Homo Sapiens
Crítica
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Sinopse
Sobre a finitude e fragilidade da existência humana e do fim da era industrial e o que significa ser um ser humano. O que restará de nossas vidas após o fim? Espaços vazios, ruínas, cidades cada vez mais cobertas de vegetação, asfalto em ruínas: as áreas que atualmente habitamos, embora a humanidade tenha desaparecido. Agora abandonada e decadente, gradualmente recuperada pela natureza após terem sido roubadas há tanto tempo.
Crítica
Exibido no Festival de Berlim em 2016 e, posteriormente, na 5ª edição do festival paranaense Olhar de Cinema, este trabalho do diretor austríaco Nikolaus Geyrhalter chamado Homo Sapiens tende a despertar três tipos de sentimento/reação no espectador. Isso, claro, se o espectador em questão tem cabeça aberta e inclinação para um cinema menos narrativo e mais filosófico. São eles:
Frustração: ao se deparar com as primeiras cenas, logo descobrimos (ou inferimos) que o longa-metragem será inteiramente construído de enquadramentos fixos, com pouco movimento no quadro, sem qualquer tipo de diálogo ou música. O que Nikolaus Geyrhalter deseja mostrar é um mundo sem a presença humana, com a natureza pouco a pouco tomando seu lugar de direito, apagando os traços da nossa presença. Embora um conceito interessante, o ritmo das imagens deve afastar boa parte do público. São cenas que duram, em média, 20 segundos, mostrando ruas, igrejas, indústrias, campos, restaurantes, observatórios, todos abandonados, apenas com o barulho e a eventual presença física de um pássaro ou inseto.
Aceitação: ok, estamos no cinema conferindo um filme altamente conceitual. Vamos dar chance e tentar absorver o máximo possível da experiência. Esse processo é mais fácil em um evento propício para esse tipo de fruição. Homo Sapiens é o legítimo filme de festival (e não de qualquer um, é verdade). Com um público com maior propensão a abraçar o diferente, o longa de Geyrhalter é melhor absorvido.
Arrebatamento: depois que você aceita o filme como ele é, fica mais fácil se deixar levar pelas imagens. Homo Sapiens carece de ritmo e é deveras repetitivo em sua proposta. No entanto, é maravilhosamente bem fotografado. Cada pequena cena se revela de uma beleza estética ímpar, arrebatando o espectador com sua plasticidade. Ponto para o cineasta e sua equipe, que além de conceberem sequências visualmente belas, fizeram um excelente trabalho na procura de locações. Destacam-se uma bonita e pungente cena com a luz solar entrando em uma janela de igreja e a forma como um prédio com arquitetura circular consegue virar uma grande obra de arte, dependendo apenas do ângulo que se olhar. O desenho sonoro é outro predicado que não passa despercebido, servindo com uma camada a mais de entendimento para aquela situação aparentemente pós-apocalíptica. Se for divertido para o espectador, ele pode até tentar imaginar o que houve com os humanos. O filme mostra algumas máscaras de gás e tanques de guerra, o que poderia supor um final da espécie bélico. Ou, talvez, a natureza resolveu jogar contra nós. Escolha seu enredo e embarque.
Ao final de Homo Sapiens, é verdade que o sentimento de frustração retorna. Com 94 minutos de duração, Nikolas Geyrhalter desafia a paciência até do espectador melhor preparado. Ainda mais quando é notório que um curta – vá lá, um média-metragem – teria alcançado basicamente o mesmo resultado. Não é necessário diálogo algum para entendermos a mensagem do filme em seus primeiros 10 minutos, com o restante sendo uma repetição da ideia. Com isso, Homo Sapiens se mostra um filme belo, porém redundante.
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