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Sinopse
Má Influência: Um ex-presidiário recebe a chance de recomeçar. Ele é contratado para proteger uma rica herdeira de um perseguidor que está com todas as armas a seu favor. Entretanto, mais difícil que proteger a moça, será resistir à química que eles possuem. Romance/Thriller.
Crítica
Grandes jornadas adolescentes, em geral, deixam rastros claros sobre o que pretendem. Curtindo a Vida Adoidado (1986) disfarça a angústia existencial sob a euforia da rebeldia. Diário de um Adolescente (1995) expõe de maneira crua o esfarelamento interior de garoto à deriva. Já Juventude Transviada (1955) é o retrato mais emblemático de tempo em que bastava jaqueta vermelha para simbolizar o conflito entre gerações. Há obras que se escolhem, se firmam e se justificam nesse gesto. E há aquelas que hesitam, flertam com várias direções, mas se perdem no meio do caminho. Má Influência, adaptação da obra de mesmo nome da autora anônima Teensspirit, está nesse grupo que aposta no jogo juvenil com ambições adultas, mas sem base sólida para sustentá-las.
Na trama, acompanhamos Eros (Alberto Olmo), recém-saído de instituição para menores infratores. Sua liberdade está condicionada a um acordo: viver sob a tutela do poderoso Bruce (Enrique Arce), que o coloca como guarda-costas informal de sua filha, Reese (Eléa Rochera). A jovem rica e mimada, vive sob a sombra de um perseguidor que envia mensagens ameaçadoras. A aproximação entre os dois adolescentes é inevitável e a narrativa constrói, sem sutileza, uma série de conveniências para que se tornem cúmplices e, claro, algo mais. Entre olhares trocados, corpos expostos e suposto perigo iminente, o enredo se desenrola como colcha de retalhos dramáticos que não se costuram com firmeza.
Dentre os muitos equívocos, um deles salta aos olhos: a artificialidade das figuras centrais. Nada no comportamento de Eros ou Reese sugere algo próximo da realidade, são personagens que mudam de humor e personalidade conforme o roteiro exige, sem transições plausíveis. Não há aqui exploração sofisticada das contradições humanas, mas sim figuras rasas, quase decorativas, moldadas para preencher funções específicas dentro de quebra-cabeça emocional que se desmonta com facilidade.
Eros, por exemplo, surge como jovem introspectivo, marcado por traumas e silêncios. Essa imagem, no entanto, é rapidamente desfeita: basta punhado de diálogos para que se transforme em sedutor carismático, sagaz e incrivelmente adaptável. A performance de Olmo tenta sustentar essa transição abrupta com olhar enigmático e postura entre o latin lover e o bad boy, mas o resultado é constrangedor. Não há coerência no arco desse protagonista, apenas uma sucessão de atitudes que servem ao ritmo da história. Já Reese se revela ainda menos interessante. Sua função é limitada a impulsionar a trajetória de Eros ou gerar tensão quando a narrativa empaca.
O que surpreende é o fato da produção estar nas mãos de Chloé Wallace, cineasta que estreia em longas após experiências na série Um Conto de Fadas Perfeito (2023). Esperava-se, ao menos, sensibilidade maior no trato com as complexidades femininas. Mas o que se vê é foco quase exclusivo na liberdade sexual da protagonista, esvaziada de outras camadas. A diretora parece confundir provocação com profundidade, e termina por reduzir suas figuras femininas a alegorias passageiras de empoderamento.
Essa tentativa de costurar gêneros – mistério, romance, drama juvenil – acaba se desintegrando em performances afetadas e diálogos ocasionalmente risíveis. É difícil estabelecer vínculo com o que se vê em tela. A produção se assemelha a Minha Culpa (2023), outro exemplar recente da moda teen de origem hispânica, porém mais ruidoso, artificial e desesperado por impacto. Fica a sensação de que houve concessões, talvez exigências mercadológicas. Seja como for, Má Influência é estudo involuntário sobre como diluir personagens até que se tornem irrelevantes.
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