Moonfall: Ameaça Lunar

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Sinopse

A Lua é tirada de sua órbita e colocada em rota de colisão com a Terra por uma força desconhecida. Jo, uma ex-astronauta da NASA acredita ter a solução para esse problema catastrófico, mas pouca gente acredita nela.

Crítica

Ninguém deve ter tanto prazer em destruir a Terra quanto o alemão Roland Emmerich. Se em Independence Day (1996) e em Godzilla (1998) o caos vinha de ameaças extraordinárias, em O Dia Depois de Amanhã (2004) e 2012 (2009) a desgraça surgia como consequência dos maltratos do próprio homem em relação ao ambiente em que vive. Pois bem, Moonfall: Ameaça Lunar, seu mais recente projeto, é quase como que uma combinação dessas duas vertentes, porém sem a desfaçatez admirável dos primeiros e nem o peso dramático dos segundos. Dessa vez, ele demonstra preocupação apenas em pisar fundo no absurdo, explorando todas as suas possibilidades – até as mais inacreditáveis, por mais anacrônico que tal conclusão possa ser. Há filmes ruins e há filmes péssimos, mas há também aqueles tão sem noção que chegam a dar a volta e, de uma forma curiosa, conseguem se valer pelo inconcebível. O que se vê aqui vai ainda além em qualquer critério.

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Os longas do diretor que transitam por tais tensões seguem padrões muito próximos. Há sempre um herói incompreendido (Patrick Wilson, como o astronauta desacreditado), uma figura de autoridade preocupada em fazer o certo (Halle Berry, a capitã que assume a liderança da missão de salvar o planeta), um nerd que percebe o perigo antes de qualquer cientista ou pesquisador das grandes instituições (John Bradley, de Game of Thrones, 2011-2019, cumprindo uma posição genérica originalmente destinada a Josh Gad) e o garoto-problema que precisa provar o seu valor (Charlie Plummer, que a cada entrada em cena demonstra tamanho desconforto que dá a impressão de estar atuando em um outro filme). Além desses, outras figuras vão do suposto alívio cômico (Michael Peña, que já deveria ter conquistado status para ser o protagonista, e não mais ter que lidar com participações constrangedoras como essa) – mas não é tudo risível? – ao óbvio desperdício (Donald Sutherland, que tem literalmente uma única cena, e ainda a faz sentado, pois qual estímulo teria para sequer se levantar diante de uma bobagem que parece não ter limites?).

Esse grupo está diante do impossível: a Lua saiu de sua órbita original e, segundo os cálculos mais apurados, em questão de semanas irá chocar-se com a Terra. Como se vê, a princípio se trata do nosso único satélite original, mas poderia ser qualquer asteroide, cometa ou outro corpo celeste em rota de colisão. Mas Emmerich e seus colegas roteiristas Harald Kloser (antigo parceiro do cineasta e também responsável pela trilha sonora exagerada e instrusiva) e Spenser Cohen (Extinção, 2018) decidem questionar essas próprias convicções a respeito do que se conhece como tal. E entre as tantas teorias jogadas a esmo, será justamente na mais alienada a qual se agarrarão com intensidade: a descoberta de que nada há ali – e nesse novo movimento – de “natural”, e, sim, seria a Lua uma construção (!) alienígena (!!) que há milênios vem monitorando os seres humanos (!!!). A crise atual tem início quando uma outra forma não-identificada entra em conflito com a anterior, e o embate entre as duas pode significar o extermínio do planeta mais próximo – no caso, este tão familiar aos homens.

Pois se o argumento abre mão de qualquer lógica para abraçar uma fantasia quase conspiratória, o que se vê a partir do momento em que o tabuleiro é apresentado e as peças colocadas nos seus devidos lugares soa ainda mais insano. Sim, pois entre militares decididos a explodir a tal “ameaça lunar” com bombas atômicas (sem demonstrar nenhuma preocupação com as consequências entre os aqui abaixo) e uma ideia inicial de simplesmente contra atacar com foguetes de décadas atrás, há ainda os que pensam em investigar as origens e buscar um diálogo (!!!!). É tudo tão surreal, que não chega necessariamente a ser uma surpresa perceber por qual desses caminhos o realizador decidirá seguir com sua empreitada. Afinal, quando se pensa ter chegado ao fundo do poço, o que se confirma é que sempre será possível cavar um pouco adiante.

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Entretanto, nada disso é feito de forma amadora ou improvisada. Os efeitos visuais são impressionantes e executados com esmero, os atores se esforçam ao máximo para soarem comprometidos com os impropérios que se veem obrigados a proferir, e a fantasia que o conjunto se encarrega de defender como crível, se não chega a alcançar tamanha pretensão, ao menos procura ir até o máximo do seu potencial. Berry e Wilson, intérpretes que já viveram dias melhores, se mostram tão sisudos como se estivessem fazendo força para não cair no riso a qualquer instante. Pois será essa também a reação de muitos na audiência, estupefatos frente ao que aqui se trata de exibir como viável, mas que, sob qualquer análise, é apenas ridículo. Se ao menos fosse, de fato, divertido, e convidativo para o espectador gargalhar junto com aqueles atrás (e na frente) das câmeras, talvez um mérito pudesse ser apontado. Mas nem isso. É apenas algo já visto antes, porém elevado à enésima potência. E não há como negar: a inocência desses filmes-catástrofe que tanto sucesso fizeram entre os anos 1970 e 1990 era muito mais afável. Hoje é apenas pretensiosa. E por demais enfadonha.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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