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Sinopse

Escritor que ainda não publicou seu trabalho, Roberto está eufórico, certo que o nascimento do primeiro filho será o marco de uma nova vida. Mas, ele vai ser surpreendido pelo fato de Fabrício ter nascido com síndrome de Down.

Crítica

Lançado em 2007, o livro O Filho Eterno, além de ter se revelado um best seller nacional, rendeu ao autor Cristóvão Tezza o prêmio Jabuti (o mais importante da literatura brasileira), o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Portugal Telecom e São Paulo de Literatura, além de ter sido traduzido para a Itália, Espanha, França, Estados Unidos e Holanda, entre outros países. Adaptado para o teatro em 2011, foi apontada pela jornal O Globo como uma das melhores peças daquele ano. Com um histórico desses, é até de se questionar como se levou quase uma década para que aportasse também no cinema. E se o resultado não faz feio diante seus predecessores, também provoca as mudanças necessárias para partir em busca de um público ainda maior. Uma opção, como bem se sabe, que nem sempre implica também em um retorno melhor.

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Roberto (Marcos Veras) e Cláudia (Debora Falabella) formam um casal jovem, no início de suas vidas em conjunto. Ele escritor, ela professora, tudo conspirava para que o caminho deles fosse cheio de conquistas. O passo seguinte, inevitável, foi terem um filho. Pois a gravidez logo acontece, tendo como consequência a chegada de Fabrício (o novato Pedro Vinícius). Só que este não é um menino comum, igual a todos os outros. Fabrício é portador da Síndrome de Down. E se tal condição implica em cuidados especiais, é sabido também que estes não serão restritos apenas à sua infância. Tem-se, portanto, uma missão para toda uma vida. E aceitá-la não parece ser uma tarefa das mais fáceis.

A questão proposta pelo filme, reflexo da obra original – que, por sua vez, se baseou em uma experiência real do autor – é o embate que se estabelece entre o garoto e o pai. Ainda que tenha uma presença mais ativa do que no livro, a mãe segue sendo uma figura periférica. Afinal, para ela não há escolha. Não há drama. E se por isso, por vezes, acaba soando um pouco mitificada, como uma ‘mãe coragem’ que assume todos os fardos que o destino se encarrega de lhe oferecer, isso se dá por não compartilharmos do seu interior, das suas inseguranças e medos. Muito disso, é claro, por estar dividindo a vida com um homem que não lhe permite fraquejar. Ele é a figura frágil. Ele que assume a dúvida. Não quer aquela criança, não sabe lidar com a responsabilidade que lhe compete. É por isso que foge, primeiro de casa, depois do próprio cenário ao qual até então estava inserido. Finge-se numa outra realidade. Mas tal qual fantasia, encontra apenas um sonho que tende a acabar em instantes.

O que permanece é o núcleo familiar: pai, mãe e filho. Principalmente, progenitor e descendente. Um parte do outro. Paulo Machline, um dos poucos realizadores brasileiros a já terem sido indicados ao Oscar – concorreu pelo curta-metragem Uma História de Futebol (1998) – investe pesado no tom emocional de sua narrativa. A trilha sonora, por vezes, pode soar um pouco incômoda aos mais atentos, da mesma forma que a fotografia busca privilegiar a oposição entre cada um dos vértices deste triângulo. É raro ver marido e esposa do mesmo lado, ou pai e filho como parte de um todo. Volta e meia os encontramos um diante do outro, quase em posição de combate. Duelam porque não conseguem dialogar. Até que a incerteza da continuidade surge, o que faz o mais instável questionar suas decisões até aquele momento. E rever o que precisa mudar a partir de então.

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Marcos Veras, um ator reconhecido por seu talento cômico, tem aqui aquele que provavelmente é o maior desafio de sua carreira. E se sai razoavelmente bem, segurando com segurança a carga dramática de um homem que se recusa a amar o próprio filho, até que percebe que esta não é uma decisão que lhe cabe. No entanto, quando colocado em contraponto à Debora Falabella, uma intérprete mais versátil que ele, as diferenças entre os dois se tornam gritantes. No entanto, como Machline privilegia ele, e não ela, o que se tem é um conto que poderia atingir notas mais altas, mas opta por trilhar um caminho seguro e sem tantas surpresas. O Filho Eterno não envolve por um final surpreendente – pois não o possui – e nem por seus méritos artísticos (que se não se destacam, também não decepcionam). Seu mérito maior é a sinceridade de seu discurso e a vontade explícita de comover. Uma vez ciente dessa posição declarada, o conjunto revela-se de acordo com as expectativas. Tanto para o bem, quanto para o mal.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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