Crítica


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Sinopse

Da infância pobre na Carolina do Sul ao sucesso estrondoso nos palcos. James Brown, conhecido como O Padrinho do Soul, se transformou num dos artistas mais importantes do século 20.

Crítica

Chadwick Boseman já havia chamado atenção, principalmente entre o público norte-americano, por sua atuação como o jogador de baseball Jackie Robinson em 42: A História de uma Lenda (2013) – filme que, apesar do sucesso de bilheteria por lá, permanece inédito nos cinemas do resto do mundo. Ele, no entanto, enfrenta um desafio ainda maior ao interpretar outra lenda do cenário artístico e cultural dos Estados Unidos como o personagem-título da cinebiografia James Brown. Pois se o esportista tinha seus méritos e fama junto a um público específico, Brown foi um verdadeiro fenômeno global, conhecido e imitado por milhares, e compor sua versão ficcional certamente não foi das tarefas mais fáceis. Até por isso, entende-se porque o filme não alcançou o sucesso esperado.

O diretor Tate Taylor também era uma aposta em alta para comandar este projeto. Afinal, seu trabalho anterior, o drama racial Histórias Cruzadas (2011), não só arrecadou mais de US$ 200 milhões nas bilheterias de todo o mundo como recebeu ainda quatro indicações ao Oscar, inclusive a Melhor Filme (ganhou como Melhor Atriz Coadjuvante, para Octavia Spencer). Mas se neste filme as fragilidades do realizador já eram visíveis para os olhos mais atentos, em James Brown elas se tornam ainda mais evidentes. Afinal, ele tinha em mãos uma trajetória incrível, do garoto negro e pobre, abandonado pela mãe e pelo pai, que mesmo assim conseguiu vencer na vida vendendo mais de 100 milhões de discos e lançando moda por onde passou, se tornando uma figura icônica tanto pela música quanto pelo estilo. E isso sem falar nas complicações familiares, no envolvimento com drogas e bebidas e nos problemas que teve com a polícia ao longo dos anos. Ou seja, material havia aos montes. Faltou apenas um foco específico para melhor explorá-lo.

O que Taylor entrega ao público é quase um telefilme, uma obra convencional e chapa branca, que não emociona e nem surpreende na maior parte do tempo. Situações que deveriam causar maior comoção, como o reencontro com a mãe, a explosão violenta com a esposa ou a perda de um dos filhos são tratadas com desleixo e irrelevância, como se não houvesse tempo para se ater a um ou outro episódio com maior detalhamento. E isso que estamos falando de um filme com 139 minutos de duração! Mais enxuto, melhor editado – o vai e vem temporal não se justifica, funcionando apenas para desligar o espectador da ordem dos acontecimentos – e direcionado ao que realmente importa – a personalidade tempestiva e o gênio criativo do protagonista – e assim teríamos um longa à altura do homenageado. Assim como foi Ray (2004) ou Johnny & June (2005), referências bastante óbvias e muito superiores.

O que não quer dizer que James Brown seja um erro completo. Boseman é, de fato, um acerto, e sua performance como o rei do soul é quase espiritual. Os trejeitos, a voz rouca, os cortes de cabelo – está tudo lá. Ele, que em breve será o herói Pantera Negra, da Marvel, tem aqui seu melhor trabalho nas telas até esse momento, confirmando-se como mais do que uma mera revelação. Do restante do grande elenco, Viola Davis e Octavia Spencer (ambas parceiras de longa data do diretor) fazem participações rápidas como a mãe e a tia, respectivamente, e ambas se esforçam na carga dramática para fazer valer suas presenças, porém sem muito efeito. Dan Aykroyd – que atuou ao lado do próprio James Brown no cult Os Irmãos Cara de Pau (1980) – faz uma aparição afetiva como o empresário que o descobre no início da carreira, mas também sem se destacar muito. E o que permanece no final é o registro de uma vida cheia de conflitos, perdas e vitórias, da qual tem-se apenas uma ideia, mas não muito além daquilo que qualquer tabloide da época ou pesquisa rápida no Google possa apontar sem muito trabalho.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
5
Francisco Carbone
2
MÉDIA
3.5

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