Crítica
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Sinopse
Paul Sheldon, um escritor de best-sellers, é salvo de um acidente por uma fã que resolve levá-lo até a casa dela. Annie Wilkes é uma enfermeira fanática pela personagem Misery Chastain. Paul, com as duas pernas quebradas e preso à cama, sente o alívio de não ter morrido tornar-se horror quando Annie descobre que Misery morre no último romance da série. Ela o obriga a queimar o manuscrito e exige que ele resgate Misery dos mortos. Escrever uma nova história será sua única garantia de vida.
Crítica
Alguns filmes e atuações são tão fortes e determinantes que alteram para sempre a visão do público e da crítica a respeito de um intérprete. Um bom exemplo disso é o que aconteceu com Kathy Bates em Louca Obsessão. Antes dele, ela era a coadjuvante imperceptível de títulos como Embalos a Dois (1983) e Arthur 2: O Milionário Arruinado (1988). Depois, alçou à posição de protagonista ou presença de luxo, integrando o elenco de sucessos como Tomates Verdes Fritos (1991) e Titanic (1997), entre tantos outros. A impressão que causou nesta transposição para o cinema de um conto de Stephen King foi tamanha que o próprio autor chegou a escrever outro texto, desta vez inspirado especificamente nela, e que acabou rendendo o thriller Eclipse Total (1995), outro ponto alto da carreira dela. E o melhor: reconhecimento esse mais do que merecido.
Paul Sheldon (o sobrenome não é por acaso) é um escritor renomado, autor de diversos best sellers estrelados pela protagonista Misery. Meticuloso, cumpre sempre a mesma rotina a cada novo livro: recolhe-se a um hotel nas montanhas, isola-se do mundo até que a escrita termine, e, após a última palavra, regozija-se com um cigarro e uma taça de Don Perignon. Porém, é refém do fenômeno que criou, e poucos respeitam suas tentativas de ousar literariamente por outros caminhos. Por isso, toma uma decisão ousada: no seu próximo livro, Misery irá morrer. E, com ela, chegará ao fim uma série bastante popular, mas pelo próprio autor considerada redundante e limitada. Ele quer se ver livre, com os horizontes abertos para outros riscos e ousadias. Ele só não contava com a neve.
Sim, pois ao voltar para casa, a estrada tomada por uma nevasca acaba fazendo com que sofra um acidente. Mas ele não estava sozinho. Uma mão forte surge para salvá-lo. Quando acorda, está imobilizado, com as duas pernas engessadas e colocado sob uma cama na casa de Annie Wilkes, uma enfermeira que, ao passar pelo mesmo caminho, o viu e o socorreu. As vias estão interrompidas e os telefones não funcionam. Os dois estão isolados no meio do nada. Mas ele não precisa se preocupar, afinal ela está ali para cuidar dele. Isso, é claro, até descobrir o que ele carrega em sua pasta. Afinal, ela é sua maior fã, como insiste em repetir. Mas seria uma admiradora de Sheldon ou de Misery? A verdade a respeito do destino da personagem da ficção irá determinar também o que irá acontecer com este homem, colocado em posição de refém. E ele só terá uma coisa a fazer a partir desse momento: reescrever o que está por vir.
James Caan, por sua vez, era um ator consagrado quando aceitou o convite do diretor Rob Reiner para estrelar Louca Obsessão. Indicado ao Oscar por O Poderoso Chefão (1972), já desfrutava a posição de veterano respeitado que mantém até hoje – tanto que é dele o primeiro nome nos créditos de abertura. O realizador, por outro lado, começava a construir uma carreira, e contava muito a seu favor ter entregue pouco antes o adorável Harry & Sally: Feitos Um Para o Outro (1989) e, antes disso, adaptado com impressionante competência outro romance de Stephen King, o emocionante Conta Comigo (1986). Aqui, no entanto, tudo o que tem a fazer é abrir espaço para o enredo elaborado pelo autor, que combina fanatismo, loucura e alienação, o que possibilitou uma performance arrebatadora de Kathy Bates, que como a protagonista – na verdade, a antagonista que termina por roubar a cena – simplesmente concentra todas as atenções. Chega-se ao ponto de não mais preocupar-se apenas com a vítima, mas, sim, com o que irá acontecer a essa mulher tomada pela fúria e pela insanidade.
O melhor de Louca Obsessão é que aqui o mínimo é que dita o desenrolar da trama. Quanto menos se sabe, menos se mostra, menos se conhece. A economia é a palavra-chave a ser seguida tanto pelo cineasta quanto por seus dois personagens principais, em um embate no qual inevitavelmente o espectador se pega torcendo pelo vilão, tamanho é o carisma que Bates maneja a seu favor. Da fragilidade à loucura, do olhar doentio à devoção completa, ela navega por extremos sem nunca resvalar no óbvio ou no exagero, tamanho é o domínio que possui sobre o tipo que criou. Tanto que, apesar de ser não mais do que uma desconhecida em sua primeira indicação ao Oscar, derrotou nomes como Meryl Streep e Julia Roberts, consagrando-se com uma vitória justa e ansiada. E com isso quem também ganhou foi Stephen King, que após uma década vendo suas criações sendo maltratadas na tela grande, finalmente encontrou aqui uma releitura à altura do seu talento e popularidade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Thomas Boeira | 8 |
Francisco Carbone | 9 |
Wallace Andrioli | 9 |
Roberto Cunha | 10 |
Chico Fireman | 8 |
Matheus Bonez | 9 |
MÉDIA | 8.7 |
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