Crítica

Mary é uma garotinha australiana cheia de imaginação e inteligência. Max, um senhorzinho nova iorquino que sofre de Síndrome de Asperger, um tipo muito forte e característico de introspecção. Um dia, Mary decide enviar uma carta aleatoriamente para um endereço que encontra num catálogo. Max, num desafio à própria síndrome, responde a inusitada correspondência. Começa uma improvável amizade que se estende por mais de 20 anos. É essa a história de Mary e Max: uma amizade diferente, animação australiana de beleza ímpar.

Dirigido por Adam Elliot, ganhador do Oscar pelo curta de animação Harvie Krumpet, o filme é daquele tipo que marca o espectador e impressiona pela forma simples como lida com sentimentos muito complexos. Por trás de Mary, Toni Collette, a australiana famosa por seus papéis "melancômicos", por assim dizer. Dubladora da garota na versão original, ela dá a Mary um ar meio atrapalhado, sem perder a obstinação e a vontade de fazer do mundo o lugar dos seus sonhos. Literalmente. Max é personificado pelo sempre excelente Philip Seymour Hoffman, que transforma grunhidos e tosses em expressão de seu personagem.

A técnica utilizada na animação é o Stop Motion, que dá o conhecido aspecto de "massinha" ao filme. No entanto, o colorido é substituído por uma atmosfera cinzenta, onde só se sobressaem pastéis de amarelo e vermelhos vivos. Uma paleta de cores restrita, mas usada pelo diretor com argúcia para mimetizar o mundo interior dos personagens. Este, aliás, é um dos principais trunfos do longa: mostrar, por meio das cartas, como cada um vê o mundo. O cartaz traz um indício forte disso ao escrever "Mary" com caligrafia manual e "Max" datilografado. A forma como cada um decide escrever suas cartas diz muito sobre a relação que eles estabelecem com o outro e com o ambiente que os cerca.

Com referências que, de leve, fazem lembrar filmes como "Nunca te vi, sempre te amei", o filme se junta ao seleto panteão de animações da Pixar e do Studio Ghibli no sentido de que, mais do que agradar crianças, é capaz de emocionar e marcar fortemente adultos, com potencial para se tornar um dos seus filmes favoritos. É a prova de que uma linguagem pode dizer qualquer coisa quando bem utilizada.

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é jornalista, mestre em Estética, Redes e Tecnocultura e otaku de cinema. Deu um jeito de levar o audiovisual para a Comunicação Interna, sua ocupação principal, e se diverte enquanto apresenta a linguagem das telonas para o mundo corporativo. Adora tudo quanto é tipo de filme, mas nem todo tipo de diretor.
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