Crítica
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Sinopse
Benjamim Schianberg é um psicanalista e professor universitário cujo principal interesse é refletir sobre o comportamento amoroso a partir de observações reais. O filme acompanha a construção de um relacionamento amoroso entre um ator e uma artista plástica, exclusivamente a partir da observação do interior do apartamento onde acontecem os encontros do casal.
Crítica
Nascido como um projeto para a TV Cultura, O Amor segundo B. Schianberg é o mais experimental e ousado trabalho de toda a filmografia de Beto Brant, cineasta paulista que já nos entregou títulos emblemáticos como Os Matadores (1997) e O Invasor (2002). Isso não quer dizer, no entanto, que o filme seja necessariamente bom. Porém aquele que for curioso o suficiente para se aventurar em descobri-lo irá encontrar algo pulsante, intrigante, diferente. E isso, em muitos casos, é mais do que suficiente. Trata-se de uma brincadeira, de uma tentativa. Nem sempre se acerta o alvo, mas é sempre salutar encontrar aqueles que buscam algo novo e não estão acomodados que o trivial, com o comum, com o corriqueiro. Foge-se da mediocridade, e só por isso sua mera existência já se justifica.
Marçal Aquino, antigo parceiro de Brant, tem, entre suas diversas obras literárias, uma chamada Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Neste livro, o personagem Benjamin Schianberg é várias vezes citado, porém sempre como uma referência, como uma lembrança, nunca se manifestando ativamente na trama. Sua participação foi eliminada na versão final da obra, mas em algum momento durante o processo de criação ela chegou a ser desenhada. E Beto Brant teve acesso a estes rascunhos. Pois deles nasceu O Amor segundo B. Schianberg. Primeiro como uma minissérie de quatro episódios, num total de 240 minutos. E agora desdobra-se em cinema, numa edição bastante reduzida – 80 minutos – e ainda mais hermética em sua proposta. Tudo que se entende da história que é contada está em informações extra-fílmicas, pois na tela os personagens muito dizem, porém pouco explicam. E tão perdidos quanto eles ficamos ao término da projeção.
Na versão para televisão ficava claro, através de uma narração em off, que Benjamin Schianberg era um psicólogo envolvido numa experiência que tinha como protagonista a própria filha. Ela deveria seduzir alguém e levá-lo para o seu apartamento. Esse lugar contém 8 câmeras escondidas. Monitorando o dia a dia deste relacionamento está o pesquisador, que através da análise do que vê desenvolve uma tese de doutorado. Porém nada disso fica claro no cinema, e o que vemos são apenas os encontros dessa mulher com este homem. Quem eles são, de onde vêm e o que pretendem pouco descobrimos. Há entre os dois uma atração, um envolvimento. Se é algo que pode ser confundido com paixão, amor ou mero desejo cabe ao espectador decidir.
O Amor segundo B. Schianberg é o lado B do livro de Aquino, que gerou também o filme seguinte de Brant, o igualmente intitulado Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Este é um filme que assume um formato mais convencional, com uma história com início, meio e fim. Mas os dois, assim como as obras anteriores do diretor – Cão sem dono (2007) e Crime Delicado (2005) – são compostos por amores obsessivos, facetas dos relacionamentos amorosos e como o ser humano muda quando em dependência de um outro. São filmes não de fácil aceitação, mas pertinentes dentro desse contexto mais elaborado. Porém, de todos, talvez Schianberg seja o de mais difícil acesso, com tantas elipses que acaba por afastar o espectador menos dedicado. Seus valores estão além do que está na superfície. Mas nem todo mundo está pronto para atingir essa compreensão.
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