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Sinopse
Meu Pior Vizinho: O músico Lee Seung-jin e a designer Hong Ra-ni, dois vizinhos separados por uma parede finíssima, iniciam uma convivência conturbada cheia de ruídos, curiosidade e, inesperadamente, carinho. Comédia romântica.
Crítica
O cinema francês é amplamente reconhecido por mergulhar nas nuances dos relacionamentos. Paixões platônicas, amores ardentes, traições e vínculos que resistem ao tempo — tudo já foi explorado, e com profundidade. Talvez por isso Um Amor Inesperado, lançado em 2015, não tenha despontado como um dos grandes sucessos daquele ano. Na trama, um homem muda-se para um apartamento onde, do outro lado de uma fina parede, vive uma mulher. Sem se conhecerem, começam a ouvir tudo o que o outro faz, até que suas rotinas se entrelaçam em uma relação mais platônica do que carnal, mais curiosa do que intensa. Se na França o resultado foi morno, na Coreia do Sul — berço dos doramas, com seus romances delicados e amores quase sempre contidos — talvez a fórmula ganhe novo fôlego. É nesse contexto que Meu Pior Vizinho, dirigido por Lee Woo-cheol, se apoia.

Seung-jin (Lee Ji-hoon) é um cantor em busca de reconhecimento, treinando arduamente para um concurso de talentos. Ra-ni (Han Seung-yeon), por sua vez, é uma designer criativa que enfrenta uma crise profissional após sair de uma grande empresa e processá-la por direitos autorais sobre um personagem criado por ela. Ambos atravessam momentos decisivos, tentando reorganizar suas vidas. O acaso — ou o destino — faz com que dividam a mesma parede, em apartamentos cujas divisórias são tão finas quanto as fronteiras emocionais que separam dois desconhecidos. Ele toca música, ela escuta. Ela tropeça, ele ouve. Entre ruídos e silêncios, o que começa como incômodo se transforma em convivência forçada e, aos poucos, em algo mais próximo da empatia.
Não há grandes reviravoltas nessa dinâmica — e o filme tampouco tenta escondê-lo. Lee Woo-cheol parece ciente de que sua história caminha por trilhas seguras, quase previsíveis. Ainda assim, há algo de cativante na simplicidade com que conduz o enredo. A comédia romântica, mesmo disfarçada de drama leve, já carrega certa inevitabilidade em suas estruturas: o estranhamento inicial, o vínculo crescente, a confissão tardia. Tudo está ali, no tempo certo, sem grandes ousadias. O resultado é previsível, mas honesto.
É preciso, no entanto, um pouco mais de paciência do que de costume. O distanciamento físico entre os protagonistas impõe uma barreira que exige credulidade — eles não se veem, não se tocam, e mesmo assim a conexão prospera. Esse artifício, comum em narrativas asiáticas, poderia soar inverossímil em culturas mais expansivas, como a brasileira, na qual o gesto costuma falar mais alto do que o olhar. Ainda assim, Lee Woo-cheol trabalha esse isolamento com delicadeza, usando o som como ponte afetiva: são as músicas, as conversas murmuradas e os ruídos da vida cotidiana que constroem a intimidade.

Meu Pior Vizinho entrega exatamente o que promete: um romance de humor leve, personagens dóceis e um universo colorido, no qual o amor surge em meio à solidão urbana. Nada ali pretende revolucionar o gênero, mas tudo parece funcionar dentro do que se propõe. No fim das contas, é um filme que se assiste com um sorriso contido e o coração em repouso — desses que não arrebatam, mas lembram que o amor pode nascer até das paredes mais finas.
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