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Sinopse
Em Oro Amargo, a trama se passa no deserto do Atacama, no Chile. É lá onde Carola assume a direção da mina de ouro do pai após um acidente. Inexperiente, enfrenta a resistência e a desconfiança dos trabalhadores. Entre conflitos e desafios, precisa provar sua força para manter o controle do local. Western.
Crítica
Nem toda produção precisa de grandes explosões para criar impacto. Algumas preferem agir de forma mais sutil, quase silenciosa, como se estivessem testando a atenção do espectador a cada gesto, a cada nuance. Oro Amargo, do chileno Juan Olea, chega assim: discreto no início, mas com a confiança de quem sabe onde quer chegar – e sabe quem quer explodir. A tensão se acumula com inteligência, os personagens surgem carregando passados que não precisam ser ditos, e a brutalidade do mundo em volta molda cada escolha. Ao final, tudo parece inevitável, e é aí que mora a força do trabalho.
Ambientado no deserto do Atacama, o projeto acompanha Pacífico (Francisco Melo), mineiro que sobrevive garimpando rochas sem autorização. Ao seu lado, um pequeno grupo de homens tenta sobreviver dia após dia. Entre eles está Carola (Katalina Sánchez), filha do protagonista e única mulher daquele espaço desolado. Um conflito com trabalhadores legalizados acaba ferindo Pacífico e deixa Carola como responsável pelo sustento do grupo. O ambiente, evidentemente hostil à presença feminina, impõe barreiras que ela precisará enfrentar com coragem, inteligência e presença.
É nesse ponto que o longa encontra sua alma. Katalina Sánchez, em atuação de rara precisão, imprime em Carola um vigor que desafia rótulos. Conhecida por papéis menores em minisséries e por seu desempenho em Sayen: A Rota Seca (2023), ela entrega aqui protagonista em transição, cuja fragilidade convive com a força que a situação exige. O olhar atento, os gestos comedidos e a entonação segura transformam cada cena em palco para sua maturidade cênica.
Com roteiro e direção firmes, Olea conduz sua empreitada com precisão milimétrica. Nenhuma escolha parece acidental. O uso simbólico de objetos e ações obedece com rigor a velha máxima das armas de Chekhov: tudo o que entra em cena, retorna com função dramática clara. Uma chave, um veículo escondido, uma frase dita de passagem – tudo se justifica e reaparece quando mais importa. A montagem respeita o ritmo interno da história, permitindo que o desconforto cresça aos poucos, até que a narrativa, já sufocante, finalmente explode.
Ao evocar elementos do western para subvertê-los sob perspectiva feminina, Oro Amargo costura com precisão uma crítica social que jamais soa forçada. A trajetória de Carola não se reduz a uma superação individual, mas ecoa como denúncia contra estruturas que silenciam, apagam e descartam. Em vez de oferecer consolo ou redenção, insiste no embate, tornando cada conquista da protagonista fruto de enfrentamento árduo, nunca celebrado com euforia. É grito abafado, mas incessante, de quem resiste mesmo sem promessas de glória.
Filme conferido no 3º Bonito CineSur: Festival de Cinema Sul-Americano, em julho de 2025
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