Crítica

À primeira vista, O Império do Desejo pode parecer uma simples pornochanchada que trata de, obviamente, sexo, num contexto mais sombrio, com um criminoso que persegue suas vítimas num ambiente desolado e claustrofóbico enquanto a mocinha não sabe como lutar contra isso. Porém, numa análise mais aprofundada, percebe-se que a liberdade sexual e a violência do filme de Carlos Reichenbach se encaixam perfeitamente no contexto sociopolítico da época. Um grito de basta à opressão da ditadura militar refletido pelos desejos reprimidos de seus personagens.

O Império do Desejo; Anarquia Sexual

É com esta ideia metafórica que as personas são colocadas no tabuleiro. Sandra (Meiry Vieira), viúva de um milionário, viaja ao litoral para recuperar uma casa de praia tomada por grileiros. Lá chama um casal de hippies (Roberto Miranda e Márcia Fraga) para serem caseiros da propriedade e conta também com a ajuda do Dr. Carvalho (Benjamin Cattan), que acaba se apaixonando pelos dois. As relações sexuais que se estabelecem entre eles e outros personagens que vão surgindo, como o amante de Sandra e duas turistas, entra em choque aparente com Di Branco (Orlando Parolini), um anjo vingador que a maioria parece não entender suas intenções violentas até tudo parecer ter sentido - ao menos, para quem está do outro lado da tela.

Afinal, o que é Di Branco se não a catarse do próprio desejo do título, um psicopata que dá pauladas na cabeça de suas vítimas não ao acaso, mas sim por elas serem reprimidas, fechadas demais, alienadas e a esmo no mundo? Ele não ataca qualquer um, e isso vai se tornando perceptível. Só quem ele entende que nunca vai conseguir se libertar das próprias amarras, talvez apenas com a própria morte. Nem por isso sua fúria vai sendo aplacada. Afinal, ele quer libertar o mundo dos "boçais" que tanto prega contra. E assim eles vão sendo eliminados, quando menos se espera.

O Império do Desejo; Anarquia Sexual

Estes reflexos da ditadura através do conservadorismo em contraste à liberdade, aqui na conotação mais sexual possível através de bigamia, amor livre e orgias, é que norteiam p filme, deixando as transas menos gratuitas do que aparentam boa parte das pornochanchadas. Carlos Reichenbach não se apropria do sexo pelo sexo. Eles faz o ato se tornar uma arma de combate à repressão, interior e externa, na sua forma de pedir novos tempos de paz através da veia cinematográfica. Afinal, não é o cinema arte e voz de protesto? Pois neste filme isto se torna claro, ainda que o excesso de personagens que vão surgindo coloquem em risco a capacidade do espectador em distinguir quem "merece" ser vítima do anjo vingador ou não.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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