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Sinopse
Em O Último Episódio, Erik, um garoto de 13 anos, tem uma paixão platônica por Sheila e, para se aproximar dela, diz ter em casa uma fita com o lendário desfecho do desenho Caverna do Dragão. Com a ajuda de seus amigos, busca uma saída para a enrascada em que se meteu, vivendo uma intensa história de amadurecimento. Comédia/Drama.
Crítica
É incrível perceber que O Último Episódio é só o primeiro longa assinado por Maurílio Martins. Afinal, ele é quase um veterano. Um dos quatro sócios da produtora mineira Filmes de Plástico – ao lado dos também cineastas André Novais Oliveira e Gabriel Martins, além do produtor Thiago Macêdo Correia – lançou antes, como codiretor, o criativo No Coração do Mundo (2019) – ao lado de Gabriel – e esteve envolvido, de uma forma ou de outra, em várias das produções assinadas pelos colegas. Porém, aquele que achar que já o conhece pelo que viu com a assinatura dele até então, é importante rever essa impressão. Afinal, o cineasta consegue deixar uma marca pessoal nesse projeto solo, distanciando-se dos parceiros – que não deixam de se fazer presentes – ao mesmo tempo em que mantém o tom crítico e emotivo de muitos dos trabalhos anteriores da turma. A isso, acrescenta-se uma bem-vinda camada de nostalgia. Além do toque familiar de Ela Volta Na Quinta (2014), de Oliveira, e da esperança percebida em Marte Um (2022), de Gabriel, o que Maurílio oferece é um olhar carinhoso para o passado, capaz de explicar não apenas de onde cada um deles veio, como também elucidar os artistas que hoje são. Uma jornada pessoal, ainda que coletiva.
Por mais que pareça ter um caráter autobiográfico, O Último Episódio é absolutamente ficcional. O protagonista é Erik, interpretado por Matheus Sampaio. O garoto é novato, demonstra insegurança em alguns momentos e domínio de cena em outros. Talvez tenha sido essa a intenção do diretor no desenvolvimento deste personagem ao lado do ator estreante. Pois Erik, se felizmente não é vítima de bullying ou um excluído em sua escola, como geralmente acontece em tramas similares, também está longe de ser o garoto mais popular do recreio. Ele é apenas mais um dentre tantos. O que o torna especial, porém, são tanto as amizades que se mostram sólidas ao seu lado, como a determinação em alcançar seu objetivo, por mais absurdo que esse possa parecer num primeiro instante. Com ele estão Cristão (Tatiana Costa, provavelmente a mais carismática do trio), a menina criada pela avó após a mãe ter ido para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor para a família, e Cassinho (Daniel Victor, que consegue escapar do clichê do menino carola), o filho da religiosa que, ao mesmo tempo em que não desrespeita a crença materna, também deixa claro ter personalidade própria.

Mas o que o garoto, filho único de mãe viúva, tanto quer? Primeiro, como qualquer adolescente de sua idade, muitas das suas preocupações passam pela descoberta do primeiro amor. Acrescenta-se a isso o fato de ter nascido nos anos 1980, quando as opções não eram tantas, e as disponíveis se demonstravam intensas o bastante para catalisar uma audiência crescente. Como a série animada Caverna do Dragão (1983-1985). Com apenas 27 capítulos, distribuídos por três temporadas, o programa deixou fãs carentes ao redor do mundo ao ser interrompido antes da exibição do seu desfecho. Se hoje essa situação é quase lendária, três décadas atrás, sem redes sociais e nem mesmo internet, buscar informações a respeito era quase impossível. Portanto, quando Erik afirma para a garota que está interessado que ele recebeu de uma tia que mora no exterior uma fita VHS com o final da trama, não seria isso suficiente para atrair a atenção dela? O problema é que, uma vez prometido, era preciso cumprir. E como apresentar aquilo que nunca sequer chegou a existir? É nesse momento em que a criatividade destes jovens terá que se manifestar, independente da cor de suas peles, se moram ou não na periferia ou dos privilégios que podem ou não desfrutar. Eram outros tempos, mais simples, talvez mais encantadores, certamente mais ingênuos. É nesse pano de fundo que uma história de reencontros – consigo, com os que já se foram e com aqueles que estão ao seu lado – irá se desenvolver.
Maurílio Martins sabe bem o que busca alcançar com esse O Último Episódio. Longe de se mostrar refém de uma só piada – a semelhança com Rebobine, Por Favor (2008), de Michel Gondry, termina na premissa – o enredo aposta nas relações entre esses personagens, sejam elas de amizade, familiares ou mesmo de ocasião, para fazer valer as idas e vindas dos envolvidos em tornar o sonho de um a realidade de todos. Por mais que algumas passagens soem desnecessárias, servindo apenas para inchar o conjunto – como o roubo da câmera, resolvido sem maiores repercussões – eis aqui um filme cuja soma dos seus elementos se mostra superior a eles em separado. Muito se deve à entrega do elenco, com poucos intérpretes mais conhecidos – Rejane Faria é sempre um deleite em cena, enquanto Camila Morena comove ao mesmo tempo em que inspira respeito e preocupação, ao passo que tanto Gabriel, quando André, se revelam presenças cativantes ao se desdobrarem como atores – e ao evidente cuidado do diretor em conduzir uma história sem ruídos ou tropeços, mas preocupada, acima de tudo, em transmitir o espírito de uma época. Não perdida no tempo, mas passível de ser encontrada dentro de cada um dos envolvidos, tanto em frente como atrás das câmeras.
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