Crítica

João Goulart ficou conhecido na história como o presidente estadista do Brasil que foi derrubado pelo Golpe Militar de 1964. Chamado de populista tanto de forma elogiosa por seus seguidores quanto crítica por quem não gostava de sua figura, o político morreu no exílio em 1976, antes que o país retomasse a democracia na primeira metade dos anos 1980. E seu semblante permaneceu como uma incógnita para muitos até este documentário de 1984 dirigido por Silvio Tendler que resgata não apenas a importância histórica de Jango como também o registro de um momento crucial na política brasileira e que tem reflexos até hoje.

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Pois este longa surgiu numa hora mais do que apropriada para o Brasil: o calor dos movimentos pelas eleições diretas naquele ano. Não à toa atingiu um marco histórico para um documentário: foi visto por mais de um milhão de pessoas, recorde para o gênero, tão relegado a segundo plano por aqui para a maior parte do público. Também pudera. Não apenas o contexto político precisava de um filme assim como suas qualidades se sobressaem, especialmente pelo rico material de arquivos e as entrevistas de quem sentiu na pele os chamados anos de chumbo.

Entre tantos depoimentos que beiram ao emocionante como o da filha de João Goulart, Denize Goulart, ou ainda aqueles com discurso inflamado como os de Leonel Brizola ou Gregório Bezerra, o líder comunista, é com os jornalistas que sentimos a necessidade de informação ser aclamada. Vide as revelações de Marcos Sá Corrêa sobre a operação Brother Sam, que oficializava o envolvimento dos Estados Unidos no Golpe de 64. Mas não apenas isto. Aqui tem-se um panorama geral das articulações políticas que levaram à ascensão e queda do ex-presidente, fatos que ganham ainda mais destaque com a narração do saudoso José Wilker conduzida ao fundo pela bela trilha sonora de Wagner Tiso e Milton Nascimento.

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Em uma época que tanto se discute militares no poder, impeachment de uma presidente, o golpe ou não golpe de um partido que deveria ser aliado do governo e tantas outras questões nebulosas sobre a política nacional, Jango se torna um documentário indispensável para quem busca entender os trâmites do jogo de poder imposto por aqueles que deveriam se preocupar com a nação e não suas picuinhas pessoais. Depois de assistir, fica impossível não imaginar o Brasil como um grande espelho de House of Cards ou, ainda mais, de um pernicioso jogo de tronos.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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