
Crítica
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Sinopse
Em June e John, um jovem que vive uma vida monótona sai do marasmo quando conhece uma moça diferente de todas as outras. Consequentemente, ele descobre o amor que vivia dentro dele. Porém, a relação entre os dois não irá se desenvolver na direção que ele imaginava. Romance.
Crítica
Nos anos 1990, ganhou força entre a mídia especializada uma alcunha provocativa: “filmes MTV”. O termo era aplicado a obras que pareciam mais interessadas em ritmo, imagem e trilha sonora do que em estrutura narrativa convencional, como os emblemáticos Assassinos por Natureza (1994) e Corra, Lola, Corra (1998), que se valiam da linguagem dos videoclipes para compor universo visualmente hipnótico, muitas vezes mais impactante que os próprios enredos. Luc Besson, cineasta que já explorou essas fronteiras entre forma e conteúdo, parece agora, em June e John, revisitar aquele espírito pulsante, como quem mata uma saudade que o tempo só fez crescer.
A trama parte da exaustão. John, interpretado por Luke Stanton Eddy, vive preso a uma rotina mecânica e sem brilho, entre o trabalho, o cardio matinal, a casa e a avalanche constante de contas, tudo ambientado em uma Los Angeles, EUA, que se impõe como cenário e prisão. Besson nos conduz a esse universo com empatia, revelando o cansaço do protagonista não por palavras, mas por gestos, pela repetição de hábitos, pelo olhar esvaziado. Até que, num desses dias iguais, surge June (Matilda Price), presença solar que o atrai de forma imediata, quase física, como força que o arranca da asfixia e o convida a respirar.
John poderia ser qualquer um de nós, afogado em cotidiano que já não oferece sentido num mundo acelerado demais, globalizado demais, automático demais. Mas, ainda que seu nome esteja no título, é June quem domina a cena, magnetizando os sentidos, provocando o pensamento, instaurando o ritmo. Besson, que já concebeu figuras femininas memoráveis em obras como Nikita (1990), O Quinto Elemento (1997) e Lucy (2014), repete o gesto, mas agora com mais doçura, menos pirotecnia, construindo personagem que vive o agora com intensidade, porque sabe que o depois não virá – eliminando, de alguma forma, o clichê da manic pixie dream girl. Ainda que isso nunca seja melhor explicado, a iminência da morte está sempre presente a partir de uma doença, mas embalada por poesia.
June pode ser vista por lentes múltiplas, algumas generosas, outras críticas. Para uns, pode ser mulher livre, destemida, sexualmente autônoma, espiritualizada, conectada com a natureza, para outros, também pode ser figura desconectada da realidade e quase infantil. Ainda assim, é justamente essa ambiguidade que a torna interessante, pois não há nela a pretensão de perfeição, nem o clichê da musa inatingível, mas humanidade desarmada, contraditória, por vezes ingênua, e, ao mesmo tempo, encantadora. E quem de nós, afinal, nunca foi um tanto bobo, nunca acreditou em algo bonito sem ter provas, nunca desejou ser salvo por alguém com o olhar?
A aposta de Besson é, no fundo, sobre fé, não a religiosa, mas aquela que move os encontros, que confia no acaso, que aposta no improvável. O ritmo é intenso, as cores vibrantes, a trilha sonora invade cenas, sobrepõe-se a diálogos, embala devaneios, enquanto romance assumidamente cafona se desenha diante dos nossos olhos. Mas é um cafona do bom, daquele que reconhece o próprio exagero e que não tem vergonha de sonhar. Afinal, eles se conhecem no metrô, não no aplicativo de namoro, e há algo de ingênuo, quase impossível nisso. “Isso jamais aconteceria hoje”, alguém diz. Mas por que não? E se voltasse a acontecer, não seria bonito demais?
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Victor Hugo Furtado | 6 |
Edu Fernandes | 2 |
Carlos Helí de Almeida | 4 |
Ailton Monteiro | 8 |
Francisco Carbone | 2 |
MÉDIA | 4.4 |
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