entre ele e Ramon se prolongarão até o momento oportuno de reconciliação. A comédia virá em doses intercaladas com ação, e os antagonistas, embora perigosos, escorregarão no ridículo. Cada curva do roteiro parece guiada por GPS programado nos anos 1990, o que compromete qualquer expectativa de surpresa.

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A novidade possível talvez esteja no fato de vermos dois protagonistas negros à frente de uma produção europeia do tipo. Ramon, o alívio cômico, sustenta humor autodepreciativo que remete a formatos ultrapassados, forçando a piada da insegurança como muleta emocional. Jack, por sua vez, evita a comédia, mas quando tenta, aposta em referências como a velha piada sobre Matt Damon sendo salvo em todos os seus filmes. Em pleno 2024, soa como eco de um especial de stand-up datado.

A impressão é de que, entre os cinco roteiristas creditados na obra, faltou alguém com pulso genuíno para o cômico. Não que fosse necessário um nome como Adam Sandler – embora, convenhamos, até ele saberia preencher o tempo com alguma consistência cômica. O problema aqui é estrutural: as tentativas de humor soam artificiais, desconectadas do timing e do corpo. Nem mesmo o recurso ao pastelão mais desesperado chega a funcionar. Fica a sensação de uma sala de roteiro sem risos.

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Os Bad Boas se resume a sucessão de esquetes previsíveis, sem energia, sem carne. Os personagens mal respiram dentro de suas próprias cenas, enquanto os coadjuvantes transitam por ali como se tivessem sido encaixados às pressas, para cumprir tabela. É uma pena – e não apenas para o diretor Gonzalo Fernandez Carmona, que tinha aqui a oportunidade de alcançar maior visibilidade – mas também para qualquer espectador que ainda cultive alguma curiosidade por esse subgênero. Justamente porque, ao contrário do que a superfície sugere, não é tão simples assim voltar a pisar nesse terreno.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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