Crítica

A estreia de Manhã Transfigurada nos cinemas coloca um fim a uma espera de quase uma década! E, mesmo antes de ser visto, este filme já havia entrado para a História! Afinal, é o primeiro projeto de um longa-metragem feito no interior do Rio Grande do Sul! E, independente de sua qualidade, só pelo pioneirismo já possui um valor inegável. Mas o bom é que o aspecto artístico – a despeito do amadorismo naturalmente esperado – consegue sustentar o produto final com folga, entregando uma trama que prende a atenção e que tem condições tranqüilas para disputar a preferência do público.

Baseado na obra do gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil (autor também dos livros que deram origens aos filmes A Paixão de Jacobina, Concerto Campestre e Diário de um Novo Mundo), Manhã Transfigurada tem direção de Sérgio de Assis Brasil (primo do escritor), que infelizmente veio a falecer (por complicações devido a um câncer) antes da obra ser finalizada. Estrelado por Manuela do Monte (que atualmente aparece na novela Paraíso, da Rede Globo) e Rafael Sieg (Ainda Orangotangos e Dias e Noites), o enredo mostra o que acontece quando uma moça é obrigada a se casar à força com um severo general para tentar salvar os negócios da família. Porém ele descobre, na noite de núpcias, que a noiva não é mais virgem, e enfurecido a tranca dentro de casa e parte para a fazenda, deixando-a sozinha com a ama de companhia e permitindo visitas apenas do padre. Mas a situação dela realmente complica quando se descobre apaixonada pelo religioso, além de estar envolvida sexualmente com o sacristão da igreja!

Um dos principais destaques de Manhã Transfigurada é a adaptação feita pelo diretor em relação ao texto original. Algumas mudanças – como a paixão que surge aos poucos por parte da empregada pela patroa – oferecem um caráter mais moderno ao resultado final, aproximando-se dos nossos tempos em linguagem e ambições, conseguindo estabelecer uma comunicação positiva. O elenco, por sua vez, é também bastante uniforme, sem destoar no conjunto, defendendo com garra e empenho personagens que hoje em dia poderiam soar ultrapassados, mas que dentro do contexto em que se apresentam acabam se tornando verossímeis, conquistando a simpatia e o envolvimento do espectador.

Manhã Transfigurada é um filme simples, com intenções humildes e anseios ordinários, mas que se posiciona num espaço especial dentro do cinema brasileiro. É regional, é barato (custou menos de R$ 500 mil) e é direto, sem grandes surpresas. Mas por outro lado, todo o empenho e dedicação que exigiu para ser concluído transparece na tela, e essa paixão acaba sendo transmitida a qualquer um na audiência que souber fazer uma avaliação mais sensorial do que crítica. Exibido fora de concurso durante o Festival de Gramado de 2008, conseguiu ser lançado nacionalmente mais de um ano depois, mas deverá, por ainda muito tempo, ser lembrado como aquele que mostrou que era possível. Afinal cinema é diálogo, e este não precisa se estabelecer apenas entre figuras imagináveis, mas principalmente entre comunidades e artistas, criando exemplos de superação que devem ficar na memória. Tais como este.

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