Miller e Fried: As Origens do País do Futebol
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Sinopse
No final do século XIX, o Brasil estava em ebulição. O fim da escravidão, a chegada de imigrantes e a urbanização movimentavam o país. Neste cenário, o futebol chega da Inglaterra com o jovem Charles Miller e sofre uma revolução nos pés de Arthur Friedenreich.
Crítica
Logo no início do documentário Miller & Fried: As Origens do País do Futebol, de Luiz Ferraz, o narrador comenta, em off, que a história do futebol no Brasil por vezes parece começar na Copa de 1950, com a tragédia do Maracanazzo (derrota da Seleção para o Uruguai na grande decisão daquele campeonato, em pleno Maracanã recém-construído), e continuar com a redenção promovida em 1958 pela geração de Pelé e Garrincha (título no Mundial da Suécia). Para quem gosta de futebol, esse comentário faz bastante sentido, já que de fato pouco destaque se dá a personagens da primeira metade do século XX, com Leônidas da Silva (jogador com carreira entre o final dos anos 1920 e o início dos 1950, que se firmou na memória do esporte no Brasil como provavelmente nosso primeiro grande craque), talvez, sendo a única exceção.
Miller & Fried busca justamente remontar a um passado mais remoto do futebol brasileiro, apresentando as trajetórias de dois personagens fundamentais, mas pouco lembrados, para a disseminação do esporte no país: Charles Miller, oficialmente considerado o introdutor do futebol no Brasil, e Arthur Friedenreich, primeiro futebolista brasileiro a se tornar realmente ídolo, entre as décadas de 1910 e 1930 (ainda um período em que predominava o amadorismo nesse esporte).
Nesse sentido, Miller & Fried é uma realização interessante, sobretudo por seu caráter informativo. Mas os méritos do filme de Ferraz param por aí. O diretor aposta num formato excessivamente tradicional no gênero, constituído pela alternância batida de narração em off, imagens de arquivo e “cabeças falantes” de especialistas. Na maior parte do tempo, lembra mais um especial da ESPN (ou uma matéria do Esporte Espetacular um pouco estendida) que cinema propriamente. Não à toa, Ferraz chega a colocar três comentaristas esportivos que são ou já foram ligados a essa emissora esportiva para contar um pouco da história desses personagens e do futebol brasileiro: Paulo Vinícius Coelho, Celso Unzelte e Marcelo Duarte. Mas mesmo essas figuras, reconhecidamente competentes, são subaproveitadas no documentário, já que muito pouco da entrevista que concederam é usado por Ferraz. É espantoso que um filme sobre a história do futebol tenha em suas mãos, por exemplo, um comentarista enciclopédico como PVC e praticamente não o deixe falar. Uma pena.
Fica o desejo de que essas histórias sejam contadas com mais paixão e tino cinematográfico em algum momento no futuro, quem sabe em obras de ficção que aproveitem como tema o futebol, esse esporte tão popular, mas ao mesmo tempo tão pouco presente no cinema brasileiro. Como Miller & Fried acaba por indicar, os primórdios do esporte no Brasil, principalmente sua transformação de uma prática das elites em uma paixão popular, é capaz de gerar narrativas suficientemente interessantes para serem apresentadas na tela grande.
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